
Carlos Moedas, 51 anos, o novo presidente eleito da Câmara de Lisboa, fez uma confissão exclusiva e surpreendente à FLASH! durante o jantar de comemoração dos 240 anos do mítico café Lisboeta Martinho da Arcada.
"É com orgulho e emoção que ouvi aqui esta noite, da boca do Paulo Dentinho (seu amigo pessoal e jornalista da RTP), referências àqueles que são os grandes cafés de Paris, cidade onde vivi também durante muitos anos", começou por explicar, revelando, com um sorriso discreto, como se apaixonou perdidamente num dos mais emblemáticos espaços de convívio da Cidade das Luzes: "Conheci a minha mulher (Céline Dora Judith Abecassis) na La Closerie des Lilas".
A La Closerie é um dos mais conhecidos, chiques e emblemáticos cafés parisienses, podendo uma refeição no espaço do restaurante ultrapassar facilmente os 90 euros. Fica na Boulevard du Montparnasse, a um passo do Jardim do Luxemburgo, um dos grandes parques da capital francesa, e a dois das faculdades da Universidade da Sorbonne, onde Moedas não foi aluno, tendo antes concluído a sua licenciatura em Engenharia Civil na École Nationale des Ponts et Chaussées, nos subúrbios de Paris.
DOIDO POR CAFÉS HISTÓRICOS
A La Closerie era um dos cafés, a par com o Le Procope - o mais antigo da cidade e conhecido pela frequência de artistas e intelectuais de estofo internacional -, onde Carlos Moedas jantava, namorava com a mulher da sua vida e futura mãe dos seus três filhos (Vera, 19 anos, Arthur, 16, e Rebecca, de 12) e onde ainda trocava ideias com amigos e colegas na companhia Suez Lyonnaise des Eaux, atual Engie, onde iniciou a sua carreira profissional após concluir o curso.
Não se pense também que a vida boémia e agitada deste alentejano de gema, que aos 18 anos abalou de Beja para estudar engenharia no Instituto Superior Técnico em Lisboa, se limitou a absorver a atmosfera parisiense dos espaços onde homens como Voltaire, Balzac, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson (no Le Procope) e pensadores e artistas brilhantes como Renoir, Monet, Émile Zola, Baudelaire, Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Jean Paul Sartre, Pablo Picasso ou o português Aquilino Ribeiro, se sentaram e participaram em animadas tertúlias. Nada disso, Carlos Moedas confessou, no mesmo jantar festivo, como lhe nasceu, afinal, o bichinho por frequentar cafés históricos.
"MOEDINHAS", O BENJAMIM DO ZÉ MOEDAS
O benjamim de José "Zé" Moedas, um comunista convicto que ajudou a fundar o jornal 'Diário do Alentejo' e foi correspondente de publicações em Lisboa, como o 'Diário de Notícias', tem uma já longa carreira de frequência de cafés lisboetas, em especial do Martinho da Arcada."O Martinho da Arcada são muitas histórias. E não são só as histórias da elite intelectual portuguesa. São também a história de tantos, como eu, que vinham do Alentejo, e que aqui passei tantos dias com o meu pai, que era um simples jornalista alentejano."
E explica, sem esconder nada, como o vício germinou. "O Martinho da Arcada são muitas histórias. E não são só as histórias da elite intelectual portuguesa. São também a história de tantos, como eu, que vinham do Alentejo, e que aqui passei tantos dias com o meu pai, que era um simples jornalista alentejano", avança, revelando como se comportava o pequeno Moedas, a quem carinhosamente, e em especial em Beja, as pessoas chamavam "Moedinhas".
"Era nestas mesas que o meu pai, como correspondente para o 'Diário de Notícias', escrevia muitos dos artigos que ele fez. Vinha a Lisboa trazer as notícias do Alentejo e muitas vezes acaba de as redigir aqui à pressa, com o filho de 12 anos, irrequieto, sentado por estas mesas", relembra o homem que em outubro de 2021, inesperadamente e contra todas as expectativas, conquistou a câmara da capital.
O RITUAL BARCO DO BARREIRO
O mesmo que sereno, mas emocionado, disse: "Recordo isso com uma grande emoção, obviamente porque o meu pai já não está entre nós, mas relembrar também o que este café era para alguém que vinha do Alentejo o ritual de passar o barco do Barreiro e chegar aqui, ao Martinho da Arcada". "Eram momentos muito diferentes", recorda saudoso.
Na sua breve intervenção na ocasião festiva, o novo dono da cadeira do poder na autarquia lisboeta, cuja sede fica a poucos metros do café fundado em 1782 por Julião Pereira de Castro, neveiro-mor da Casa Real, teve tempo ainda para, na mesma sala onde o grande poeta Fernando Pessoa escreveu alguns dos seus mais famosos poemas, recordar uma singela quadra que o seu pai, José Moedas, já falecido, escreveu e que o filho diz ter-lhe ficou "para sempre na alma": "Sou maltês, venho dali / Da planície sem dono / Onde o sol odeia as fontes / E os cães morrem de abandono".
O MARTINHO FOI "UM AMULETO"
O que poucas pessoas sabem, mas que Carlos Moedas fez questão de revelar, é que na altura do arranque da campanha eleitoral que o conduziu à surpreendente conquista da Câmara de Lisboa, que o Café Martinho da Arcada funcionou como uma espécie de amuleto da sorte para si enquanto candidato. "O senhor António de Sousa, o proprietário do Martinho, sempre me recebeu tão bem desde o primeiro dia. Quando comecei a campanha eleitoral, vim aqui. Senti-me bem e estive aqui várias vezes. Não a fazer campanha, mas a pensar como iria ser o dia de campanha. Tomava um café de manhã e, honestamente, gostava muito desses momentos motivadores".
"Quando comecei a campanha eleitoral, vim aqui. Senti-me bem e estive aqui várias vezes. Não a fazer campanha, mas a pensar como iria ser o dia de campanha."
HISTÓRIA SEMPRE VIVA
Já na pele de edil de Lisboa, e menos na de cliente deste café histórico, Carlos Moedas destacou frases do discurso que o antecedeu, do escritor Luís Machado, autor do livro Martinho da Arcada, Um Café de Todos Nós, uma "biografia" comemorativa dos 240 anos do espaço, onde o biógrafo destacara referência à "cultura" e "identidade".
"Aquilo que temos de mais forte. Aquilo que hoje nos falta é realmente nós contarmos a nossa história. E é por isso que quando vejo e leio a história deste café vejo aquilo que perdemos na Europa. Nós deixámos de contar a história da Europa. Deixámos de contar a história dos nossos países. O que hoje nos faz fortes e nos traz identidade é reforçamos a nossa história e contá-la aos nossos filhos", desejou, rematando: "E essa história conta-se nos nossos cafés, lê-se nos livros e isso é o que Lisboa quer ser".