
Agosto terminou e pôs fim às tensas negociações entre os advogados de Cristina Ferreira e a TVI. Foram semanas de conversas, exigências, cedências e que culminaram com uma aparente vitória retumbante da estrela num braço-de-ferro que se dispôs travar até ao último dia: manter oficialmente o cargo de diretora de Ficção e Entretenimento do canal, ter lugar de vogal como administradora da área Digital da Media Capital onde lhe cabem os pelouros de Novos Negócios e Talentos.
"A Media Capital renovou a sua confiança em Cristina Ferreira, dando continuidade ao seu vínculo com a TVI (...) Cristina Ferreira mantém o cargo de diretora de Entretenimento e Ficção, sendo nomeada administradora executiva da Media Capital Digital, SA, e reforça o seu contributo na área de novos negócios e talentos", pode ler-se no comunicado enviado pela estação e posteriormente partilhado por Cristina e pela empresa que representa.
Mas será que as coisas são mesmo que parecem ser?
É que, sabe The Mag, uma série de movimentações - que um comunicado oficial não diz - que foram acontecendo nos bastidores da TVI e que envolveram reuniões tensas, a trocas de galhardetes entre ambas as partes e até afastamentos para férias intermináveis longe do país... onde era mais fácil olhar as coisas friamente e à distância para fazer as exigências certas.
Se, por um lado, quando as negociações começaram já havia a convicção de que teria sido um erro atribuir plenos poderes no entretenimento a Cristina Ferreira aquando do regresso à estação, também não é mentira que a TVI sempre teve a noção de que não se podia dar ao luxo de perder o seu rosto mais mediático. "Se nos abstrairmos de tudo o resto, a Cristina é a apresentadora mais significativa deste país. E isso não pode ser descartado. Apesar de tudo o que possa estar por trás", diz uma fonte, acrescentando, no entanto, que a continuidade da estrela à frente dos ecrãs nunca esteve em causa, mas sim o poder que tinha na tomada de decisões relevantes de grelha.
Entre os pontos das tensas negociações, aquele que mais dores de cabeça deu foi evidentemente o dinheiro. Recorde-se que Cristina já tinha visto o ordenado reduzido por não cumprir as horas acordadas em antena, previstas no anterior contrato. O corte sofrido foi de, sensivelmente, 100 mil euros (metade do que ganhava) e foi com os mesmos 100 mil que ficou agora - embora oficialmente o novo acordo traduza isso em 1,2 milhões/ano, rigorosamente o mesmo se dividirmos por 12. Todas as partes ficaram felizes com a nova apresentação pública "milionária" dos novos valores e o acordo foi assinado.
Mas há mais.
Depois de um ano que acentuou o braço de ferro e as divergências com o diretor geral da estação, José Eduardo Moniz, que colocou na Plural - a "fábrica de novelas" da Media Capital, que também fornece serviços a terceiros - as suas "pessoas de confiança" e passou a tomar conta da ficção do canal, a questão "quem manda" tornou-se ponto de discussão sério na renovação do contrato de Cristina Ferreira.
"Não nos podemos esquecer que a Cristina saiu da SIC porque não podia fazer a televisão que queria, porque sentia que não confiavam nela para tomar decisões. Não fazia sentido não lutar por aquilo por que tanto batalhou", explica a fonte. E foi o que fez Cristina oficialmente. Se teria de passar mais horas em antena - novo contrato prevê 60 horas - e perdia tempo para a "decisão", não podia perder publicamente o cargo que a levou a aceitar regressar em vez de ser um fantoche como se transformou na SIC, onde ocupava o cargo de consultora... mas para nada era ouvida.
Por tudo isto, é expectável que, à semelhança do que já acontecia ao longo do último ano, Cristina continue um pouco 'de pés e mãos atados' no entretenimento e sobretudo na ficção - uma ironia se pensarmos que o "seu" produto de maior sucesso foi justamente uma novela, 'Festa é Festa', ideia sua, com fim anunciado para o início do ano. Nessas áreas, sabe The Mag, Moniz fez questão de garantir, aquando da renovação do contrato que a última palavra na tomada de decisões seria sua. Ainda assim, este terá sido um ponto também debatido nas reuniões de negociação, pelo que também não é descabido que Cristina e Moniz possam ser "forçados" a um entendimento em prol "do bem" da estação.
SEGREDOS EM JOGO E JULGAMENTO COM A SIC
Tudo o que esteve em jogo ao longo dos últimos meses de negociações foi muito mais do que um contrato. Cristina não é uma 'figura' qualquer, pelo que todo o processo foi tratado com "pinças". E durante o tempo em que o frente a frente durou já era um facto consumado que ninguém na TVI queria comprar uma inimiga como Cristina Ferreira, com uma popularidade ímpar nas redes sociais...
É que desde que voltou, e com o novo cargo não só na direção como na estrutura administrativa, que a apresentadora começou a conhecer não só os corredores, como os jogos de poder, os segredos mais bem guardados, tendo neste momento muita informação nas mãos que não interessa à TVI que chegue aos destinatários errados.
Por outro lado, há ainda o julgamento pela quebra contratual com a SIC, que tem vindo a ser adiado e ainda não começou. Apesar de não implicar diretamente a TVI, a verdade é que não há um interesse por parte dos líderes do canal que Cristina esteja neste processo 'a solo', mas sim numa estratégia concertada com a estação para a qual trabalha.
Tudo somado, são muitos fatores que acabaram por levar a a TVI a discutir longamente os pontos-chave defendidos por Cristina para a renovação do contrato, sendo que a permanência no poder revelou-se o ponto de honra que a estrela manteve até ao fim. E, com isso, e com a necessidade de o mostrar publicamente, a negociação foi ainda mais além: Cristina é hoje vogal no conselho de administração da Media Capital Digital, com os pelouros de Novos Negócios e Talento.
Quer isto dizer que "manda" no diretor-geral Moniz? Na teoria não, uma vez que os administradores não se emiscuem na vida de diretores... Mas a verdade é que, nesta fase Cristina está "acima" e "abaixo" de Moniz. Um quebra-cabeças de poderes a seguir atentamente nos próximos meses...