
Nos tempos áureos, Cristiano Ronaldo nem precisava de despertador. Se fosse caso disso, levantava-se às cinco da manhã para treinar ou, se não tivesse nenhum programa melhor para o serão, ia para o spa regenerar os músculos em banhos de água gelada ou dar uma corridinha na passadeira. E fazia-o com um sorriso na cara. Durante mais de vinte anos foi assim, como se a vida só lhe tivesse coisas boas para lhe dar.
Não foi, por isso, preciso ser um familiar ou amigo muito atento para ficar alerta quando as coisas começaram a mudar. De repente, CR7 já estava mais vezes mal-disposto do que feliz e, se essa mudança já fez soar alguns alarmes, estes começaram a fazer-se ouvir a altos berros quando, de umdia para o outro, o craque já nem queria levantar-se da cama para ir treinar. É o próprio quem o revela na mais recente entrevista em que assume que, pela primeira vez, a sua fragilidade. Psicologicamente em baixo, o jogador não esconde que já viveu melhores dias e admite que, nos últimos tempos, tem sido a força da namorada, Georgina Rodríguez, a mantê-lo à tona.
A mãe, Dolores, já não esconde a angústia por ver o seu filho pródigo em sofrimento e intensifica as viagens a Manchester para ver com os próprios olhos como está Ronaldo. Naquilo que parece ser um porta-aviões a afundar, só Georgina Rodríguez tem mantido a calma necessária para enfrentar os momentos difíceis, mas a verdade é que também ela nem sempre está lá para Cristiano Ronaldo.
Com cada vez mais trabalho, Gio passa grande parte do tempo em viagens e o seu sucesso aumenta na mesma medida que os problemas de CR7 crescem. Perto ou à distância, tenta incentivar o craque a sair daquilo que todos sabem o que o craque terá, mas ninguém ousa dizê-lo em voz alta: depressão.
Durante meses, todos tentaram ajudá-lo. Família e amigos revezavam-se para que garantir que Ronaldo estava feliz, até que perceberam que sozinhos não iam a lado nenhum. E de repente, aos problemas profissionais juntaram-se os pessoais. O craque e Gio viram um dos bebés que esperavam morrer no parto e tudo assumiu outras dimensões. Na entrevista, o futebolista admite a revolta que sentiu. "Foi o pior momento da minha vida desde a morte do meu pai. Passámos por momentos difíceis, eu e a Georgina sofremos muito. Perguntámos porque nos aconteceu a nós. Foi difícil perceber o que se passava com as nossas vidas. Foi duro".
Com a vida virada do avesso e com os amigos a revelarem-se incapazes de lhe dar as respostas de que precisava, Ronaldo procurou, pela primeira vez, apoio psicológico. "O Cristiano convidou-me para ir a casa dele ter com ele. Ele estava com alguns problemas há uns meses e um amigo dele enviou-lhe alguns dos meus vídeos. [Depois de ver], o Cristiano quis falar comigo, então convidou-me e estivemos à conversa durante umas horas em casa dele. Ele queria, sobretudo, falar sobre o que quer para o futuro e também sobre alguns obstáculos que está a enfrentar neste momento", revelou o psicólogo Jordan Peterson, que tenou ajudar CR7 a perceber como é que a sua vida chegou até aqui.
MAYORGA: QUANDO OS PROBLEMAS COMEÇARAM...
E como é que chegou? A história conta-se em duas partes: na primeira, Cristiano Ronaldo sai do Sporting para o Manchester, e depois para o Real Madrid. É, ano após ano, considerado o melhor jogador do Mundo, tem as mulheres mais bonitas aos seus pés, uma garagem com os carros com que sempre sonhou e é tão rico que não sabe o que é que há-de fazer ao dinheiro. Como se isso não bastasse, encontra o amor da sua vida ao lado de Georgina Rodríguez, com quem cria a sua mão cheia de filhos e viaja pelo mundo a bordo de um iate acabadinho de comprar.
Porém, algures há cerca de dois anos, um episódio abalou a vida do jogador para o lembrar que piscamos os olhos e o jogo mudou. É quando começa a segunda parte da história. De repente, Kathryn Mayorga acusava Ronaldo de violação. Mais, detalhava todos os pormenores da noite em que diz ter sido forçada pelo craque a ter sexo anal quando os dois eram ainda jovens, em Las Vegas. E se é verdade que um coro de vozes se prontificou a defender CR7, com o pretexto de que a americana "estava a pedi-las", é nesta altura que Ronaldo, o inquebrável, começa a sentir os primeiros olhares de esguelha. "Seria possível?". A dúvida ficou.
Há quem diga que Mayorga foi uma espécie de mau agoiro, como que a avisar Cristiano Ronaldo que a vida não são só Lamborghinis. E a verdade é que, depois disso, começou o efeito bola de neve. Na Juventus, o jogador ouvia as primeiras críticas, mostrava-se descontente e queria mudar. Depois, conseguiu voltar ao clube onde era considerado uma lenda, mas a coisa só correu bem nos primeiros tempos. O português viria a incompatibilizar-se com o treinador e aquilo que tinha tudo para ser um sonho já era um pesadelo sem fim. E há um dia em que Manchester se torna, pura e simplesmente, numa cidade em que é impossível viver.
CR7 passa pelo pior pesadelo para um pai. Ele e Georgina perdem um dos bebés no parto e a dor consome-o. O resto da história é o presente e o que Ronaldo tenta escrever é um futuro diferente, mas muita coisa terá de mudar.
O QUE LHE RESERVA O FUTURO?
Com a entrevista a Piers Morgan, Ronaldo como que assinou a carta de rescisão com o Manchester, que passa a ser oficialmente passado. Agora, prepara-se para o Mundial, mas depois há muito para se decidir sobre o seu futuro, que deverá ficar definido no mercado de transferências, no início do ano.
Há quem diga que poderá vir para Portugal, onde está a construir uma mansão e já inscreveu os filhos num colégio de topo, há quem diga que os Estados Unidos podem ser uma opção e há quem ainda espere vê-lo a jogar num grande clube europeu, mas até lá CR7 terá de se reerguer e colocar um ponto final no mau agoiro. Será a terceira parte da história...