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Lembra-se do filho mais novo de Maria das Dores? Cresceu, agora é médico, mas nunca perdoou a mãe por ter encomendado a morte do pai

Duarte tinha apenas oito anos quando o pai, Paulo Pereira da Cruz, foi barbaramente assassinado a mando da mãe. Descrita em tribunal como uma criança superiormente inteligente, recusou, a partir desse dia, qualquer contacto com Maria das Dores, que afastou da sua vida. Sem mãe nem pai, foi criado pelos avós paternos, a quem agradece tudo. Hoje, é médico, tem uma banda e dificilmente restabelecerá laços com a mãe. "A minha intuição diz-me que é praticamente impossível", admite o irmão, David Motta.
Rute Lourenço
Rute Lourenço
06 de março de 2025 às 20:31
Maria das Dores
Maria das Dores

O crime macabro ficará para sempre na história dos horrores que mais fizeram correr tinta em Portugal. Em 2007, o rosto de Maria das Dores, que até aí aparecia pontualmente em algumas revistas cor-de-rosa, passou a estar, de repente, em todo o lado. Se inicialmente a socialite ainda conseguiu fingir surpresa pelo assassinato do marido, Paulo Pereira da Cruz, também conhecido como 'milionário do Oeste', a fachada não foi mantida por muito tempo.

O empresário era então encontrado morto no interior do seu apartamento, na Avenida António Augusto Aguiar, em Lisboa, com um saco plástico na cabeça, atado com fios elétricos. Maria das Dores, vista a entrar no prédio com o marido, dava, na altura, a sua versão dos factos: por pouco não tinha testemunhado tudo, pois um súbito ataque de claustrofobia, garantia, tinha-a levado a subir pelas escadas ao invés de ir pelo elevador com o companheiro. Demorou a recuperar do achaque e quando chegou ao apartamento, e uma vez que não tinha consigo as chaves, afirmava ter batido durante minutos, e não tendo obtido resposta, acionou os meios de socorro. Foi ela quem encontrou Paulo Pereira da Cruz sem vida, tendo testemunhado perante as autoridades no papel de viúva sofrida. Porém, rapidamente o mistério seria desfeito e a versão da socialite caía por terra. Os autores materiais do crime - o motorista João Paulo Silva  e Paulo Jorge Horta, um funcionário da construção civil - semearam pistas que possibilitaram aos investigadores chegar até eles. Acabariam por confessar o crime e revelar a autora moral do mesmo: Maria das Dores. Foi condenada a 23 anos de prisão, tendo cumprido 16 e saído recentemente em liberdade.

O processo que levou a esse desfecho acabaria por tornar-se num caso altamente mediatizado, com Maria das Dores no centro da polémica e, por outro lado, uma criança inocente, de apenas oito anos, arrastada para o meio do cenário dantesco. Duarte, o único filho do casal, ficou em estado de choque e, desde o primeiro dia, recusou-se a manter qualquer relação com a progenitora. Descrita como uma criança "superiormente inteligente", não quis ir ao primeiro encontro promovido pelas psicólogas e desde então ficou entregue à guarda dos avós paternos, que já antes do crime mantinham uma relação tensa com a socialite. Apesar das múltiplas tentativas, Duarte cortaria todos os laços com o lado materno, uma situação que se mantém até hoje como o filho mais velho de Maria das Dores, David Motta, do primeiro casamento, revelou recentemente a Manuel Luís Goucha.

"Perdeu-se a relação totalmente. Eu gostaria, mas a intuição diz-me que é muito complicado ou quase impossível (restabelecer a relação). E Isso entristece-me bastante, mais pela minha mãe. Sei que se isso algum dia acontecer terá de ser sempre depois da partida da avó, o avô paterno já morreu", explicou, acrescentando que, por uma vez, tentou entrar em contacto com o irmão, numa altura em que a mãe estava doente, o que não resultou em quaisquer avanços.

Duarte tem hoje 25 anos, é médico, da especialidade de Estomatologia, e exerce num hospital central de Lisboa. Tem ainda uma banda de música e publicamente não se cansa de agradecer aos avós paternos por tudo o que fizeram por ele, salvando-o na altura mais dramática da sua vida. Na tese de final de curso, as suas palavras para aqueles que substituíram o papel dos pais, revelaram-se emocionadas. "Ao meu avô, médico, que já não está entre nós, por me ter encaminhado para este lindo percurso, e por ter moldado o homem que sou hoje. À minha avó, pelo apoio, carinho, apoio e paciência e a quem devo tudo", escreveu Duarte, que apesar de toda a polémica, não retirou do nome o apelido da mãe, Apalhão.

