_

- Lei Transparencia - Ficha técnica - Estatuto editorial - Código de Conduta - Contactos - Publicidade
Notícia
THE MAG - THE DAILY MAGAZINE BY FLASH!

Nem o tempo nem os milhões acalmam a dor. 13 anos depois, as vidas destruídas do acidente que vitimou Angélico Vieira

Treze anos depois, as vidas daqueles que estiveram ligados ao acidente que vitimou Angélico Vieira continuam marcadas pela dor. Hugo Pinto sofreu apenas ferimentos ligeiros, mas diz que há uma tristeza que o vai acompanhar para sempre e as sequelas com que Armanda Leite fizeram com que os seus sonhos tivessem de ficar pelo caminho. Já Filomena Vieira luta para riscar os dias no calendário, que perdeu o sentido sem o seu único filho. No meio da tristeza, houve processos milionários a decorrer na Justiça, mas para estas pessoas nada voltará a ser igual.
Por Rute Lourenço | 03 de setembro de 2024 às 20:23
Filomena Vieira, Angélico Vieira e Armanda Leite Foto: Flash

Quem acompanhou as notícias às primeiras horas da manhã do dia 25 de junho de 2011 recorda-se bem do impacto que tiveram e do quanto deixaram Portugal em choque. Angélico Vieira, um talentoso ator e músico que marcou a sua geração, conduzia, nessa madrugada, do Porto para Lisboa quando o pneu do BMW rebentou, em plena A1. O cantor perdeu o controlo da viatura, que capotou várias vezes, num cenário de destruição.

Hélio Filipe foi atropelado e teve morte no local, enquanto Angélico e Armanda Leite foram transportados para o Hospital de Santo António, no Porto, em estado crítico. Hugo Pinto foi o único a sair ileso do trágico acidente,  com ferimentos ligeiros, ainda que com marcas que guardará para sempre. 

pub

"Esta tristeza vai acompanhar-me até ao fim da minha vida. O Angélico era meu amigo, meu colega de trabalho… Penso nele e no que aconteceu todos os dias. Uma tragédia destas nunca se esquece. Estou vivo por milagre", disse o jovem recentemente em tribunal no processo que condenaria os pais de Angélico, Filomena e Milton Vieira, em conjunto com a Impocar – o stand de automóveis que emprestou o carro, sem seguro, ao cantor – e o Fundo de Garantia Automóvel a pagarem uma indemnização de 1,3 milhões a Armanda Leite, que sobreviveu à tragédia, mas com sequelas e uma vida condicionada para sempre.

Angélico Vieira Foto: Direitos Reservados
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
armanda leite, modelo, acidente, angélico vieira Flash
D'ZRT, Edmundo Vieira, Paulo Vintém, Cifrão, Angélico Vieira Flash
O carro em que Angélico seguia ficou completamente destruído Flash

A morte de Angélico acabaria por ser declarada pelo hospital três dias depois da tragédia, enquanto o País sustinha o fôlego com esperança de notícias sobre um dos ídolos da geração 'Morangos', mas nada havia a fazer pelo jovem, que entrou em coma profundo no acidente.

pub

"Estávamos a conversar e de repente ouviu-se um estrondo na parte de trás e o carro entrou em despiste. Subimos um lancil de terra e depois capotámos. O Angélico gritou 'segurem-se' assim que se ouviu o estrondo. Toquei–lhe para ver como estava, mas não via nada com o fumo…", disse Hugo Pinto, adiantando que chamou várias vezes por Angélico, mas que o cantor já não respondeu.

É a única pessoa que tem memória do que aconteceu, uma vez que Armanda Leite nem hoje consegue recordar os momentos que antecederam o acidente, tudo o que sabe foi através daquilo que lhe relataram nos anos que se seguiram. A jovem angolana tinha chegado à Portugal há seis meses e queria começar uma carreira na moda. Angélico deu-lhe a mão e Armanda iria participar no seu próximo videoclipe... até que se deu a tragédia. Tinha então 17 anos.

pub

Passou os três meses seguintes em coma, e dois anos e meio entre internamentos e fisioterapia constantes. Os médicos diziam ao pai que jamais recuperaria, mas Armanda agarrou-se à vida e todos os dias celebra pequenas vitórias. Recuperou a fala e consegue dar alguns passos, ainda que auxiliada, mas depende de uma cadeira de rodas para a locomoção e do pai, José Eduardo Leite, para quase tudo.

Esta semana, estiveram no programa de Manuel Luís Goucha, na TVI, e nenhum dos três (apresentador incluído) conseguiu esconder a emoção pela história de resiliência de um pai e de uma jovem que viu os seus sonhos destruídos quando é suposto estes começarem a ganhar vida.

pub

"Estive em coma durante três meses, quando saí não me lembrava de nada ou quase nada, só tomei consciência muito tempo depois. Porque é que tinha de me acontecer isto? Tinha muitos sonhos e perdi-os de um momento para o outro", lamentou Armanda, que perdeu a mãe aos 7 anos de idade.

