
Como é que é possível que aquele que durante décadas foi considerado um paladino da democracia em Espanha se tenha convertido na maior vergonha nacional? O rei corrupto foi escorraçado depois de ter caído em desgraça dentro e fora das fronteiras do seu país. Valem-lhe os amigos ricos e influentes que fez ao longo dos muitos anos em que esteve sentado no trono. São eles que lhe dão guarida e lhe proporcionam um exílio de luxo. Mas a pequena elite monárquica que deixou no em Espanha, continua a prestar-lhe vassalagem e a visitá-lo a miúde. Fazem-no acreditar que ainda voltará a casa em glória. Mas isso será pouco provável. Para além da forte oposição de Felipe VI, o seu próprio filho que hoje ocupa o lugar que já foi seu, o rei emérito caiu em descrédito junto dos súbditos que no passado tanto o admiravam. Os espanhóis - a maioria - não querem que regresse. A desilusão foi tão, mas tão grande.
O REI E O DITADOR
Mas comecemos pelo início e enunciemos as principais razões que fizeram cair o herói de Espanha. O príncipe das Astúrias foi escolhido por Francisco Franco para se sentar no trono, tirando assim o lugar que por direito era do seu pai, D. Juan de Borbón, conde de Barcelona, o herdeiro legítimo da Coroa. Desrespeitou-se, portanto, a ordem sucessória e Juan Carlos aceitou todas as condições impostas por Franco movido pela ambição de chegar ao trono e passar a ser rei. Nem se importou com o facto de ser obrigado a jurar que seria "digno sucessor" do chefe de Estado, um ditador tão mal-amado. A coroação - que foi a solução encontrada para colocar um ponto final a décadas de ditadura - aconteceu no dia 22 de novembro de 1975. O conde de Barcelona, que vivia exilado no Estoril e assistiu ao momento pela televisão, nunca desculpou esta traição do seu primogénito. Mas se no início o povo olhou para Juan Carlos com desconfiança, aos poucos foi aprendendo a respeitá-lo. E até se esqueceu desta subida ao trono pouco recomendada. O seu papel durante o perído da transição foi considerado exemplar.
A coroação - que foi a solução encontrada para colocar um ponto final a décadas de ditadura - aconteceu no dia 22 de novembro de 1975. O conde de Barcelona, que vivia exilado no Estoril e assistiu ao momento pela televisão, nunca desculpou esta traição do seu primogénito. Mas se no início o povo olhou para Juan Carlos com desconfiança, aos poucos foi aprendendo a respeitá-lo. E até se esqueceu desta subida ao trono pouco recomendada. O seu papel durante o perído da transição foi considerado exemplar.
JUAN CARLOS E TEJERO O novo rei mostrou-se um homem dedicado. Interessado. Presente. Responsável. E sobretudo confiável. Mas há um episódio crucial na história de Espanha que ajudou a que os espanhóis passassem a ver em Juan Carlos um herói. No dia 23 de fevereiro de 1981, por volta das seis da tarde, o
O SILÊNCIO DOS JORNALISTAS
O pacto de não agressão existente entre a casa real e a imprensa foi fundamental para que a imagem do rei se mantivesse imaculada e intacta. Durante décadas os jornalistas conheciam bem a vida parelela que o rei levava. Das suas inúmeras amantes. Dos affaires sem conta. Dos casos e casinhos. Do seu estilo de vida faustoso e pouco recomendado. Mas tudo isso foi escondido. Calado. E entre a classe jornalística havia até quem admirasse Juan Carlos por tudo isso. A sociedade machista de então ajudou os propósitos reais em manter essa vida longe da opinião pública. E assim, o pai de Felipe VI sempre esteve protegido das críticas, do juízo allheio, dos julgamentos públicos. Mas os tempos mudaram e os jornalistas começaram, aos poucos, a esquecer o compromisso tácito que existia com a Zarzuela
Aquele que foi o representante maior de uma Espanha democrática, moderna e desenvolvida e figura incontestada ganhou muito com o silêncio dos jornalistas. Durante décadas não houve quem controlasse os seus atos. Quem lhe pusesse travões. Que lhe limitasse os atos. Por isso, convenceu-se que estava acima da lei.
Mas o seu maior erro foi não ter contado com a mudança de mentalidades que foram ocorrendo ao longo dos mais de 30 anos em que esteve no trono. Por exemplo, se as caçadas na década de 70 até eram olhadas com benevolência em 2012, quando se descobriu a polémica imagem da caçada do Botswana as críticas não se deixaram de ouvir. A sensibilidade ecológica já era completamente diferente daquela que existia no século passado.
Vamos agora aos 9 momentos que foram fulcrais para destruir a imagem de Juan Carlos para todo o sempre e o fazer cair em desgraça.
1. O famoso: Por qué no te callas? Em novembro de 2007, o rei de Espanha mandou calar Hugo Chávez em plena XVII Cimeira Ibero-Americana, em Santiago do Chile. "Por qué no te callas?".
3. A caçada de elefantes no BotswanaO 'affair' de Corinna zu Sayn-Wittgenstein com o rei emérito de Espanha terá começado em 2004 e durou 10 anos. O assunto veio a público em 2013, quando Juan Carlos fraturou a anca durante um safari no Botswana, na companhia de Corinna. O assunto, que era tratado em surdina, foi manchete em Espanha e teve eco mundial.O escândalo foi tão grande pela caça a elefantes - uma espécie protegida - que Juan Carlos nunca mais se indireitou publicamente.
4. O vício do álcool
No dia 6 de janeiro de 2014, naquela que é conhecida como uma das cerimónias mais solenes das forças armadas de Espanha, o rei teve um discurso desconexo e mostrando sérias dificuldades para falar. A pergunta que se colocou é se estaria lúcido ou embriagado. A segunda hipótese foi tida como a mais provável, já que se começava a falar do vício do álcool do rei.
Recordamos el titubeante discurso del Rey Juan Carlos en la Pascua Militar del 2014 (LibertadDigital) pic.twitter.com/nDZbnTyT3E
— Reportajes.com (@reportajes_esp) November 24, 2022
5. A vida devassa
5. A vida devassa
6. Abdicação forçadaO monarca já não conseguia travar a catadupa de escândalos que envolviam o seu nome, especialmente com as infidelidades sem conta. Mas as notícias de corrupção, branqueamento de capitais, evasão fiscal e tráfico de influências, além de possuir contas bancárias fraudulentas em paraísos fiscais foram a gota de água. Juan Carlos foi obrigado a abdicar a favor de Felipe. Caso não o fizesse, a monarquia corria sério risco. Tal foi o descrédito provocado.
7. Subornos
Juan Carlos é suspeito [o processo já foi arquivado] de ter recebido do rei da Arábia Saudita uma comissão de 89 milhões de euros para facilitar o contrato de construção do AVE, o comboio de alta velocidade que une as cidades de Medina e Meca, na Arábia Saudita. A transação foi feita em 2008 e terá chegado ao rei, através de testas-de-ferro e de uma estrutura offshore, quando ainda era chefe de Estado. O caso começou a ser investigado na Suíça e não em Espanha, devido a imunidade do rei.
8. Testas de ferro
Em 2015,
9. O exílio
Em agosto de 2020 a casa real espanhola confirmou que o rei emérito Juan Carlos deixou Espanha e fixou residência nos Emirados Árabes Unidos. Ali permanece até ao momento.