
O que tem Letizia de fazer para conquistar definitivamente o país do qual é rainha? Para deixar de polarizar opiniões? Quando foi anunciada como noiva do Felipe, na altura príncipe herdeiro, a asturiana já era um rosto conhecido dos espanhóis, pois entrava-lhes todas as noites em casa como pivô do principal bloco de notícias da TVE. Elegante, bonita, com um apurado sentido de moda e com uma formação acima da média, a jornalista reunia todas as condições e atributos para se tornar a protagonista de um conto de fadas: a plebeia que casava com o bonito príncipe. A mulher independente de classe média que entrava de rompante na alta realeza.
Mas, curiosamente, os bons ingredientes desta "história" não foram suficientes para Letizia ser amada pelos súbditos, já para não falar de uma elite monárquica, muito ligada aos Borbón, e especialmente dos amigos mais próximos de Felipe. Esses foram os primeiros a revirar os olhos e a torcer o nariz à nova princesa. Nunca foi aceite no círculo restrito das amizades do marido e até teve (e ainda terá) direito a uma alcunha menos simpática. O mesmo aconteceu no seio da família do marido. O sogro, o então rei Juan Carlos, tinha até vergonha da nora, não a considerando a mulher ideal para se apresentar ao lado do filho e, muito menos, para um dia receber o título de rainha consorte. E neste ponto até a Constituição de Espanha jogava a favor do pai de Felipe: "Aquelas pessoas que tendo direito à sucessão ao trono contraírem matrimónio contra a expressa proibição do rei e das cortes, ficarão excluídas da sucessão à coroa para si e para os seus descendentes". Mas Juan Carlos não teve coragem de proibir o casamento.
RAINHA DE FEITIO DIFÍCIL
É evidente que a personalidade da antiga jornalista não ajudou nada à tão desejada aproximação ao povo. A atitude que teve com Felipe, frente aos jornalistas, no dia em que foi apresentada oficialmente como noiva do príncipe acabou por marcar para sempre a ideia que se passou a ter de Letizia. Em Espanha e no mundo. Dela ficou-se com a ideia de ser uma mulher impertinente, caprichosa e mandona. Uma imagem muito pouco simpática que a mulher de Felipe VI ainda não conseguiu apagar. Mas será que está ela interessada em apagar seja o que for? Não parece. A mulher de Felipe, que se tem revelado resiliente, interventiva, espontânea, impaciente, hiperativa e determinada, insiste em exibir orgulhosamente essa sua personalidade forte. Contra tudo e contra todos.
Os inimigos agradecem-lhe esta sua posição. Aproveitam para fomentar uma imagem negativa da rainha, realçando-lhe os traços mais vincados da sua personalidade, dizendo que são defeitos. Há quem continue a não querer que a rainha entre no coração do povo. Mas enquanto estas intrigas vão sendo tecidas nos bastidores, Letizia esforça-se para desempenhar as suas funções o melhor que pode e sabe e a defender a monarquia de forma determinada e empenhada. Mesmo sabendo que aos olhos de muitos espanhóis não é a rainha desejada, ela não se deixa abater. Persistente e aguerrida, Letizia tem uma enorme capacidade de trabalho, além de ser deveras resiliente.
OS PONTOS FRACOS DE LETIZIA
Perfecionista e muito exigente consigo, Letizia raramente é apanhada num passo em falso. Vive obcecada em não dar trunfos aos que não gostam dela e quer provar aos Borbón e aos monárquicos em geral que erraram ao subestimá-la e, especialmente, em tentar inferiorizá-la aos olhos do mundo. Só que essa pressão que tem sob os ombros, mais o facto de ter consciência de que é escrutinada ao pormenor, desde o que veste, ao gestos, às palavras e até às atitudes, a rainha acaba sempre por transmitir uma postura rígida e contraída. Este duelo de forças deixa-a tensa, angustiada e pouco empática. Aparenta estar em alerta permanente. Como que à espera que alguém a critique por colocar mal o pé ou por algo que diga e não deveria dizer. Algo que, diga-se, também não abona a seu favor. Dá sempre a ideia que nada é natural em si. É tudo muito estudado e em esforço. Mais um ponto que não ajuda a criar a aproximação desejada. A rainha gostaria de poder pronunciar-se livremente sobre todo este seu percurso e, sobretudo poder responder livremente aos seus críticos. Denunciá-los. Mas não pode!
