
A dias de conhecermos quem será o novo Primeiro Ministro de Portugal, o país está em suspenso e os principais candidatos aguardam com ansiedade para saber de que forma as eleições irão impactar a sua vida, carreira, mas também os sonhos da família.
Na casa do socialista Pedro Nuno Santos, a sua eleição obrigará a mudanças estruturais, não isentas de sofrimento. O assunto foi debatido várias vezes entre o político e Catarina Gamboa, de 41 anos, até ambos chegarem à conclusão que não havia outra forma de lidar com o caso: a mulher do líder do PS terá mesmo de apresentar a demissão caso o companheiro seja o novo Primeiro Ministro de Portugal, de 46 anos.
Em 2019, Catarina Gamboa chegava ao topo da sua carreira, tendo sido nomeada chefe de gabinete do secretário de Estado Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro. Pela função, passou a receber um ordenado líquido de 2.784,05 €, que agora está a um ponto de saber se terá ou não de abdicar, de acordo com o resultado eleitoral.
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"Nós partilhamos uma vida, tomamos opções em conjunto, e essas opções às vezes têm consequências num dos dois", argumentou Pedro Nuno Santos, acrescentando que, no caso dos dois, não é fácil separarem a vida pessoal da carreira política. Foi no meio que se conheceram, acompanhando os sucessos um do outro a par e passo. "Foi na política que a conheci. Nós tentamos separar [a vida familiar do trabalho], nós queremos o sucesso um do outro", realçou.
Mas cedo perceberam que o facto de ambos desempenharem cargos públicos estaria muito mais na mira do público do que aquilo que algum dia poderiam ter imaginado e, em 2019, quando o sentiram pela primeira vez na pele, tomaram uma decisão: publicamente separariam cada vez mais as águas em nome de uma estabilidade, principalmente em prol do único filho, Sebastião, hoje com sete anos.
A polémica estoirou quando Catarina Gamboa foi convidada para ser chefe de gabinete de Duarte Cordeiro. Apesar de já ter uma carreira sólida de vários anos, viu, na altura, o seu profissionalismo questionado, com acusações de que só tinha sido convidada porque era mulher de Pedro Nuno Santos. Revoltado, o político acabaria por escrever um longo desabafo nas redes sociais.
Em 2019, por exemplo, o então Ministro das Infraestruturas viu a idoneidade da companheira questionada, quando esta foi nomeada nova chefe de gabinete da secretaria de Estado dos Assuntos Parlamentares - o anterior cargo do atual ministro, lugar que tinha sido ocupado por Duarte Cordeiro.Perante as questões que surgiram, o político acabaria por fazer um longo esclarecimento nas redes sociais, em que lamentava que o profissionalismo de Ana Catarina Gamboa, de 41 anos, tivesse sido posto em causa, apenas pelo facto de ser sua mulher.
"A Catarina, que é a minha mulher e a mãe do meu filho Sebastião é, também, a Catarina Gamboa: excelente profissional, pessoa de enorme competência e confiança", escreveu Pedro Nuno Santos.
"O povo tem o direito de questionar e de querer garantir que os cargos de poder político não são usados para que alguns se sirvam a si e às suas famílias. E é obrigação dos políticos não apenas garantir que essa situação não tem lugar, mas também responder, com verdade, às dúvidas e perplexidades que possam surgir", escreveu, acrescentando ter o dever de esclarecer o assunto, tanto para o povo português como pelo bom nome da família. "Para com o povo português mas também por respeito ao Duarte e, sobretudo, à Catarina, que não merece ser menorizada no seu percurso profissional - que nada deve a mim - apenas por ser minha mulher".
"Podia dizer que a nossa história é tão banal como a de qualquer outro casal. Mas compreendo que o grau de escrutínio público a que estamos sujeitos, pelas nossas funções, não possa ser banal. É por compreender essa necessidade de transparência que também gostaria que compreendessem que não posso abdicar da defesa de um princípio que considero muito importante: o de que ninguém deve ocupar uma função profissional por favor, como ninguém deve ser prejudicado na sua vida profissional por causa do marido, da mulher, da mãe ou do pai", concluiu.
O DRAMA DO ABORTO
Apesar de Catarina Gamboa ter estado ausente da campanha eleitoral, Pedro Nuno Santos abriu algumas exepções para falar da vida privada e mostrar o seu lado mais familiar.
O líder socialista, que vive com a mulher e o filho num apartamento em Telheiras, comprado por 740 mil euros, revelou que, apesar de manter um casamento feliz, nem tudo tem sido fácil neste percurso com o ano de 2022 a ficar para a história como um dos mais difíceis da vida a dois, com o casal a ter sido impedido de concretizar o sonho de aumentar a família.
"2022 foi um ano duro, negro. Muito difícil para mim e para a Catarina [a mulher]. Havia projetos de vida que nós não conseguimos. Queríamos uma família maior e nunca conseguimos", revelou Pedro Nuno Santos em conversa no 'Alta Definição'.
"Temos uma grande alegria e, depois, temos uma desilusão", continuou, para dar conta que, por detrás da sua postura serena, estão, na maioria das vezes, outros sentimentos que as pessoas não conhecem. "Habituamo-nos a conviver com um político e esquecemo-nos de que há ali vidas como as outras".
"Como é que aquilo que é tão importante para mim, tão importante para a Catarina e o que nos aconteceu… como é que amanhã tenho de fazer de conta que estou como estava antes?'", questionou.
Apesar das adversidades, a família manteve-se unida, em tempos que nem sempre foram fáceis, com Pedro Nuno Santos a ver o seu nome questionado, numa fase em que tinha também cada vez menos tempo para dedicar aos seus.
"Os últimos dois anos não foram anos fáceis e, portanto, eles também sofreram com isso. É natural que eles sintam ausência, a minha ansiedade, a minha angústia, as alegrias e as tristezas. O meu filho sente muito a ausência do pai, faz notar isso e isso preocupa-me. Primeiro, porque queria estar com ele e isso faz-me falta também a mim. (...) Normalmente sou eu que o deito à noite, mas isso não tem acontecido e ele telefona-me e pergunta-me quanto tempo é que eu demoro, a que horas é que chego e eu digo a verdade", disse, sem esconder que tem medo de se vir a tornar um pai ausente. No entanto, acredita que com um bom suporte tudo irá ser gerido.