
Começaram por ser amigos de casa, que passavam férias juntos com mulheres e filhos, depois rivais e nos últimos tempos voltaram a aproximar-se. Foi quando Luís Filipe Vieira e Pinto da Costa deixaram de ter quaisquer responsabilidades desportivas que os dois decidiram enterrar o machado de guerra e retomar um relacionamento que é muito antigo, e vem dos tempos em que Vieira ainda nem sequer estava ligado ao Benfica, mas sim ao Alverca, onde tinha uma amizade e até negócios com o portista. Ao longo dos últimos meses, Vieira aumentou o número de viagens ao Norte para estar com o amigo, sendo que a consciência da gravidade da doença que afeta Pinto da Costa fez com que os dois intensificassem o contacto.
O antigo presidente do Benfica tem sido incansável no apoio ao seu antigo rival e, esta semana, face ao agravamento do estado de saúde de Pinto da Costa, a 'The Mag by Flash' sabe que Luís Filipe Vieira fez questão de rumar até ao Porto para o visitar em casa. "Esteve em casa dele, durante a tarde, e passaram um bom bocado à conversa. Tem sido um bom amigo, muito mais do que todas aquelas pessoas que antes o bajulavam e agora lhe viraram as costas", conta uma fonte, acrescentando que no encontro esteve ainda Adriano Quintanilha, antigo-homem-forte da equipa do ciclismo do W52/FC Porto.
A visita acontece numa altura em que, como a Flash! já tinha avançado, o estado de saúde de Pinto da Costa, que enfrenta um cancro na próstata há cerca de três anos, se agravou, com o portista, de 86 anos, a estar agora mais confinado em casa. "Sofreu uma fratura no fémur e está mais debilitado", diz uma fonte, acrescentando que nos últimos meses o cancro tem progredido de uma forma mais galopante.
Antes deste encontro com Vieira, já os dois tinham sido vistos por algumas vezes juntos em almoços ou outras ocasiões. Foi o retomar de uma amizade interrompida por questões futebolísticas, mas que hoje Pinto da Costa gosta de preservar.
"Damos-nos bem. Demos-nos muito bem, depois interrompemos esse 'dar bem' quando ele foi para presidente do Benfica, por influência de outros, que acharam que, para o Benfica, não era bom ele ser meu amigo. Então houve ali um corte. Mas eu perdoei-o e e hoje estou com ele novamente sem qualquer rancor", já fez saber o antigo líder azul-e-branco, enquanto Vieira garante ter orgulho da amizade que hoje os une.
"Quando as pessoas caem não devemos hostilizar. Com um homem que tem 86 anos, gravemente doente... tenho almoçado algumas vezes com ele. Não tenho problema nenhum em dizer", avançou Vieira.
DE AMIGOS DE CASA A RIVAIS
Antes de Luís Filipe Vieira ter sido eleito presidente do Benfica, a sua relação com Pinto da Costa era de extrema proximidade. Na altura, o ainda presidente portista estava casado com Filomena Morais, que também era grande amiga da mulher de Vieira. E a cumplicidade estendida-se mesmo às filhas.
Mas a paz não duraria muito e mal Vieira chegou à liderança dos encarnados, a troca de galhardetes com Pinto da Costa começou a ser uma constante. Quando Pinto da Costa, acusou Vieira de ganhar campeonatos à custa da arbitragem, o antigo amigo respondeu-lhe à letra.
"Pinto da Costa é livre de dizer o que quiser não creio que ele seja a melhor pessoa para falar de arbitragens em Portugal. Às vezes, devemos olhar para dentro de nossa casa antes de atirar pedras", disse, acrescentando sentir vergonha por algumas atitudes do presidente portista. "Vergonha é ser condenado por corrupção desportiva, foi saber-se que houve quem corrompesse árbitros com prostitutas e outros esquemas."
Era o início de um bate boca que parecia não ter fim, e assim que um falava o outro respondia.
"Vergonha teria se tivesse sido condenado por roubo, fosse no tribunal da Boa Hora ou noutro qualquer. De resto não entro nessa conversa porque não estou em campanha eleitoral. E quando estou não preciso de entrar em guerras com ninguém para ter os sócios do meu lado."
Perante o escalar da troca de galhardetes, Luís Filipe Vieira acabaria por usar argumentos a que tinha acesso por ter privado por Pinto da Costa para o agredir, como a sua paixão por poesia ou as visitas ao Papa, no Vaticano.
"A história do FC Porto foi marcada por fruta, corrupção e compadrio. O seu sucesso é e foi construído com base na maior mentira do desporto português. O sistema ainda não acabou, continua baseado na intimidação, na violência e nos favores. Na vida, como nos livros, um ladrão não deixa de ser ladrão por declamar poesia, ou por ir ao Papa. Um fugitivo da justiça não o deixa de ser apenas porque alguns juízes decidiram assobiar para o lado. As nossas razões podem não chegar à UEFA, como não chegaram as escutas da fruta, como não chegaram para a justiça portuguesa as escutas do café com leite, mas nós não vamos parar enquanto não limparmos o desporto português".
Passaram anos nisto e nunca mais Vieira e Pinto da Costa voltaram a sentar-se lado a lado, acabaram-se as férias com as respetivas famílias na casa do portista em Vila Nova de Cerveira, até agora, altura em que decidiram esquecer tudo aquilo que disseram e fizeram porque, afinal, a vida são dois dias e se houve uma coisa que a doença e as quedas de ambos da vida provavelmente lhes ensinaram é que não vale a pena cultivar rancores.