
Os últimos anos têm castigado Marcelo Rebelo de Sousa em várias frentes e o resultado está à vista de todos: o Presidente da República está diferente, já não é o mesmo de outrora. Em quê, exatamente? As teorias são muitas. Há quem diga que perdeu a espontaneidade - que já viu que tantas vezes se pode virar contra ele -, que está menos efusivo e, acima de tudo, que não sente necessidade de se 'encaixar' e descobriu que é muito mais feliz longe dos grandes círculos políticos, dos meios mais elitistas, numa vida mais simples, em que se aproxima dos valores católicos com que sempre pautou a sua vida, mas que nunca antes fizeram tanto sentido.
As férias são um dos expoentes dessa mudança. Se antes, para Marcelo, percorrer o passadiço da Praia da Gigi, na Quinta do Lago, era o momento em que dizia aos seus pares: 'cheguei' e dava início a um verão exclusivo, agora, provavelmente, sente que isso era tudo uma enorme ilusão. Ficava, então, instalado no Hotel Quinta do Lago, onde há dez anos uma diária já rondava um valor entre os 500 e os 700 euros, colocava a conversa em dia com tantos rostos do Parlamento que ia encontrando pelos areais e reunia a família neste ambiente que era mais do que um estilo de vida, era uma tradição acessível a muito poucos e que o posicionava num determinado segmento.
Só que agora os netos andam algures pela China, a família desmembrou-se e até com o filho, Nuno, cortou relações devido à polémica das gémeas luso-brasileiras. Da namorada da altura, Rita Amaral Cabral, nunca mais se soube nada e aquela mancha de gente que aparecia ao lado do Presidente da República todos os anos no 'seu querido mês de agosto' como que se eclipsou.
Agora, Marcelo anda mais sozinho, mas não é que lhe entristeça essa vida solitária. A 'The Mag' sabe que em Monte Gordo, onde passa agora religiosamente férias, os seus dias são em tudo diferentes dos que gozava na Quinta do Lago. A começar pelo alojamento escolhido. Marcelo fica agora hospedado num simples hotel de três estrelas, o Baía, onde os preços são bem mais simpáticos do que na Quinta do Lago, que é como quem diz que a diária custa pelo menos cinco vezes menos em época alta.
O Presidente aluga o quarto ao ano para que este seu retiro desprovido de mordomias esteja sempre disponível para aqueles momentos em que a agenda cheia lhe dá uma aberta. E, na verdade, aos 75 anos, Marcelo sabe que não precisa de muito mais do que os seus livros, uma cama lavada e o mar algarvio para que as férias sejam aquilo que precisa: um retiro para que a sua cabeça possa não desligar mas como que anestesiar-se dos problemas.
UM HOMEM CADA VEZ MAIS ESPIRITUAL
Tudo o que tem acontecido a Marcelo levou-o a virar-se cada vez mais para dentro. O padre Vítor Melícias, seu grande amigo, confessor, disse ao 'Expresso' que o chefe de Estado sentiu necessidade de se fechar nos seus pensamentos para digerir aquilo que a vida lhe trouxe e encaixar uma realidade ainda mais difícil para um homem de fé que acredita e quer sempre professar os verdadeiros valores católicos.
"Temos falado, ele não está com a vida facilitada", afirma, acrescentando que o 'caso gémeas' tocou no ponto mais frágil de Marcelo, e por isso o magoou tanto. "É muito complicado, é a dimensão família."
O caso colocou a sua fé à prova e, mais do que nunca, Marcelo procurou nela respostas. Este ano, já foi visto numa rumaria a Fátima, entre os peregrinos, e quando o tempo livre não lhe permite tantos quilómetros, senta-se no banco mais recatado da igreja dos Jerónimos a rezar.
Criado no seio de uma família católica, Marcelo nunca deixou de professar a sua fé. E, na verdade, não é dos apregoam e não dão o exemplo. Não o faz para, depois, partilhar nas redes sociais ou fazer um reels a dar força a quem não está nas suas perfeitas capacidades: é como que um part-time silencioso, uma missão que assume nas suas horas vagas, em que dá e, de alguma forma, recebe conforto.
"Ele se sabe que alguém vai morrer, chega a pedir o contacto dessa pessoa fora de horas, gosta de ir junto dela e falar-lhe", contou uma pessoa próxima ao 'Expresso', recordando que tudo está relacionado com a sua fé inabalável.
Para quem sempre se regeu por estes princípios pode ser ainda mais difícil aceitar os acontecimentos dos últimos tempos, e essa é precisamente uma das chaves para entender porque é que o Marcelo do Gigi e das palmadinhas nas costas aos seus pares já não é o mesmo e precisou de fazer uma espécie de reset interior para se reencontrar consigo próprio numas férias desprovidas de luxos em Monte Gordo.