Poucos artistas conseguem chegar aos 81 anos e manter uma permanente aura de encantamento, como acontece com Julio Iglesias, que continua a ser um dos grandes nomes da música com sucesso à escala mundial. Mas não são só as canções que o fizeram mestre, isso é apenas parte de um pacote que envolve uma vida cheia, com muitos romances, escândalos, rumores de filhos ilegítimos, milhões e um mundo exclusivo e luxuoso acessível a muito poucos.
Este lado mais privado do cantor sempre despertou muita atenção. É aquele que o artista menos gosta de que se fale, mas a partir do momento em que o casamento com lsabel Preysler foi capa da 'Hola', estava aberta uma porta que Julio não mais conseguiria fechar. Depois disso, vieram os filhos, lindos – inclusivamente Enrique Iglesias, com quem está de costas voltadas – muitos affairs, romances e escândalos sentimentais, um coração partido e um novo casamento que o acompanha nos últimos tempos, com Iglesias a viver nas Bahamas, mas a sonhar com um regresso a Espanha, a terra que o viu nascer.
Todas estas memórias estão agora reunidas no livro 'O Espanhol que Encantou o Mundo', de Ignacio Peyró, uma biografia com salero, que conta aquilo que o cantor quer e não quer que seja tornado público. "Se por alguma razão Julio Iglesias decidisse falar comigo, teria de fazer um livro completamente diferente. Adoraria tê-lo conhecido, ter convivido com ele, como é óbvio. A ideia de estar com Julio Iglesias numa casa ao estilo de Miami, abrindo umas garrafas de Bordéus, adoraria, seria um sonho… mas para o que queria para este livro, não era de todo o que importava", explicou o autor ao 'Observador'.
O mesmo é dizer que, necessariamente, Julio teria condicionado uma narrativa sinuosa com muitas polémicas, que não interessam tanto a quem quer destacar uma carreira de sucesso. No entanto, o artista não quis falar e o livro conta agora um bocadinho de tudo: como queria ser futebolista, mas não singrou nas camadas jovens do Real Madrid ou como o seu percurso poderia nem ter chegados aos grandes êxitos, se não tivesse saído vitorioso da batalha de saúde que travou em tenra idade. Aos 20 anos, ficou paralisado depois de espirrar. Inicialmente os médicos suspeitaram de uma escoliose até terem descoberto que tinha um tumor na medula espinhal. A recuperação foi lenta, mas foi na convalescença que receberia um presente que lhe acabaria por mudar a vida: a primeira guitarra.
No primeiro concerto, teve uma branca em palco e por pouco não se lhe ouviria a sua voz, no entanto, os dados estavam lançados e na década de 70 já gozava de uma fama simpática em Espanha. O casamento com a belíssima Isabel Preysler deu-lhe o outro lado, que faltava, o de uma família encantada que faria múltiplas capas de revistas pelo país vizinho.
"A relação com Isabel Presley — e sobretudo o fim dessa mesma relação — definiu o futuro de Iglesias, marcou-o profundamente e ditou muitas das suas angústias, dilemas e decisões. Da mesma maneira que a difícil relação com o filho Enrique ainda hoje se mantém como uma das mais complexas realidades com a qual tem de lidar. E dificilmente haverá aspeto mais complexo do que estes na hora de moldar a personalidade de Julio Iglesias. Muito mais do que qualquer canção, sucesso, disco ou concerto", diz o escritor na mesma entrevista, referindo-se à forma como a socialite espanhola deixou o artista de coração partido, ainda que muito antes disso ele já lhe tivesse feito o mesmo uma centena de vezes.
