A história de Pinto da Costa e do filho, Alexandre, é tudo menos linear. Ao longo da vida, tiveram várias desavenças, desentenderam-se por ninharias, mas também por coisas sérias e quase sempre por causa do futebol. Passaram uma década de costas voltadas, fizeram as pazes mas voltariam a deixar que as mágoas falassem mais alto e os últimos anos foram novamente passados sem trocar uma única palavra. Quem os conhece, sabe que Pinto da Costa e Alexandre são assim: dois feitios provavelmente demasiado parecidos para encaixarem, duas pessoas obstinadas e com convicções fortes, que muitas vezes chocam e entram em conflito.
No entanto, se muitos achariam que podia já não haver um caminho comum a uni-los, na reta final, Alexandre voltou a procurar o pai.
A pressão era muita. Aos 86 anos, e a lutar contra um cancro na próstata, que se espalhou, o antigo presidente do FC Porto está na sua posição mais vulnerável e cada dia tem agora um peso diferente. E se a situção já era grave o suficiente, o internamento recente de Pinto da Costa fez disparar todos os alarmes. A cada dia que passa, o cancro assume-se como mais presente e visível e deixa o ex-homem forte dos dragões a braços com uma maior sensação de finitude.
Ora, e se até aqui tal não tinha sido suficiente para amolecer o coração de Alexandre, a FLASH! sabe que nos últimos tempos a situação mudou de figura. "O Alexandre esteve no hospital várias vezes, costuma dizer-se que é nestas situações mais difíceis que as famílias se unem. Claro que há muitas coisas a afastá-los, claro que as coisas não ficam sanadas de um dia para o outro, mas a situação é crítica e pai é pai", diz uma fonte, acrescentando que Alexandre foi visto por mais do que uma vez no Hospital Cuf Porto antes de o pai ter alta, no final da semana passada.
Este era um dos grandes desejos de Pinto da Costa, que já o tinha manifestado publicamente. No seu livro, falou várias vezes sobre o filho, mostrou o quanto lhe doía estar distante de Alexandre, mas o agente desportivo seria das poucas pessoas próximas que não marcariam presença no lançamento de 'Azul Até ao Fim', na Alfândega do Porto.
No entanto, depois desse momento, em que esteve rodeado de amigos, a saúde de Pinto da Costa começaria a dar verdadeiros sinais de alarme e essa consciência em conjunto com alguma pressão familiar, faria com que Alexandre se dispusesse a enterrar o machado de guerra.
PREOCUPAÇÃO COM A HERANÇA
Pinto da Costa sempre se mostrou um homem de convicções fortes, de 8 ou 80, mas também com capacidade de perdão e de saber voltar atrás. Já o fez em algumas situações, com pessoas ligadas ao futebol, como foi o caso de Luís Filipe Vieira - com quem selou as pazes recentemente - por isso mais facilmente o faria com o próprio filho.
No passado, tinham estado dez anos sem se falar por questões relacionadas com negócios de jogadores e há um par de anos voltou a ser o futebol novamente a afastá-los. No entanto, o antigo presidente portista nunca conseguiu dirigir a Alexandre o mesmo ódio com que brindava os seus inimigos e no seu livro falou sempre do afastamento com mágoa e tristeza.
"Por discrepâncias com o meu filho Alexandre, não passámos o Natal em conjunto com os restantes familiares, nem sequer nos encontrámos. TRISTE. Por essas ausências senti-me triste", escreveu, numa ocasião sobre o Natal de 2023", reforçando, mais tarde, essa ideia. "O Natal deste ano foi muito triste para mim porque faltou o meu filho, que por motivos de 'lana-caprina' (insignificância) se afastou de mim. Foi uma mágoa sempre presente", escreveu sobre o facto de Alexandre não ter estado presente no Natal de 2023.
Ainda assim, até ao fim manteve a esperança na reconciliação e falou sempre de Alexandre com o mesmo amor que dirigia à filha mais nova, Joana.
Os dois são os legítimos herdeiros da fortuna de Pinto da Costa, que no seu livro de memórias se mostrou também preocupado sobre a forma como os dois irmãos - frutos de relacionamentos diferentes - se irão entender em relação à divisão de bens.
"Neste momento, duas preocupações enchem a minha cabeça e o meu coração. Na minha falta, como será o relacionamento dos meus filhos? Como se vão entender na divisão dos meus bens?", questionou, deixando-lhes o mesmo conselho que a própria mãe lhe deu na sua despedida. "Já lhes lembrei o que a minha querida Mãe nos dizia, a mim e aos meus irmãos: 'Entendam-se, senão metade do que vos deixo será para os Tribunais e advogados. Sábias palavras, que todos seguimos, e tudo dividimos sem o mínimo atrito."
Pinto da Costa aproveitou ainda o momento para reforçar que não tem fortunas escondidas em paraísos fiscais. "Já disse aos meus filhos que não tenho qualquer conta no estrangeiro, nem qualquer sociedade", escreve no livro 'Azul Até ao Fim'.
Consciente da gravida da doença, Pinto da Costa acautelou a própria morte em vida: tratou do funeral, pagou-o, inclusivamente, e fez uma lista das personas non gratas que não queria que lá estivessem a carpir falsas mágoas. Nem nos momentos de maior revolta o filho alguma vez foi incluído nessa lista. Agora, os dois voltam a unir-se, numa altura em que o ex-presidente portista se prepara para assinalar o 87º aniversário, a 28 de dezembro.
