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A herança escondida de Pinto da Costa. Quanto amealhou afinal o antigo presidente do FC Porto e qual é a dimensão da fortuna que só uma mulher irá herdar

Pinto da Costa passou metade da sua vida como presidente do FC Porto. Dos rendimentos declarados até àquilo que dizem que ganhou, mas que ninguém sabe ao certo quanto é nem onde está, há milhões de dúvidas, que uma investigação em curso levada a cabo pelo Ministério Público poderá ajudar a esclarecer. Um património que, no futuro, ficará quase todo nas mãos de uma pessoa, agora que o filho do antigo dirigente está fora da jogada.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
29 de agosto de 2024 às 21:25
Pinto da Costa com a mulher, Cláudia Campo
Pinto da Costa com a mulher, Cláudia Campo Foto: Medialivre

Se levássemos à letra tudo aquilo que Pinto da Costa diz, a leitura do seu testamento traria aos mais próximos uma desagradável sensação de surpresa. É que o antigo presidente dos dragões, de 86 anos, já fez saber, em mensagens deixadas aqui e ali, que a sua conta bancária é tão plana como o rio Douro e que não há lá milhões, nem tão pouco milhares para contar, mas sim uns míseros tostões.

Quando, no passado, em entrevista ao 'Expresso', foi questionado sobre o prémio anual que tinha recebido do FC Porto e que ascendia aos 700 mil euros (isto foi em 2010, o valor foi sempre aumentando desde então), Pinto da Costa desvalorizou o assunto. "Não faço ideia se isso é verdade. Sinceramente. Sei é que de impostos pago uma loucura. Este ano, vou ter de pagar 70 mil euros - e não tenho dinheiro no banco para o pagar, mas hei-de pagar, porque não quero notícias a dizer que o presidente do FC Porto foge ao fisco", disse. E quando a publicação lhe perguntou diretamente sobre qual era o seu saldo bancário, o antigo líder azul-e-branco recriou a conversa do 'pobrezinho'. "Tenho sempre muito pouco".

O discurso parece estar na moda, como mostrou há pouco tempo Roger Basile, filho de Betty Grafstein, para garantir que a mãe não tinha um tostão, em entrevistas que nos fazem a todos sentir um pouco mais estúpidos pela hipocrisia que muitas vezes acarretam.

No caso de Pinto da Costa, podemos fazer as contas oficiais assim muito por alto. Então, se ele esteve 42 anos à frente do FC Porto e, se pelo menos desde 2009, altura em que as contas do clube aparecem discriminadas nos meios de comunicação social, recebeu sempre um prémio anual que oscilou entre os 700 e os 1,1 milhões de euros, esse valor terá sido chapa ganha, chapa gasta? Os mais próximos duvidam muito que isso tenha acontecido porque fora um ou outro investimento imobiliário,  os custos de um estilo de vida a comer em bons restaurantes e mais umas quantas joias que, de vez em quando, se entusiasmava a dar às namoradas, Pinto da Costa nunca foi um homem de gostos muito extravagantes.

E como dissemos atrás, estas são umas contas muito, muito superficiais, provavelmente uma migalha num oceano, porque é apenas aquilo que vem em ata e todos sabemos, devido às investigações levadas a cabo pelo Ministério Público, ou intuímos, por críticas deixadas pela atual presidência de André Villas-Boas, que a transparência poderá não ter sido o forte da antiga gestão, que terá deixado apenas oito mil euros nos cofres do FC Porto.

"Dívida? Sempre houve. Dizem que ficaram oito mil euros na conta... O que deixámos foi 50 milhões de euros que vamos receber por irmos ao Campeonato do Mundo de clubes e um contrato de 65 milhões com a Ithaka, que o melhoraram à custa dos sócios. Só aí tinham mais de 100 milhões de euros. Depois, ainda agora venderam o Evanilson por 37 milhões. É património que deixámos. Eu deixei 69 títulos no futebol, 2560 nas modalidades, um estádio que fizemos, um museu que fizemos, um pavilhão que fizemos, e a maior parte dos dias da minha vida", justificou em entrevista à TVI.