O pai, que vivia em Angola, não hesitou em mudar toda a sua vida para estar ao lado da filha e assumiu-se desde a primeira hora como cuidador a tempo inteiro. "Fiquei muito impressionado quando a vi, ela estava desfigurada e os médicos não me davam esperança nenhuma. Mas algo me dizia que ela ia recuperar", conta o pai que, após o acidente, iniciou uma demanda judicial para lutar pelos direitos da filha e tentar perceber o que aconteceu.

pub

"Estive no local do acidente. A GNR mostrou-me o pneu que rebentou, e isso foi importante para mim, perceber que não tinha sido culpa do motorista. O próprio angélico assustou-se com o rebentamento do pneu e pôs o pé no travão. A Armanda ia a dormir não deu conta de nada. Aquilo foi uma falha, não foi erro do motorista", conta o pai, que com a indemnização tenta acautelar o futuro de Armanda quando ele já cá não estiver para assegurar a sua subsistência

"O dinheiro, aqui, é para a sobrevivência da Armanda. Só quero que defendam os direitos da Armanda, foi o que disse aos advogados. Nunca estive à espera do dinheiro da família do Angélico. A única coisa que podia pedir à família do Angélico era: 'Ajudem-me a ajudar à Armanda'", já disse no passado, sugerindo que, depois do acidente, não ficou nenhuma ligação entre todos. "Gostava de dizer à família do Angélico que nós estamos aqui e que continuamos a ser amigos deles e queremos tudo de bom para eles, que corra tudo bem e que, no que precisarem de nós, estamos aqui."

pub
Armanda Leite Foto: Flash

O VAZIO DA MÃE DE ANGÉLICO

Só que do outro lado também houve vidas que perderam o sentido. Filomena Vieira só teve um filho e vivia orgulhosamente para Angélico. Nunca conseguiu reerguer-se. A dor é visível no seu rosto de cada vez que fala sobre o 'menino dos seus olhos'. 13 anos depois da tragédia, deixou de trabalhar e assume que os seus dias são apenas uma sucessão de acontecimentos que não planeia, que a vida passou a ser outra coisa.

pub

"A dor de perder um filho não tem explicação, não há palavras para definir o enorme vazio que sinto. Naquele dia, em poucos segundos perdi tudo o que tinha. Aprendi que temos de viver um dia de cada vez, não sabemos o que vai acontecer amanhã, cada momento pode ser o último", fez saber Filomena, em entrevista, acrescentando que pouco se lembra sobre os dias mais trágicos da sua vida.

angelico vieira, filomena vieira Flash
angelico vieira, filomena vieira Flash
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media
Filomena Vieira Angélico Foto: Cofina Media

"Tenho poucas lembranças daqueles dias. Admito que deveria estar sob o efeito de calmantes, não sei se calhar só assim poderia aguentar tudo aquilo. Nunca vou esquecer o que aconteceu, mas acredito que um dia vou aceitar. Tenho de o fazer, não posso viver de outra forma".

pub

Os últimos anos foram passados muitas vezes em tribunal, por causa da indemnização a Armanda Leite, num processo que a obrigava constantemente a recordar a dor de ter perdido o único filho, mas neste percurso nunca esteve sozinha.

Os amigos de Angélico continuam a ligar-lhe e há quem lhe bata frequentemente à porta, naquela que é mais do que uma visita, é das memórias mais próximas do filho que pode manter. Rita Pereira foi uma das namoradas mais conhecidas do cantor e diz-se que na altura do acidente estariam prestes a reatar. A atriz foi e continua a ser o ombro da antiga sogra, numa amizade que resiste a tudo.

Rita Pereira e Angélico Vieira Flash
Rita Pereira e Angélico Vieira Flash
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
Rita Pereira e Angélico Vieira Foto: Cofina Media
D'ZRT, Edmundo Vieira, Paulo Vintém, Cifrão, Angélico Vieira, Rita Pereira Flash
pub

"A Mena está sempre presente na minha vida. Falo muitas vezes com ela, trato de muitos assuntos dela e o Lonô trata-a por titi", já explicou Rita que, apesar de ter refeito a vida, nunca recuperou do coração partido.

Nesta altura, custará aceitar a todos os envolvidos, direta ou indiretamente, na tragédia que já passaram 13 anos desde que acordaram com aquela horrível notícia. Porque o tempo nem sempre cura tudo e aqui não há dinheiro, sejam milhares ou milhões, que devolva os sorrisos e sonhos roubados naquele dia 25 de junho, de memórias dolorosas.

pub
pub
pub
pub
pub

C-Studio

pub