Quando, em abril, foi eleito presidente do FC Porto ocupando o lugar histórico de Pinto da Costa, que estava há mais de quatro décadas na cadeira do poder, André Villas-Boas estava galvanizado pelo espírito de euforia e da conquista. Os primeiros meses foram passados a arrumar a casa, a verificar contas que raramente batiam certo, e a preparar a nova época, sendo que umas pequenas férias pelo meio ajudariam a colocar tudo em perspetiva: sentia-se preparado para o desafio que tinha em mãos.
Só que a nova época desportiva haveria de trazer um misto de alegrias e preocupações que o líder portista tem sentido mais na pele do que nunca. Da contestação ao nome que ele escolheu para liderar a equipa, até algumas derrotas pelo meio, uma fonte mostra-se preocupada com a forma como o presidente azul e branco poderá estar a lidar com a pressão, podendo estar mais impreparado do que aquilo que até ele próprio acharia.
"Não parece o mesmo, mas é natural. Já se esperava que ele começasse a acusar a pressão", diz uma fonte, acrescentando que a mulher, Joana, e os amigos, naturalmente, estão a acompanhar de perto estas mudanças.
"Já se sabia que ia ser duro. E a verdade é que tem um ótimo suporte familiar. A Joana está lá a transmitir-lhe calma."
No entanto, nem sempre Villas-Boas se sente munido dessa serenidade. No último jogo frente ao Estrela da Amadora, que o FC Porto venceu, os ânimos aqueceram no túnel de acesso ao relvado, e o presidente portista foi acusado de ter perdido a cabeça.
"Estávamos tranquilamente a conversar sobre as expulsões. Demonstrei o meu desagrado com a expulsão do José Faria, porque acho que foi excessiva, e quando estava a falar sobre o segundo amarelo ao Danilo irrompe o presidente do FC Porto completamente alterado. E a proferir palavras como 'onde pensam que estão?' e ' vão para a vossa casa"... E, para nós, não fez qualquer tipo de sentido. Com empurrões e gritos. Não entendo o que terá levado a entidade máxima do FC Porto a ter uma atitude tão radical como esta", disso o vice-presidente do Estrela Dinis Delgado, acrescentando que Villas-Boas estava "completamente alterado".
Uma atitude rara no portista, que sempre foi conhecido por ter um perfil mais ponderado, que era, aliás, o que muito o distancia da antiga liderança de Pinto da Costa, da qual sempre quis criar uma linha de separação, seja pelo combate à corrupção, seja pela tal imagem mais politicamente correta.
PINTO DA COSTA VIVE DIAS DIFÍCEIS
Enquanto Villas-Boas continua o seu percurso no Dragão, Pinto da Costa vive os dias mais difíceis da sua vida, mas rodeado de amor. A lutar contra um cancro, aos 86 anos, o antigo dirigente esteve recentemente internado mas recebeu alta a tempo de passar a Consoada em casa e também o seu aniversário, que se assinala a 28 de dezembro.
Com a doença a progredir rapidamente, os tempos são de incertezas para Pinto da Costa que, apesar do frio, fez questão de ir até ao Estádio do Dragão para assistir recentemente a um jogo.
De realçar também o facto de ter alcançado algo que há muito era desehado: as pazes com o filho Alexandre, que esteve no hospital a visitar o pai, enterrando um machado de guerra que durou cerca de dois anos.