OS 40 MILHÕES DESAPARECIDOS

Neste momento, Pinto da Costa encontra-se a lutar contra um cancro na próstata e a situação é delicada. Na primeira entrevista que deu sobre o assunto, e que vem confirmar a notícia avançada pela TV Guia, o antigo dirigente portista não quis adiantar qual é a expectativa em relação ao tempo de vida que tem pela frente, mas, e a julgar pelo ritmo nem sempre acelerado da Justiça, poderá não ser o suficiente para ver concluído o grande processo que decorre para averiguar onde estão cerca de 40 milhões de euros, desaparecidos e que envolvem um alegado esquema de 'retorno a casa' na comissão de venda de jogadores.

Não sabe exatamente do que falamos? O processo é complexo e, na verdade, terá sido a principal razão pelo qual Pinto da Costa e o filho, Alexandre, cortaram relações.

Alexandre Pinto da Costa
Alexandre Pinto da Costa

Em 2021, o Ministério Públicio anunciou a abertura de vários inquéritos para que Pinto da Costa, o filho Alexandre e o empresário Pedro Pinho explicassem uma série de negócios de jogadores, com os quais teriam obtido ilegalmente vários milhões de euros, numa quantia que ascenderia aos 40 milhões. O esquema teria sido perpetuado durante mais de dez anos.

No despacho, que foi divulgado pela 'Sábado, o procurador Rosário Teixeira referiu que, desde 2012, que o presidente do FC Porto, o filho e  Pedro Pinho "desenvolveram um esquema destinado a gerar proveitos indevidos", alegadamente desviando dinheiro dos cofres do FC Porto, com base na transferência de jogadores. 

"Para colocarem jogadores no FC Porto ou venderem jogadores do FC Porto, os agentes aceitam devolver aos dirigentes desportivos do mesmo clube, designadamente a Jorge Nuno Pinto da Costa, parte dos montantes cobrados pela sua intervenção como intermediários nesses negócios", pode ler-se no despacho. Ora, tudo trocado por miúdos significa basicamente que este era um esquema em que todos ganhavam, especialmente os três arguidos, e às vezes 'até mesmo' o FC Porto.

A revelação gerou um novo corte entre pai e filho com o dinheiro a motivar a divergência e nem a doença de Pinto da Costa aligeirou a situação. "Não há pazes, não há uma aproximação", confirma uma fonte, à nossa publicação, para garantir que pai e filho estão, até à data, irremediavelmente de costas voltadas. "É um nome no qual não se pode falar", conclui a mesma fonte.

JOANA, A LEGÍTIMA HERDEIRA

Com a guerra aberta com o filho, Joana assume-se como a legítima e única grande herdeira da fortuna do pai, sendo que em testamento é certo que Pinto da Costa irá dispor de parte dos seus bens para mimar outros membros da família e a atual mulher, Cláudia Campo, companheira de muitas horas difíceis, não será esquecida.

Ainda assim, é a Joana, fruto do casamento com Filomena Morais, que caberá a gestão da herança de Pinto da Costa (seja lá qual ela for). É curioso pensar que, no passado, pai e filha também já tiveram as suas divergências e que Joana nem sempre soube entender a forma apaixonada (e depois desapaixonada) como o pai vivia os seus relacionamentos amorosos, ou os terminava abruptamente, mas na altura ela era muito jovem, as escolhas de Pinto da Costa também magoaram a sua própria mãe e o assunto foi difícil de digerir em família.

A maturidade acabou por trazer outra proximidade entre pai e filha, os problemas do passado foram perdoados e a chegada dos netos consolidou esta ligação, que agora, dizem os mais próximos, é à prova de tudo. Hoje, Joana é mais do que uma filha, é cúmplice, é o ombro, a menina dos olhos do pai, de quem este se aproxima nas horas mais difíceis, apesar de a tentar proteger delas. A família é, aliás, o seu grande pilar.

Amigos, como o próprio já disse, não ficaram assim tantos porque todos sabemos que a ausência do poder costuma retirar sex apeal às pessoas, mas revelar-lhes algumas verdades que até estavam bem visíveis mas que o brilho ofuscava. Em entrevista, Pinto da Costa até deixou uma mensagem a essas pessoas, a fingir que não se importa, mas, na verdade, a ferver por dentro: não se atrevam a aparecer no funeral, pois haverá uma lista à porta com as 'personas non gratas'. E são muitas porque se houve coisa que o antigo homem forte dos dragões pôde experienciar nos últimos meses foi o amargo sabor da traição. Isso e a maior dor da sua vida, que está longe de ser a doença, porque para Pinto da Costa o grande desgosto, aquele por que nunca imaginou passar, é estar privado da sua cadeira de sonho, a do FC Porto.

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