Conta-se, em tom de piada, que, durante o noivado com Preysler, Iglesias cantou em 41 cidades de Espanha e teve 41 namoradas diferentes, sendo que as expressões Don Juan ou playboy se colariam à sua imagem como uma segunda pele. "Julio Iglesias não era apenas um sex symbol. Era também um Don Juan com o seu quê de promíscuo (...) Iglesias é um adjetivo. Há quem chame a alguém 'Don Juan', há quem use a expressão 'Julio Iglesias'. Talvez já não hoje, talvez isso tenha ficado preso noutro tempo…", disse Ignacio, acrescentando que esse facto tornaria a sua vida ainda mais palpitante aos olhos do público.
“Há muito pouca gente que no último século tenha tido uma vida tão preenchida e apaixonante como Julio Iglesias, que na década de 80 estava entre os 10 artistas mais ricos do mundo e um dos que mais discos vendeu – 300 milhões. Teve uma vida de felicidade e hedonismo, mas também de tragédias shakespearianas: aos 20 anos esteve a morrer com uma doença grave, depois foi apanhado por uma gravidez inesperada, teve um casamento imprevisto, uma rutura sentimental – tinha um don-juanismo doentio – e ficou marcado pelo sequestro do pai pela ETA”, disse o autor à 'Sábado', no retrato de uma vida cheia que convive com um outro lado mais melancólico de um Julio Iglesias descrito como solitário, mas ao mesmo tempo centrado nele próprio.
"Julio Iglesias é muito solitário e, ao mesmo tempo e por essa razão, é muito territorial. Para Julio Iglesias, nada mais existe senão ele e tudo o resto e todas as outras pessoas têm de girar à sua volta, tudo acontece submetendo-se a essa entidade maior, tudo tem que se subordinar a esse facto. Está a viver nas Bahamas, está bem, tem um barco novo e está muito melancólico em relação à idade. Mas não sei muito mais do que isto. E isso é interessante: apesar de todas as coisas que o tornaram num homem diferente de todos os outros, há coisas às quais ele não consegue escapar nem nunca vai conseguir, por muito que queira e que tente."
VIDA DE LUXO E SEGUNDO CASAMENTO
Depois de Isabel Preysler ter terminado o casamento, Iglesias ficou destroçado. “Perder Isabel desorientou Julio que se entregou ao don-juanismo quase niilista.” Após o desaire, curou as mágoas em Porto Rico, onde somaria conquistas de curta duração e quando no final dos anos 70 se mudou para o famoso bunker dos milionários, em Miami, com a fama no auge, viveria também anos de excessos sem limites em que exuberantes festas e mulheres bonitas andavam de braço dado. "O seu secretário pessoal, Toncho Nava, tinha a seu cargo a tarefa de ir comprando relógios Tank da Cartier que Julio oferecia às suas conquistas quando queria que desamparassem a loja. ‘Usei-o até hoje, fica com ele, assim lembras-te de mim’, dizia-lhes ele”, conta Peyró.
Os anos passaram-se assim e, talvez cansado da vida de excessos e mulheres que nunca permitia que permancessem na sua vida, em 1990 conheceria a mulher que o faria casar-se pela segunda vez, Miranda Rijnsburger, holandesa, de apenas 24 anos, 22 mais nova do que ele. A partir desse momento, deixaria a vida de Playboy e voltaria a entregar-se aos laços de família, que continuou a crescer: juntos, tiveram mais cinco filhos.
De lá para cá, foi-se retirando dos palcos, e hoje a sua vida está envolta em mistério. Diz-se que está doente, que pode ser cancro, e que terá comprado uma propriedade em Ourense, perto do local onde nasceu no derradeiro apelo do regresso a casa. Julio vai desmentindo a debilidade, mas é inegável que a sua vitalidade física já não é a mesma, o que o levou a uma discreta retirada dos palcos.
“Nos últimos concertos, ele já não conseguia estar onde queria. Decidiu retirar-se numa espécie de presença por ausência, de forma a que toda a gente queira saber onde ele está. Julio tem mais de 80 anos, não aceita bem a idade, e não quer que o vejam a arrastar-se no palco”, revela Ignacio Peyró à 'Sábado'.
