
José Sócrates voltou, esta quarta-feira, dia 17 de abril, às principais notícias e tudo por causa das suas frequentes e polémicas viagens ao Brasil. Isto porque o antigo primeiro-ministro, que está obrigado a apresentações quinzenais na GNR da Ericeira, diz que não tem de avisar os tribunais quando viaja para o outro lado Atlântico.
Apesar da recusa, o Correio da Manhã avançou que o Ministério Público já fez chegar a tribunal um requerimento para que o antigo governante informe qual foi a última vez que se deslocou ao Brasil, o que tem acontecido com bastante frequência.
Mas afinal, o que tem andado a fazer José Sócrates, tanto tempo, pelo Brasil? Para entendermos esta ligação, temos de recuar a maio de 2022, quando foi notícia que o antigo político se tinha decidido inscrever num doutoramento em Relações Internacionais, na Universidade Católica de São Paulo, além de participar em ações dos Partidos Trabalhadores.O doutoramento era orientado por um professor com ligações a Lula da Silva, cuja ligação com Sócrates é conhecida e que terá dado acesso ao antigo primeiro-ministro a um meio muito restrito, da elite de São Paulo, no qual passou a estar inserido.
Quando está naquela cidade, Sócrates, de 66 anos, é visto a frequentar os locais mais exclusivos, e até alguns eventos aos quais muito pouca gente tem acesso. Em 2022, por exemplo, a revista 'Visão' noticiou que o político tinha sido convidado para marcar presença num jantar de um dos advogados mais influentes de São Paulo.
A festa decorreu no 'Jardim Paulista', um dos condomínios mais restritos daquela cidade brasileira, conhecido pelos seus arranha-céus ultra-luxuosos, custo de vida bastante acima da média e pela frequência de uma certa elite, a que só têm acesso os muito ricos.
Na ocasião, estava o amigo Lula da Silva e também uma série de personalidades influentes, que passaram a ser próximas do português, que no Brasil leva uma vida que o tem feito renascer e quebrar a monotonia dos seus dias, que desde o processo Operação Marquês, passaram a ser vividos na Ericeira.
Durante muito tempo, Sócrates mantinha exatamente as mesmas rotinas, praticamente não deixando a pacata vila, mas desde 2022 que o Brasil, e mais propriamente São Paulo, se tornou numa espécie de segunda casa, e que colocou novamente Sócrates, ainda que indiretamente, no meio político.
A VIDA DE TODOS OS DIAS NA ERICEIRA
Quando está no Brasil, Sócrates não permanece menos do que duas semanas em São Paulo, regressando, depois, à Ericeira, para onde se mudou para casa de um primo, em 2019, deixando um luxuoso apartamento na zona do Parque das Nações, em Lisboa.
A residir numa casa bastante perto do mar, as suas rotinas na pacata vila passaram a ser alvo de atenções, com o antigo primeiro-ministro a levar um estilo de vida bastante recatado: muitas vezes, saía de casa apenas para uma caminhada de meia hora junto ao mar, mas não foram raras as vezes em que ficava no apartamento T5, permanecendo no escritório ou com a então namorada, Lígia Correia.
Trata-se de uma antiga secretária de vários gabinetes de governos socialistas que, quando Sócrates se mudou para a Ericeira, passou a ser vista várias vezes a entrar e a sair da residência do antigo primeiro-ministro, ainda que os dois não vivessem juntos. Na altura, o namoro já durava há cerca de três anos, não se sabendo se ainda se mantém ou não.
Antes desta relação, recorde-se, o namoro mais mediático de José Sócrates foi com a jornalista Fernanda Câncio, iniciado em 2001 e que terá durado alguns anos, ainda que sempre mantido em segredo.
Mais tarde, quando os dois já estavam separados e o nome do político era envolvido na Operação Marquês, a jornalista acabaria por escrever um longo artigo de opinião no 'Diário de Notícias' onde, de alguma forma, procurava ressalvar que não estava a par de nada de ilícito do que era feito pelo então companheiro.
"Independentemente de qualquer responsabilidade criminal alguém que age assim tem de ser persona non grata. Fingiu ante toda a gente que tinha fortuna de família, rejeitando até rendimentos a que tinha direito como alguém que deles não necessitava. Urdiu uma teia de enganos. Mentiu, mentiu e tornou a mentir (...) E mentiu tanto e tão bem que conseguiu que muita gente séria não só acreditasse nele como o defendesse, em privado e em público, como alguém que consideravam perseguido e alvo de campanhas de notícias falsas, boatos e assassinato de caráter", escreveu a cronista, que chegou a prestar depoimento, como testemunha, no caso em que Sócrates era arguido.