
Polémicas, dívidas, um pastor evangélico e até uma queixa por abuso sexual... Conheça a 'caderneta de cromos' dos deputados do Chega
Com mais de 1 milhão de votos, o partido de André Ventura quadruplicou a representação parlamentar. Os 12 deputados anteriores mantêm-se, mas há muitas caras novas a juntar-se ao hemiciclo mais à direita, nem todos estão livres de polémicas...
Com o resultado obtido nas Legislativas, o Chega quadruplicou a presença no hemiciclo, contando agora com 48 deputados, face aos anteriores 12. O que quer dizer que há muitas caras novas que vamos ver no Parlamento. O processo de recrutamento foi feito ao longo do último ano, com André Ventura a repescar elementos junto de outras forças políticas, mas não só.
Entre os novos deputados, há quem se vá estrear totalmente no cargo, mas há também algumas caras conhecidas a ocupar o quadrante mais à direita do hemiciclo e outros nomes que têm dado que falar por terem associadas algumas polémicas. Nas redes sociais, em tom de brincadeira, já chamam ao grupo uma autêntica 'caderneta de cromos', porque de dívidas acumuladas, muitas polémicas e até um brasileiro bolsonarista, há um pouco de tudo a representar o partido de Ventura.
Conheça alguns dos rostos mais controversos que vão ter voz entre o grupo de deputados.
MARCUS SANTOS
A eleição de Marcus Santos como deputado do Chega foi até notícia no Brasil, onde os principais meios de comunicação dão destaque ao facto de este cidadão brasileiro, apoiante de Jair Bolsonaro, ter chegado ao Parlamento. Nas redes sociais, os seus discursos extremistas e incendiários são uma constante. "Dia da visibilidade trans. Até uma criança consegue enxergar a diferença entre uma bela mulher para um homem com peruca e batom", escreveu numa ocasião, enquanto noutra afirmava que "A Europa é dos europeus e África dos africanos". As polémicas prometem continuar agora com mais palco público. Marcus terá chegado ao nosso País em 2009, sendo que a mulher e a filha são portuguesas. A sua chegada ao hemiciclo foi até felicitada por um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo.
PEDRO PESSANHA
Licenciado em Gestão, Pedro Pessanha aparece como um dos nomes controversos entre os deputados do Chega. A polémica começou a fazer-se sentir nas redes sociais, quando em 2019 assinalou o 25 de Abril colocando no Facebook a foto de perfil de António Oliveira Salazar. Eleito pelo círculo de Lisboa, tem visto o seu nome associado a algumas controvérsias e até há uma queixa de violação a uma menor a ser investigada pelo Ministério Público. Há cerca de um ano, e depois de um casal ter acusado Pedro Pessanha de abuso sexual da suposta filha menor, a revista 'Sábado' confirmou a abertura de um inquérito ao caso por parte do Ministério Público. Apesar de toda a polémica, Pessanha garante estar inocente e avançou com uma queixa por difamação contra o casal, garantindo que as acusações são "hediondas".
"A informação que anda a circular não só é uma informação falsa e ridícula, mas é sobretudo nojenta e hedionda. Já apresentei queixa na PJ e segue agora para o Ministério Público. Serei implacável para com quem esteve na origem desta difamação sem sentido", explicou na altura Pessanha, que viu o caso despontar nas redes sociais, assumindo proporções gigantescas, com várias incongruências à mistura. O processo permanece nas mãos da Justiça.
CRISTINA RODRIGUES
É um rosto conhecido da política, tendo sido recrutada ao PAN. Na sua ligação ao partido, propôs aumentar o prazo legal para interrupção voluntária da gravidez de dez para 16 semanas, alinhando Portugal com outros países com uma legislação "mais favorável à proteção dos direitos" das mulheres, e afirmou-se como uma defensora dos direitos LGBT +. Porém, saiu do partido envolta em polémica, tendo sido constituída arguida no processo do 'apagão informático' de 2020, que teve como resultado a eliminação indevida de emails de dirigentes do PAN. No último ano, desempenhou o cargo de assessora Parlamentar do Chega e será uma das novas deputadas do partido, no Porto.
PEDRO CORREIA
E pela primeira vez vai haver um evangélico na Assembleia da República. Trata-se de Pedro Correia, vice-presidente da distrital do partido em Santarém, que já foi pastor na Nova Aliança Igreja Cristã de Rio Maior. Além disso, é ainda maestro e professor de música. "A religião no meu entender deve ser vista pelos valores, como a vida, a família, por exemplo. Há uma matriz judaico-cristã que vem da nossa ancestralidade como civilização ocidental. E é a partir daqui que eu consigo mexer-me nos meus ditames políticos", afirmou à 'Sábado, mostrando como a religião comanda e influencia a forma como olha para o panorama político.
JOÃO TILLY
Durante a pandemia, o seu nome andou nas bocas do mundo devido a algumas incongruências. Durante o pico da Covid-19, João Tilly foi um dos rostos mais visíveis do negacionismo, tendo publicado alguns textos no seu blogue em que justificava as suas convições. "Nunca na minha vida, mas nunca mesmo, eu me vacinaria ou vacinaria algum filho meu, se voltasse a ter mais algum. E por apenas um motivo: todos", escreveu, mas as convicções inabaláveis não durariam muito tempo para o deputado do Chega, cabeça de lista por Viseu. No dia 27 de julho de 2021, o professor de Matemática anunciou que tinha acabado de ser vacinado contra a Covid-19, com a vacina produzida pela Janssen. No Facebook, tem perto de 100 mil seguidores com os seus vídeos polémicos a serem muito partilhados.
RICARDO DIAS PINTO
O Chega afirma-se como um partido que promete revolucionar Portugal em vários assuntos-chave como a corrupção ou escândalos financeiros, mas alguns dos seus deputados, como Ricardo Dias Pinto, são conhecidos por terem visto o seu nome inscrito na lista Pública de Execuções por causa de uma dívida de 14.835,51 euros.
FILIPE MELO
Também Filipe Melo, deputado por Braga, viu o seu nome ir parar à Lista Pública de Execuções devido a três dívidas que não conseguiram ser cobradas, num total de 80 mil euros. No ano passado viu o salário pago pela Assembleia da República penhorado, por uma dívida de 15 mil euros a um colégio católico de Braga.
Além disso, o deputado eleito pelo círculo de Braga esteve ainda envolvido numa polémica ao escrever uma publicação no Facebook sobre Cibelli Pinheiro de Almeida, a então presidente da Mesa da Assembleia Distrital, de cariz xenófobo: "Não vai ser uma brasileira que vai mandar nos destinos de um partido nacionalista, patriótico. Nunca, não permitirei." Alertado, acabaria por substituir a palavra 'brasileira' por 'senhora'.