
É no dia 15 de outubro que começa, finalmente, o julgamento do caso BES, no entanto o arranque está envolto numa aura de polémica. Apenas duas semanas antes da data, fica-se agora a saber que acabam de prescrever 11 dos crimes em julgamento, dos quais 3 – falsificações de documento e infidelidade – estavam imputados a Ricardo Salgado, antigo presidente do Banco Espírito Santo.
Segundo o 'Observador' e a SIC, o despacho judicial revela que, ao todo, são 7 os arguidos que beneficiaram desta prescrição, incluindo Salgado, Amílcar Morais Pires e Francisco Machado da Cruz.
O julgamento vai começar finalmente no próximo dia 15 de outubro, mais de 10 anos após o colapso do Grupo Espírito Santo, em agosto de 2014 que, de acordo com o Ministério Público, terá causado prejuízos superiores a 11,8 mil milhões de euros.
Ricardo Salgado, acusado de 65 crimes, entre os quais associação criminosa, corrupção ativa, falsificação de documento, burla qualificada e branqueamento, é um dos principais arguidos do processo, mas a defesa está a fazer de tudo para evitar que vá a julgamento. Em causa está a doença de Alzheimer que o afeta há vários anos, com os advogados a requererem uma nova perícia neurológica para provar que o arguido não está em condições para enfrentar o julgamento.
A defesa de Salgado diz mesmo que Portugal arrisca uma condenação no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos caso insista em julgar ex-banqueiro.
Para sustentar a alegação, cita o caso semelhante do banqueiro alemão Christian Olearius, acusado de fraude fiscal, cujo estado de saúde débil levou a que tivesse de ser afastado do julgamento.
MULHER, MARIA JOÃO, ASSUME COMANDO
Com Ricardo Salgado a mostrar, alegadamente, cada vez mais sinais de confusão mental, há muito que a mulher, Maria João, assumiu os comandos da família. A vida é agora necessariamente diferente dos tempos em que o marido era dono do BES e a agenda social dos dois fervilhava de eventos e solicitações.
De lá para cá, tudo mudou para o casal. De uma casa cheia, os dois viram os filhos (e consequentemente os netos) abandonar umpor um o país por não aguentarem o inferno que a vida se tornou desde que a polémica em torno do BES rebentou. Da única vez que quebrou o silêncio sobre o que estava a passar, Maria João referiu ao tribunal o drama que em que a vida dos dois se transformou desde que foi diagnosticada a Ricardo Salgado a doença de Alzheimer.
"Sou casada há praticamente 60 anos, sou eu que vivo com ele, sou a pessoa que melhor o conhece. Está doente, a doença infelizmente tem progredido, o Ricardo tem dificuldade de fazer tudo sozinho, tem dificuldade... Eu tenho de estar com ele para ele ir à casa de banho. Durmo com ele e tenho de estar com atenção porque ele levanta-se de noite e não acende a luz. Custa-me dizer isto do meu marido, mas ele não tem independência nenhuma hoje em dia. Tem umas atividades, pode ficar sozinho a ver televisão. Já se tem perdido em casa. No outro dia foi à cozinha perguntar se tinha uma sanita para mim… Muitas vezes não se lembra dos nomes dos netos. Tem de pensar muito e normalmente mistura os filhos com os netos", afirmou, de voz embargada.
Em Portugal, a mulher de Ricardo Salgado aguenta o barco sozinha, sendo que à distância conta com o grande apoio da filha Catarina, casada com o milionário Philippe Amon, que lhes dá uma mesada de 40 mil euros para que possam manter os luxos a que se habituaram, e os tira, uma vez por ano, do inferno silencioso de Cascais para que possam respirar o ar fresco dos Alpes e recordar um pouco do que era a sua própria vida, no castelo dos Amon, na Suíça.
Com autorização do tribunal, o casal viaja durante um período por ano para o castelo que o genro tem na Suíça e é lá que, por momentos, Maria João Salgado consegue abstrair-se do pesadelo que vive em Portugal onde, com o marido doente, foi obrigada a assumir o peso de tomar todas as decisões e, acima de tudo, como será o futuro, que começará a desenhar-se a partir do momento em que houver uma sentença do caso BES