Pinto da Costa puxa dos galões e assina como presidente. Debilitado e de cadeira de rodas, promete guerra até ao fim
Depois de um período mais incapacitante da doença, Pinto da Costa já sai de casa, com recurso a uma cadeira de rodas e mostra estar de volta ao 'ativo' com um novo ataque a Villas-Boas. Fontes ligadas ao antigo dirigente, admitem, no entanto, que nesta fase nem tudo é obra de Pinto da Costa e que há alguém a manobrar nos bastidores.Desde o aniversário que quase não se ouvia falar nele. Depois de se ter reunido com os amigos num conhecido restaurante nas Antas para celebrar o seu 87º aniversário, Pinto da Costa manteve-se em casa a braços com a sua luta contra o cancro. Dizia-se, então, que o seu estado de saúde se agravava a cada dia que passava e quando foi intimado a responder em tribunal, no âmbito do processo Pretoriano, foi a mulher, Cláudia Campo, a entrar em contacto com o juiz para garantir que o marido não estava em condições para sair de casa, descrevendo o seu estado como incapacitante.
Foi a meio de janeiro, mas um mês volvido, Pinto da Costa dá agora mostras de algumas melhorias. Esta semana, foi fotografado pelo Correio da Manhã numa saída, com o amigo Fernando Póvoas. Apesar de se deslocar com recurso a uma cadeira de rodas, o facto de se ausentar de casa mostra que o seu estado anímico está a melhorar. E se dúvidas houvesse, o seu comunicado mais recente dissipou-as.
Acusado de deixar o clube que liderou durante mais de quatro décadas numa ruína financeira, de ter desenvolvido esquemas e falcatruas financeiras, e da polémica auditoria que denunciou que ele e outros administradores utilizariam os cartões de crédito do FC Porto para comprar joias, pagar obras em casa, contas de supermercado e outros fins pessoais, Pinto da Costa saiu do morno silêncio em que se encontrava para uma contra-resposta a André Villas-Boas.
"Ao longo dos últimos meses tenho mantido o silêncio perante os ataques que me têm sido dirigidos procurando, assim, contribuir para a preservação do bom nome do FC Porto e para não suscitar instabilidade. Assisti no estádio aos primeiros jogos, tendo recebido inúmeras manifestações de carinho, mas que não foram bem entendidas por alguns. O silêncio deixa, assim, de ser uma opção, numa altura em que se torna por demais evidente o objetivo de denegrir o caráter, o trabalho e o legado de quem dedicou longos anos ao serviço do clube", afirmou num comunicado em que garante que a auditoria às contas foi manipulada para o lado que mais convinha à atual direção entre outras polémicas das quais fez questão de se retratar, mostrando que com Villas-Boas haverá guerra até ao fim.
No final, o modo que terminou o comunicado não passou despercebido, com Pinto da Costa a fazer questão de assinar como Presidente Honorário do FC Porto, um título que possui desde 1986 e que lhe dá direito, de acordo com os regulamentos estatutários do clube, a integrar, por exemplo, o Conselho Superior do FC Porto. Ao puxar dos galões, Pinto da Costa dá, assim, um murro na mesa para lembrar que ainda tem uma palavra a dizer no seu clube do coração e que não vai fazer a vida fácil à direção de André Villas-Boas.
O comunicado gerou alguma surpresa, principalmente perante o estado atual de Pinto da Costa. Fontes ligadas ao portista garantem, também, que apesar de o ter assinado na primeira pessoa, há mais mãos por detrás do mesmo. "Apesar de sair de casa, continua muito fragilizado, e por isso este comunicado é tanto dele como daquelas pessoas que estiveram com ele no clube e que perderam protagonismo, e dinheiro com a saída do Pinto da Costa", diz uma fonte, acrescentando que muitos consideram que Pinto da Costa se deveria remeter ao silêncio. "Há várias questões aqui. Ainda há um mês, não respondeu em tribunal, mas agora já quer falar. Não há muita coerência, na verdade."
CADA VEZ MAIS SOZINHO
Depois de deixar a presidência do FC Porto, Pinto da Costa mostra-se cada vez mais isolado, contando apenas com a mulher e os dois filhos - com o mais velho fez recentemente as pazes - e os poucos amigos que não lhe viraram costas, sendo que o médico Fernando Póvoas é dos poucos que se mantém a seu lado.
Aliás, o próprio nutricionista foi o primeiro a alertar para o facto de muitos daqueles que durante anos a fio rodearam e endeusaram o antigo líder azul e branco lhe terem virado costas assim que perdeu o poder. "Espero que os amigos, os verdadeiros, continuem a querer almoçar com ele, a dar-lhe apoio, mas já sabemos como é que estas coisas são. Quando somos presidente temos muito amigos, quando deixamos de o ser metade atravessa a rua e passa para o outro lado do passeio", afirmou.
Os mais próximos não têm, inclusivamente, dúvidas que, além da doença, o cancro da próstata, ter progredido, todas as mudanças que lhe foram impostas e, principalmente, o facto de ter perdido as funções no clube, fizeram com que o diagnóstico ganhasse forças, alavancado por um estado depressivo de Pinto da Costa.
Apesar do desânimo, promete, no entanto, não baixar os braços para defender a sua reputação e o clube a quem dedicou grande parte da sua vida.