Este tem sido o ponto que mais tem dificultado a sua adaptação às funções reais: "Para uma jornalista de raça, como os seus familiares e ex-colegas a definiram, o mais doloroso de ser rainha é a impossibilidade de se expressar. Perder o poder de expressar uma opinião livremente. Quando fala, representa a monarquia, já não é a Letizia Ortiz", garante a jornalista Carmen Duerto, autora do livro 'Letizia, Una Mujer Real'. Já a sogra, a rainha emérita Sofia, aconselhou-lhe prudência nas palavras e explicando-lhe que os reis não se defendem: "Há que engolir o sapo. Saber receber, saudar e sorrir, como se nada fosse". Mas ainda há uma outra coisa com a qual a mulher de Felipe VI não soube lidar. Não se resignou ao papel secundário que, supostamente lhe estava destinado."Ela mesma me disse, ainda princesa, que não queria ser mulher-jarrão. Ela insistiu muito nisso. Não estava disposta a limitar a sua atividade a quermesses ou ações de caridade com mulheres da alta sociedade, ela era outra coisa. Ela veio do mundo real. Ela é uma rainha ativa. Ela tenta resolver tudo o que está nas suas mãos", opina Carmen Duerto.
FINALMENTE SEGURA E FELIZ Pouco antes de se tornar princesa, disse Letizia: "Sempre fui uma mulher lutadora. Nunca ninguém me ofereceu nada... Cada um tem o seu conceito de êxito. O importante é estar bem consigo mesmo e ser honesto no que se faz". E, de facto, neste seu caminho real, a antiga jornalista tem feito de tudo para não falhar e poder corresponder às expectativas que têm de si. Talvez por perceber que ainda não "escorregou" e tem sabido cumprir o que lhe é exigido, nunca se mostrou tão segura de si como agora. A rainha atingiu a melhor fase da sua vida desde que casou com Felipe e entrou para a família real como a primeira mulher sem sangue azul. Os seus detratores não lhe perdoam este momento de glória e acusam-se de ser cada vez mais altiva. Só que a rainha consorte já parece saber lidar melhor com as críticas. Levanta a cabeça e prossegue o caminho traçado.
Pouco antes de se tornar princesa, disse Letizia: "Sempre fui uma mulher lutadora. Nunca ninguém me ofereceu nada... Cada um tem o seu conceito de êxito. O importante é estar bem consigo mesmo e ser honesto no que se faz". E, de facto, neste seu caminho real, a antiga jornalista tem feito de tudo para não falhar e poder corresponder às expectativas que têm de si. Talvez por perceber que ainda não "escorregou" e tem sabido cumprir o que lhe é exigido, nunca se mostrou tão segura de si como agora. A rainha atingiu a melhor fase da sua vida desde que casou com Felipe e entrou para a família real como a primeira mulher sem sangue azul. Os seus detratores não lhe perdoam este momento de glória e acusam-se de ser cada vez mais altiva. Só que a rainha consorte já parece saber lidar melhor com as críticas. Levanta a cabeça e prossegue o caminho traçado.
E se está longe de reunir a simpatia do seu povo - continua a não conseguir subir na tabela de popularidade dos membros da realeza - Letizia já não perde muito tempo a carpir mágoas. Sabe que está a fazer um bom trabalho e está convencida de que mais cedo ou mais tarde os espanhóis vão reconhecer-lhe a dedicação. Tem lutado a pulso pelas mais pequenas conquistas que vai conseguindo no seu papel de rainha. Nada lhe foi facilitado. Por tudo isto, acredita plenamente que o dia chegará em que o país acabe por enartecer a sua entrega a Espanha e à coroa. Nem que seja apenas quando a filha mais velha, Leonor, subir ao trono e ela, Letizia, assumir o papel sempre tão respeitado e acarinhado de rainha-mãe. Confia que já tem um lugar na história de Espanha reservado para si.