
Enquanto parte das grandes fortunas estão elencadas em listas como as que são elaboradas pela revista 'Forbes' ou conseguem, de alguma forma, ser quantificadas por folhas salariais, prémios, lucros e património amealhado, a de Pinto da Costa é uma perfeita incógnita.
Para além do ordenado e prémios declarados que recebia como presidente do FC Porto, e que nos últimos anos rondou um valor entre os 700 mil euros e 1 milhão anuais, não há registos que mostrem a dimensão dos seus cofres. Mais, é como que um segredo de estado, um assunto sobre o qual o antigo dirigente desportivo – que atravessa um momento delicado, com um agravamento do seu estado de saúde num momento em que luta contra um cancro – prefere não falar.
O silêncio pode ter, claro, várias interpretações e há quem diga que se prende com o processo que decorre na Justiça e que investiga o paradeiro de 40 milhões de euros, proveniente de transferências de jogadores e que terão sido desviados para benefício próprio num esquema que envolveria o próprio filho, Alexandre, e o empresário Pedro Pinho.
Numa das poucas vezes que aceitou falar sobre 'dinheiro', Pinto da Costa garantiria que não tinha contas recheadas, poupanças amealhadas no banco e, questionado sobre o montante de 700 mil euros que teria recebido nesse ano do FC Porto (2010), desvalorizou o assunto.
"Não faço ideia se isso é verdade. Sinceramente. Sei é que de impostos pago uma loucura. Este ano, vou ter de pagar 70 mil euros - e não tenho dinheiro no banco para o pagar, mas hei-de pagar, porque não quero notícias a dizer que o presidente do FC Porto foge ao fisco. E sei que certamente pago mais impostos que os Gato Fedorento, que, li, no contrato com a PT receberam mais de dois milhões de euros num ano. Não tenho nenhum jogador a ganhar metade disso", disse ao 'Expresso'.
O tema ganha agora mais relevância, numa altura em que o quadro clínico de Pinto da Costa se complica, aos 82 anos. Afinal, qual é a dimensão da herança que tem para deixar aos filhos e netos?
No seu livro de memórias 'Azul Até ao Fim', o antigo presidente azul e branco aborda o assunto de fugida, à laia de recado, uma espécie de 'excusam de procurar que não vão descobrir milhões escondidos num qualquer paraíso fiscal. "Já disse aos meus filhos que não tenho qualquer conta no estrangeiro, nem qualquer sociedade", avançou, numa mensagem que já antes tinha difundido em conversas aqui e ali. "De facto, isso foi sempre o que ele disse a toda a gente, que não tinha dinheiro escondido em lado nenhum, que tudo o que ele tem está à vista. Agora, se é assim ou não?", questiona a fonte, recordando que foram 42 anos como presidente do FC Porto, e que o futebol movimenta milhões e milhões de euros.
FILHO NÃO É EXCLUÍDO DO TESTAMENTO
Se há coisa sobre a qual Pinto da Costa também nunca falou é sobre o seu testamento. No entanto, e apesar de estar de costas voltadas com o filho, Alexandre, nunca terá pensado em desherdá-lo.
No livro de memórias 'Azul Até ao Fim', o ex-presidente do FC Porto abordaria o assunto para revelar que este é um dos medos que o assolam: que quando já cá não estiver os filhos se digladiem por dinheiro. "Neste momento, duas preocupações enchem a minha cabeça e o meu coração. Na minha falta, como será o relacionamento dos meus filhos? Como se vão entender na divisão dos meus bens?", questionou, deixando-lhes o mesmo conselho que a própria mãe lhe deu na despedida. "Já lhes lembrei o que a minha querida Mãe nos dizia, a mim e aos meus irmãos: 'Entendam-se, senão metade do que vos deixo será para os Tribunais e advogados. Sábias palavras, que todos seguimos, e tudo dividimos sem o mínimo atrito."
Segundo a mesma fonte ouvida pela nossa publicação, a preocupação não é descabida, uma vez que os dois irmãos sempre tiveram uma relação complexa, agravada nesta reta final, pelo facto de Joana não concordar com o afastamento de Alexandre do pai, numa altura em que este está tão debilitado física e emocionalmente.
No testamento, os amigos acreditam que Pinto da Costa poderá também dispor de uma parte para contemplar Cláudia Campo, a mulher que esteve a seu lado nos últimos anos de vida, e que lhe trouxe uma serenidade como provavelmente nunca aconteceu com nenhuma das suas anteriores mulheres. Além disso, foi também a que reuniu mais afeto familiar, conquistando, inclusivamente, Joana, que sempre aceitou com particular relutância os relacionamentos amorosos do pai.
Em dias difícies, com o cancro na próstata a não dar tréguas, Pinto da Costa tem-se mantido mais resguardado, sempre contando com o apoio dos seus, a quem fez questão de agradecer, com os olhos cheios de lágrimas no lançamento do seu livro, num discurso que soou a despedida.