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As noites loucas de Tomás Taveira: do carro de luxo às discotecas de alta roda... onde até tinha quota

No final da década de 1980 o arquiteto Tomás Taveira estava na berra e tinha conseguido entrar nos círculos da alta sociedade, depois da inauguração das Torres das Amoreiras. Tinha discotecas e era habitual encontrá-lo nos jantares e nas festas mais badaladas. Até que o escândalo sexual mudou tudo.
Hélder Ramalho
Hélder Ramalho
24 de setembro de 2025 às 21:46
Tomás Taveira
Tomás Taveira

Eram tempos quentes aqueles que se viviam no final da década de 1980 em Lisboa e no Porto. Por essa altura, o arquiteto Tomás Taveira vivia o auge do sucesso e da fama, depois da inauguração das disruptivas e polémicas Torres das Amoreiras, em setembro de 1985, do qual foi o autor. O arquiteto atirava definitivamente a capital para uma nova era de modernismo e tornou-se presença desejada nos eventos e festas mais badaladas da cidade, cada vez mais cosmopolita. Taveira estava na berra e tinha conseguido entrar nos círculos da alta sociedade.

Nesta época, era habitual vê-lo chegar aos jantares e aos eventos ao volante de um luxuoso Rolls Royce, acompanhado pela mulher, Amarílis Taveira, com quem tinha dois filhos. Embalado pela fortuna, Tomás Taveira entrou no mundo da noite. Além de arquiteto e professor na Faculdade de Arquitetura era dono de várias discotecas, como o Banana's e o Ad Lib, em Lisboa, ou o Twin’s, no Porto.

Tomás Taveira
Tomás Taveira

Inaugurado a 1 de Junho de 1981, em Alcântara, pelas mãos dos empresários Manecas Mocelek e Jorge Caiado, o Banana's depressa se transformou no espaço da moda, a discoteca que fazia lembrar as Discos de Nova Iorque, imortalizadas pelo 'Saturday Night Fever', de John Travolta. Tornou-se num fenómeno para todas as idades. A clientela não se importava de esperar em filas com mais de 300 metros, que chegavam ao lago de Alcântara. "Não havia elitismos. Queríamos era gente gira e divertida. Provavelmente muitas das pessoas que hoje aparecem nas revistas cor-de-rosa não entrariam no Bananas naquela altura", confessou Jorge Caiado, citado pelo 'DN'. Para entrar era preciso ter cartão de cliente ou ser convidado.

Em 1985, Tomás Taveira passa a ser sócio da discoteca, juntamente com um novo grupo de investidores. Mas essa união acaba por durar pouco tempo. Manecas Mocelek e Jorge Caiado foram os primeiros a deixar a sociedade. Com o escândalo sexual que envolveu o arquiteto e com a inauguração do Alcântara-Mar a poucos metros de distância, os clientes começaram a afastar-se. Foi o início do fim da discoteca mais famosa de Lisboa.

Tomás Taveira
Tomás Taveira

No Porto, o Twin’s era a pista de dança de eleição da alta sociedade da Foz, onde só se entrava por convite. Ainda nas mãos dos empresários José Luís Kendall e Rogério Azevedo, o Twin's era passagem obrigatória dos mais ricos e famosos. Foi lá que Herman José deu os primeiros espetáculos e as festas temáticas marcavam a movida do Porto. Em 1985, Kendall e Azevedo venderam a discoteca ao arquiteto Tomás Taveira e ao seu sócio José Manuel Simões. O mesmo ano da inauguração da sua criação mais emblemática – o Amoreiras.

O INÍCIO DO FIM

Os anos de euforia, embriagado pelo sucesso e pela fama, tinham chegado ao fim, cilindrados pelo maior escândalo sexual do Portugal democrático. “Cassete porno excita Lisboa”, foi a manchete do semanário 'Tal&Qual', de 22 de setembro de 1989. “Um vídeo com as experiências sexuais de um famoso personagem da alta-roda lisboeta está a despertar a cobiça de meia-cidade. Gravado por uma câmara escondida no seu escritório, o filme fugiu-lhe das mãos e anda por aí. Todos querem tê-lo, mas é caro: o vendedor pede 20 mil contos. O Tal&Qual já o viu”, lia-se na primeira página do jornal.

De facto, a 8 de agosto de 1989 um homem não identificado entrou pela redação do 'Tal&Qual', na Rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa, com uma cassete VHS na mão. Queria vendê-la ao jornal por um valor milionário para a época. Na cassete, podia ver-se Tomás Taveira a praticar sexo oral e anal com várias mulheres, no seu escritório, na Avenida da República, junto ao Saldanha. Os vídeos terão sido filmados pelo próprio, alegadamente sem o consentimento das envolvidas. No entanto, as imagens acabaram por vir a público. 'As Loucuras Sexuais de Tomás Taveira' foi o título da revista Semana Ilustrada, que publicou as primeiras imagens da polémica que saltou fronteiras.

Tomás Taveira, Amarílis Cristina
Tomás Taveira, Amarílis Cristina

As imagens espalharam por Lisboa como rastilho de pólvora entre as elites. Todos queriam ver as imagens do arquiteto. O escândalo abalou os alicerces da alta roda lisboeta e do poder político. Muito se especulou, na altura, sobre a identidade das mulheres envolvidas. Chegou-se a apontar nomes ligados à alta-sociedade. Outras, mais jovens, seriam estudantes do curso de Arquitetura em que Taveira era professor. O escândalo chegou mesmo a fazer abanar o Governo de então, liderado por Aníbal Cavaco Silva, que acabaria numa remodelação ministerial. O então ministro das Finanças, Miguel Cadilhe, viu o nome envolvido numa alegada fuga ao fisco na compra de um apartamento precisamente nas Amoreiras, a fazer manchetes no 'Independente' de Paulo Portas e Miguel Esteves Cardoso.

Um escândalo que abalou o País e condicionou o futuro de Tomás Taveira que começou a ser visto como 'persona non grata'. Houve vários processos judiciais, a 'Semana Ilustrada' acabou proibida e acabou por fechar sem nunca revelar a anunciada "continuação". O arquiteto divorciou-se de Amarílis Cristina e viu o meio onde tinha sido uma das mais ilustres figuras virar-lhe as costas.

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