
Rúben Semedo tinha tudo para ser o puto que conseguiu fintar a infância difícil para se tornar numa estrela do futebol. Nascido no bairro social do Casal da Mina, na Amadora, no seio de uma família disfuncional, viu o pai ser preso quando tinha apenas cinco anos, enquanto mal recebia o colo da mãe, que se multiplicava em turnos para sustentar o clã.
O seu talento para o futebol cedo deu nas vistas e podia, na verdade, ter sido a salvação de toda uma família, mas muitos dizem que Rúben, de 30 anos, este domingo acusado de violência doméstica contra a namorada, que teve de ser hospitalizada na sequência das alegadas agressões, é um caso perdido, por não ter aprendido à primeira, à segunda, nem tão pouco à terceira ou à quarta.
O seu cadastro é impressionante, sendo que as conquistas desportivas de um craque que passou pelo Sporting, Villareal, Olympiacos, FC Porto e agora é pago a peso de ouro no Qatar, rapidamente foram ofuscadas pelo que consta no seu registo criminal. Muitos podem já não se recordar, mas o ato violento que agora terá tido para com a companheira está longe de ser inédito no seu currículo.
Em Espanha, quando se mudou do Spoting para o Villarreal numa transferência que o colocava no patamar de nova grande esperança do futebol europeu, teve - que se saiba - três problemas com a Justiça, e por problemas entenda-se não falamos da clássica infração de ser apanhado ao telemóvel. Começou por ser parado pela polícia a conduzir sem carta, depois detido quando, à porta de um bar de alterne, se envolveu em desacatos enquanto tecia ameaças com uma garrafa de vidro a mão e, o mais grave, foi condenado por sequestrar, agredir e ameaçar de morte um homem.
A história conta-se assim: aquele que acabou amarrado na casa do futebolista enganou-o num negócio com um carro, lesando-o em cinco mil euros. A 'lição' foi dada por Semedo e um grupo de amigos e passou por agredir o impostor com bastões de basebol, amarrá-lo, estar a um ponto de lhe cortar um dedo e ameaçá-lo de morte com uma pistola. Enquanto o homem estava sequestrado, o jogador e os amigos foram a casa deste e roubaram tudo o que puderam, num montante total que superou os 24 mil euros.
Estávamos em 2018 e Rúben Semedo acabaria por passar cinco meses atrás das grades enquanto aguardava pela sentença: condenado a cinco anos de prisão, com pena suspensa, e uma ordem judicial de proibição de entrar em território espanhol até 2028.
"Chorei muitas vezes (na prisão). Nunca chorei à frente de ninguém, mas muitas vezes deitava-me, não conseguia dormir, só pensava nos meus filhos, no sofrimento da minha família. Faz-te pensar se realmente vale a pena abdicares de passar tempo com a tua família para passar tempo com pessoas que não querem o teu bem e seguir caminhos que não te vão levar a lado nenhum. Sofri muito, e sim, passei muitas noites a chorar", disse na altura, temendo nunca mais voltar a jogar futebol.
Mas surpreendentemente, Rúben Semedo teve uma segunda oportunidade, e foi emprestado ao Rio Ave pelo clube espanhol. Na ressaca da prisão, mostrou-se arrependido, mudado pelo tempo de cárcere, assumiu ter-se deslumbrado com o dinheiro fácil e o estatuto de estrela do futebol.
"Uma pessoa, ou um miúdo, que saia do seu país para uma liga tão forte como a espanhola, com tanto dinheiro, devia ter mais acompanhamento. Devia reconhecer que não podia estar sozinho com tanto poder financeiro, devia ter percebido os amigos que tinha por perto, que não eram meus amigos. Rodeei-me de pessoas que não queriam o melhor para mim, em ambientes que não eram para um profissional, como as discotecas. Foi o meu grande erro."
QUEIXA POR VIOLAÇÃO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA
O problema é que Rúben não aprendeu propriamente com os erros. A memória encurtou-se, talvez porque o mundo do futebol é particularmente generoso para com os seus protagonistas. Semedo não só teve mais uma oportunidade como viu alguns clubes europeus estenderem-lhe a passadeira vermelha, honras de destaque na Seleção Nacional.
E foi quando estava no Olympiacos, na Grécia, que todos os alarmes voltaram a soar. No Verão de 2021, o jogador voltava a ter problemas na Justiça, acusado de violar uma menor, de 17 anos.
O Tribunal de Atenas acabou por ilibar o futebolista, não tendo encontrado provas suficientes sobre a alegada violação à jovem, não sendo possível determinar se o sexo tinha ou não sido consetido.
Um facto curioso é que, quando se apresentou em tribunal, o futebolista tinha ao lado a namorada de sempre, Juviana Pereira, que mostrava assim disposta perdoar a traição (e calar todas as dúvidas que pudesse ter) para estar ao seu lado. No entanto, o momento tenso parece ter deixado marcas e poucos meses depois a imprensa grega dava conta que a namorada de Semedo apresentava queixa na polícia por violência doméstica, depois de Rúben a ter agredido durante uma discussão, colocando-a fora de casa e trancando a porta, deixando-a na rua.
Depois da polémica, Juviana acabaria por retirar a queixa e Rúben Semedo surgia nas redes sociais para garantir que tudo não tinha passado de uma invenção da imprensa.
Agora, o internacional português volta a estar no centro da polémica, ao ser detido em casa pelas 03h00 da manhã, depois de a companheira ter sido hospitalizada na sequência dos alegados atos de violência. Esta segunda-feira, dia 30 de dezembro, será presente a um juíz que decidirá quais as medidas de coação a que Rúben estará sujeito.
A entrevista foi dada há uma semana. Será que era mesmo isto que queria dizer?