Big Show Manuela! Como a seríssima ministra envolvida no caso dos estudantes de "traseiro à mostra" se transformou numa vedeta do humor
Foram 13 minutos de 'risota' ao estilo que Ricardo Araújo Pereira tanto estima no seu programa 'Isto É Gozar com Quem Trabalha', na SIC. A antiga ministra e ex-líder do PSD deu um bailinho de humor ao anfitrião e levou a plateia às lágrimas. Com o seu ar seráfico e o cabelo impecavelmente fixado em laqué, do alto dos seus 83 anos, a nossa eterna "dama de ferro" deu uma lição a quem a dava como acabada. Touché!
Aos 83 anos, a economista Manuela Ferreira Leite está mais solta do que nunca. Mãe, avó e afastada das lides políticas, a comentadora televisiva de política e assuntos económicos na CNN, foi ao programa de Ricardo Araújo Pereira na SIC e gozou, literalmente, sem peias, com quem trabalha. A antiga secretária de Estado do Orçamento e polémica ministra da Educação nos tempos dos governos de Cavaco Silva, e mais tarde a rigorosa ministra das Finanças, a quem chamavam a Margaret Tatcher portuguesa (uma analogia, quiçá, ao penteado armado de ambas), durante dois anos ao lado de José Manuel Durão Barroso, deu um show de humor que até surpreendeu o anfitrião, levando-o ao riso e às lágrimas. Enquanto a plateia ia ao rubro.
A também primeira mulher (e única até à data) a presidir ao PSD (2008 a 2010), acabou por entrar na brincadeira de Ricardo Araújo Pereira quando este a "acusou" de querer "abarbatar" todos os cargos políticos, depois de elencar os mais importantes que desempenhou. "Foi a primeira mulher a ser ministra da Educação. A primeira a ser ministra das Finanças. A primeira mulher a liderar um partido. A minha pergunta é: 'Portugal tem um problema de género ou problema é a senhora doutora se abarbatar com todos os cargos?'", questionou, tendo recebido uma resposta à altura e que não esperava: "O Ricardo não me conhece bem, eu adoro sarilhos. Dá-me alento e ânimo estar metida num sarilho. Não ia deixar essas zonas tão apetitosas para outra pessoa qualquer, já agora vou lá eu. Não há zonas mais perigosas do que essas três".
CACHÉ DIVIDIDO E DESRATIZAÇÃO
No seguimento de umas declarações do eurodeputado Paulo Rangel, recordadas por Ricardo Araújo Pereira de Ferreira Leite não foi eleita primeira minista em 2009 porque tinha alguns defeitos. A visada no comentário não só confirmou tê-los, como ainda fez uma piada que desmanchou o entrevistador e o deixou abananado. "Eu tenho imensos defeitos, aliás sou tipo Worten, tenho todos e mais alguns", disse, com ar maroto, à espera da reação de Ricardo, o rosto da marca de grande consumo".
Este, após uma breve pausa e um sorriso discreto, retorquiu: "Agora vou ter que dividir o caché com a senhora doutora. É por isso que percebe de finanças", não ficando sem resposta - "Foi por isso que aceitei o seu convite". Mais risos na plateia, mais sorrisos de Ricardo Araújo Pereira que estava com cara de quem pensava que a convidada lhe tinha saído melhor do que a encomenda.
Tanto que quando questionada sobre quanto tinha custado a "desratização" do PSD para o partido se "livrar" dos militantes que desertaram para o Chega, esta disparou: "Não há nenhum dinheiro que pague a desratização".
Ó RICARDO, ISSO É "UM ABUSO"
Questionada pelo anfitrião sobre se foi ela a militante culpada pelo desaparecimento do líder do PPM Gonçalo da Câmara Pereira que no passado fez vários comentários misóginos, a comentadora televisiva e primeira convidada do 'Isto é Gozar com Quem Trabalha!' Especial Eleições 2024, respondeu: "Não faço ideia se foi uma militante do PSD que se lembrou de mandar o Gonçalo da Câmara Pereira para casa. Não faço ideia porque tenho estado muito preocupada com as pessoas que aparecem e não com as que desaparecem. Não faço ideia o que é a vida dele, sei que têm aparecido muitas pessoas inesperadas".
O anfitrião decide mudar de tema e é então que a breve entrevista de 13 minutos começa a resvalar para o 'non sense' e boas tiradas de humor por parte da convidada. Ricardo Araújo Pereira afirma que Manuela Ferreira Leite é "pensionista" e ela responde-lhe à letra: "Para já é um abuso da sua parte pensar que eu sou pensionista. Deitou-se a adivinhar, mas podia adivinhar que daqui a uns anos poderei ser… Foi um pouco indelicado da sua parte".
AI, AI, OS TRASEIROS AO LÉU
Ricardo tenta dar a volta ao texto, ainda brinca que pensou nisso porque a interlocutora tinha sido ministra da Educação há 30 anos, e ai e tal, e retoma à pergunta que lhe queria fazer em tom provocativo: "Por ter sido ministra da educação há 30 anos, vai pedir desculpa por ter sido responsável pela geração de políticos que agora está a chegar ao poder?" Ao que esta respondeu: "Se eu tiver que pedir desculpa a todos, quer dizer que todos estão péssimos. Portanto têm feito todos uma figura que não ilustra o ensino que receberam. Eles têm sido bastante competentes, para estragar não há como eles".
À baila acabou por vir também um dos episódios que marcou a Geração Rasca, como lhe chamou num editorial do jornal Público o diretor Vicente Jorge Silva, e que ocorreu em 1994, na universidade de Lisboa, quando um grupo de estudantes baixou as calças expondo rabos. Era o momento alto da contestação ao aumento das propinas, proposto pelo governo de Cavaco Silva, e que atingia estudantes universitários e do ensino secundário e se fazia sentir em manifestações e protestos por todo o país.
Trinta anos depois Ferreira Leite encara o tema com naturalidade e até disserta sobre ele com alguma sabedoria, lamentando a falta que faz um bom protesto: "
ISTO É GOZAR COM AS ELEIÇÕES
Espectadora atenta da realidade política e económica atual, nem os comentadores políticos seus colegas nas televisões nacionais escaparam à crítica e ao humor da ex-ministra que não aceita ser catalogada como "pensionista". "Eu fiz umas contas, e cheguei à conclusão que, em 22 debates, no mínimo há 60 horas de comentário sobre os debates, o problema é que uns dizem uma coisa e outros diretamente o contrário, ficamos sem saber se mudou o debate ou se foi erro de gravação. É muitíssimo útil, baralha as ideias, e elucida-nos porque sozinhos, o que podemos fazer?", lamenta.
E depois, sem que nada o fizesse prever, começou a descrever um cenário cómico dos indecisos, coitadinhos cada vez mais indecisos com os comentários divergentes dos comentadores. Mas leiamos o que disse a antiga Dama de Ferro: "Tenho um certo receio em relação aos indecisos. Tenho receio que a indecisão chegue até à mesa de voto. E com tanto indeciso a ir à casinha onde se põe a cruz, vai ser complicado. Não digo umas horas, mas uma boa meia hora pode demorar. E depois como é que se tira de lá a pessoa? Ela diz que com aquela informação toda não decidiu, que estava mais inclinado para um, mas depois ouviu no caminho um comentário feito ao contrário. A probabilidade de ter que se alargar o período de votação é muito grande. Duvido que desta vez as urnas fechem à hora certa". "Se as pessoas não vão assim tão elucidadas quer dizer que os comentários não foram bons", remata.