Entre a paixão pela medicina e o gosto pela música, Duarte convive entre dois mundos diferentes que a mãe e o irmão vão acompanhando com a devida distância. "Ele hoje em dia, para além de ser médico, tem uma banda e isso trouxe-nos alguma satisfação porque à distância, virtualmente, podemos acompanhá-lo. E também me alegra a direção artística da banda porque apesar de ele ter sido um miúdo que cresceu em sofrimento, com a ausência da mãe e do pai, com os avós que fizeram o melhor por ele, mas que educado em colégios da Opus Day, com uma educação muito conservadora, alegra-me o facto de ter acesso a conteúdo na internet e ver que o meu irmão também pinta a cara com maquilhagem", fez saber David Motta, que esteve sempre ao lado da mãe.

Ao longo do tempo em que esteve presa, Maria das Dores tentou sempre chegar ao filho mais novo e, no livro que escreveu, deixou-lhe uma mensagem direta em que lhe pedia perdão. "Duarte, perdoa-me. A minha sentença não é a prisão, é saber que, por aquilo que te fiz, não mereço voltar a ver-te. Mas, se algo desejaria, antes de morrer, era que um dia pudéssemos voltar a estar os três, juntos outra vez." No entanto, a relação entre mãe e filho nunca viria a ser restabelecida.

MARIA DAS DORES REVELA AS MOTIVAÇÕES PARA O CRIME

Maria das Dores e Paulo Pereira da Cruz viveram uma história de amor fulgurante da qual nasceu Duarte, mas ao período de grande paixão sucedeu-se outro verdadeiramente dramático, que iria contribuir para o desmoronar do casamento. Num grave acidente de carro, em que o marido ia ao volante, a socialite ficou com graves sequelas físicas e teve de ser amputada de um braço. Depois do acidente, passaria por uma grave depressão que a levaria a engordar vários quilos. O casamento, esse, seguia o mesmo caminho pelo abismo. 

"O medo de ficar sozinha cegou-me. A raiva por me sentir desprezada anulou-me. Estava com ciúmes por saber que ele (Paulo Pereira da Cruz) já não olhava para mim como a 'Mimi' (como antes carinhosamente a tratava) que o tinha seduzido. Agora, aos seus olhos, eu era apenas a Maria Gorda, uma mulher envelhecida e cheia de dores. O Paulo tinha-se cansado de mim", escreveu no livro em que contou a sua história.

Maria das Dores
Maria das Dores

Demorou a assumir a sua quota parte de culpa publicamente, e disse que se arrependeu de forma quase imediata do crime que tinha encomendado, mas que já nada havia a fazer.  "Disse só [ao motorista] que queria que lhe batessem. E ele perguntou: ‘mas bater como?’ e eu disse: ‘quero que o Paulo morra. Quero que o meu marido morra’. Disse isso", confessou a Cristina Ferreira, acrescentando que o crime aconteceu numa sequência de maus tratos psicológicos.

"Foi depois de muita muita coisa. Muitos episódios de maus-tratos verbais. De me chamar ‘Maria gorda’, de dizer: ‘Olha aquela tão gira’. Depois de tantas coisas feias. E de eu cada vez me sentir mais pequenina. Quando toda a vida me senti uma mulher segura, uma mulher bonita. Sentia-me uma mulher segura, mesmo com apenas 1,53 cm . Era tratada como ‘não tens braço. Pesas 100 quilos’".

Ao longo do tempo na prisão, admite ter-se arrependido do que provocou, da vida que mandou roubar e agora, e depois de ter cumprido parte da sua pena, Maria das Dores mostra-se arrependida de ter mandado tirar a vida ao marido e também das vidas que destruiu pelo seu ato. "Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. É o que sei. E eu fi-lo. Portanto, tudo de mal que me aconteça é pouco. Tenho de pedir perdão às pessoas que vitimizei. Agora, não sou uma psicopata nem ando para aí a pensar em matar pessoas. Acho que a paixão que tinha por ele tocou o ódio, naquele dia. Tínhamos estado em Nova Iorque e as coisas tinham corrido tão mal. Ele tratou-me tão mal em dezembro, isto foi em Janeiro."

Hoje em liberdade, Maria das Dores tenta restabelecer a sua vida, ainda que com as devidas limitações. Leva dias pacatos numa pequena localidade junto ao mar. A grande tristeza, que um dia espera conseguir reverter, é a ausência do filho mais novo da sua vida. 

"Três, quatro anos depois, comecei a aperceber-me de que, na realidade, tinha causado uma catástrofe. Tinha vitimizado muita gente. E tinha sido a causadora daquilo tudo. E aí comecei a sofrer, a aperceber-me do porquê. (...) Ninguém tem o direito de tirar a vida a ninguém. E isso, nunca me vou desculpar", disse.




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