
Os últimos tempos colocaram Pinto da Costa perante desafios inimagináveis. As grandes mudanças começaram em abril, quando o então presidente do FC Porto perdeu as eleições para André Villas-Boas, o que se revelou um choque para o dirigente, que estava há 42 anos no poder e, na verdade, nunca se imaginou a viver de outra forma.
"Ele ficou muito abalado, embora não o diga, não o queira demonstrar. Mas foi-se muito abaixo. Foi um golpe duro, pela forma que foi, com uma margem tão expressiva", conta uma fonte. De abril para cá passaram-se apenas quatro meses, mas para Pinto da Costa parece uma eternidade longe daquele que é o amor de uma vida. A dedicação total aos dragões fez com que, de repente, o antigo presidente sentisse um vazio que tem tentado preencher com momentos de lazer e o amor daqueles que o rodeiam, mas nem sempre com sucesso.
As mudanças no estado psicológico de Pinto da Costa, de 86 anos, acabaram por ter um impacto fortíssimo na sua saúde e, apesar de na altura em que se recandidatou à liderança do FC Porto já estivesse a lutar contra um cancro na próstata, a situação agravou-se nos últimos tempos.
"Aqui, o psicológico teve um impacto fortíssimo, as defesas vieram por aí abaixo", diz uma fonte, acrescentando que, neste momento, a equipa que acompanha Pinto da Costa no IPO do Porto não equaciona submetê-lo a tratamentos oncológicos, que só serviriam para o debilitar numa fase em que já se encontra bastante frágil.
Apesar da dureza do diagnóstico, Pinto da Costa tem-se mantido relativamente tranquilo, sempre com a ajuda de duas mulheres, que se tornaram em pilares inabaláveis na sua vida: a companheira, Cláudia Campo, com quem se casou há um ano, e a filha mais nova.
Joana, com quem o antigo presidente azul-e-branco chegou a ter divergências no passado, tornou-se numa mulher forte e resiliente e num poço de segurança para o pai no momento em que este mais precisa. "É claro que no passado a Joana teve algumas atitudes mais infantis, mas agora é uma mulher, mãe de filhos e uma filha incrível. Não há um dia em que não esteja lá", diz uma fonte, que salienta a diferença em relação às atitudes de Joana e do filho mais velho de Pinto da Costa. "A Joana está a fazer aquilo que o Alexandre não é capaz de fazer. E na verdade ter este amor tão sólido da filha tem sido muito importante nesta fase da vida de Pinto da Costa."
Uma força também alavancada na alegria dos netos, que têm sido muito importantes nesta altura em que o antigo homem-forte dos dragões luta pela vida. Se quando foi avô pela primeira vez, há cerca de duas décadas, Pinto da Costa acabou por ser mais ausente pelo facto de estar no auge do seu percurso no FC Porto, agora, ver os mais novos, ainda pequenos, crescerem tem sido uma bênção. "Está a ser com estes meninos aquilo que não foi. Este amor, desde a mulher, à filha, passando pelos netos, é aquilo que o tem salvo", explica a fonte.
OS AMIGOS QUE DESVIAM CAMINHO
Aos 86 anos e em poucos meses, Pinto da Costa tem, provavelmente, levado mais 'lições' da vida do que em vários anos de existência. Sair do poder colocou-o perante novas situações que o antigo dirigente ainda não tinha conhecido. Além da fragilidade devido à doença, a perda de liderança fez com que o antigo dirigente caísse de uma espécie de pedestal em que se encontrava.
E se os amigos verdadeiros - os chamados poucos mas bons - se mantiveram lá, houve muitas desilusões. "Houve muito boa gente que estava sempre em bicos dos pés e nunca mais ligou ao homem. Sabem como ele é, faz que não liga nada, que não quer saber, por orgulho, mas está magoado e triste com alguns amigos", explica a fonte, adiantando que, ainda assim, a postura do antigo dirigente portista tem vindo a mudar.
Agora, está decidido a aproveitar a vida, a fazer aquilo que mais ama. Tem-se reunido com amigos chegados e recentemente o Correio da Manhã mostrou o antigo presidente azul-e-branco a divertir-se numa casa de fados com a mulher e o neto mais velho. "Ele adora fado, deita-se e acorda a ouvir fado. Para ele é uma coisa que o deixa feliz e também muito saudosista", explica a fonte.
Perante os desafios que aí vêm, Pinto da Costa está sereno e, garante, não teme o dia em que se tenha de despedir deste mundo. Crente em Nossa Senhora de Fátima, acredita que há vida depois da morte e que todos temos dia e hora marcada para partir.
O seu lema é, por isso, o mesmo que até aqui: aproveitar cada dia como se fosse o último.