
Foram menos de dois anos de um namoro em que Frederica Lima julgava ter encontrado o amor da sua vida e que, de acordo com a mesma, se transformaria num pesadelo. A acusação deduzida pelo Ministério Pública e que coloca Nuno Homem de Sá no banco dos réus, ainda sem data de julgamento, é clara. Nas cerca de 100 páginas a que a FLASH! teve acesso, são descritos centenas de comportamentos abusivos por parte do ator, de 63 anos, e que se enquadram no crime de violência doméstica – parte desses comportamentos são descritos pela própria Frederica Lima, de 33 anos, em entrevista a Tânia Laranjo, na edição do 'Doa a Quem Doer' desta quarta-feira, 1 de outubro.
Na acusação do MP, e de acordo com a queixosa, o conto de fadas que julgava estar a viver esbateu-se mais rapidamente do que seria expectável com o ator a começar a demonstrar, aos poucos, querer exercer controlo sobre os mais variados aspetos da sua vida. Terá começado com pequenas coisas acabaria por se estender a tudo, do sono, à roupa que vestia, passando pelas relações sexuais que mantinham, conforme denunciou Frederica, de 35 anos, às autoridades. "Sempre que dormiam juntos, o arguido proibia a queixosa de se levantar durante a noite nem que fosse para ir à casa de banho ou para comer e obrigava-a a permanecer consigo na cama, a olhar para si, a vê-lo dormir e sem poder mexer no telemóvel", pode ler-se no extenso documento em que é descrito que caso a namorada demonstrasse intenção de se levantar, Nuno Homem de Sá reagia automaticamente. "Onde é que pensas que vais, p*** do car***, tens outro? Vais fugir?"
Os insultos fariam, aliás, parte da dinâmica como a estrela de várias novelas nacionais trataria Frederica Lima e, durante a acusação do Ministério Público, são descritos às dezenas, acontecendo nas situações mais corriqueiras do dia a dia. A dada altura, por exemplo, Frederica - cujas saídas passaram a ser limitadas ao máximo pelo namorado - ter-se-à visto, inclusivamente impedida de sair para levar o próprio lixo. "O arguido impedia a ofendida de levar o lixo à rua sozinha e caso a mesma o fizesse, o arguido ficava agressivo, dizendo num tom de voz altivo: 'p*** do car***, onde é que vais, car***, vais ter com alguém, tens outro?'", está escrito na acusação do MP, num tom insultoso que marcaria a relação. "p*** do car***, vaca de m***, és um nojo, não me dás valor, nem tu sabes o homem que tens, nunca vais ter ninguém assim, ninguém te vai querer, agradece enquanto me tens, és um lixo, és uma doente, és uma psico, não serves para nada”, são outros dos insultos descritos na acusação, com o ator a justificar, mais tarde, essas mesmas atitudes com "traumas do abandono", por ele próprio ter sido privado da mãe desde muito cedo.
Com a escalada da violência, Frederica terá passado a viver num clima de terror a todos os níveis, que se alastrou à intimidade do casal. Um dos episódios descritos foi, aliás, partilhado pela queixosa numa entrevista que deu à SIC, na passada terça-feira, dia 30 de setembro, em que deu conta de que Nuno Homem de Sá a acordava, frequentemente, a meio da noite com o intuito de a forçar a relações sexuais. “[Ele] entrava no quarto de madrugada, acendia as luzes todas e batia com as portas. Fazia de propósito para me acordar para ter relações sexuais. Chegou a um ponto que eu disse não e ele passou-se. Acusou-me de estar com outro”, afirmou.
Com o passar do tempo, Frederica descreve que os insultos verbais coexistiam com uma violência física que escalou até a deixar completamente aterrorizada, com medo de que o pior acontecesse. Esses momentos chegavam, por exemplo, quando Homem de Sá apanhava Frederica a mexer no telemóvel (terá atirado o mesmo contra a parede, partindo-lhe o vidro) ou simplesmente porque algo no decorrer de uma conversa o desagradava. "O arguido desferia encontrões no corpo da ofendida, empurrava-a contra a parede e agarrava-a com força pelos braços no decurso das discussões, dizendo num tom de gozo: ‘então, estás com medo de mim? Então karateca, estás com medo de mim?", pode ler-se na acusação.
As agressões ter-se-ão agravado na segunda metade do namoro, quando o casal coabitava na casa de Nuno Homem de Sá, em Loures, e segundo Frederica Lima, aconteciam entre três a quatro vezes por mês, sendo que muitas destas ocorreriam quando o ator estaria sob o efeito de estupefacientes como descreve a queixosa, que assegura que sempre que as discussões mais acaloradas tinham lugar na cozinha, o ator empunhava frequentemente uma faca, intimidando-a com a mesma: “Mas estás com medo da faca, achas que te vou espetar a faca?”. Numa dessas ocasiões, Frederica afirma mesmo que o ator lhe atirou com a faca, que lhe embateu num dos pés, deixando-a em pânico absoluto.
Num namoro que passou da paixão ao clima de terror, tudo era passível de gerar discussão, segundo Frederica Lima, que refere diversos episódios domésticos para ajudar a alavancar a queixa por violência doméstica. Por exemplo, numa das ocasiões em que comeriam sentados à mesa, a jovem ter-se-à referido ao arroz cozinhado pelo companheiro, afirmando que o melhor tinha sido o primeiro que este lhe tinha feito, no início do namoro. "Em consequência, o arguido ficou irritado com a ofendida e disse-lhe: ‘Mas estás a criticar o meu arroz?” Em ato contínuo, o mesmo pegou no tacho do arroz, o qual continha arroz ainda quente e atirou na direção da ofendida, acertando-lhe no pescoço e no peito, sujando-a e queimando-a".
Além das discussões e agressões físicas, Frederica admite que o ator queria exercer um controlo absoluto sobre a sua vida desde a roupa que vestia – frequentemente Homem de Sá diria à namorada que estava demasiado bem vestida, forçando-a a trocar de roupa para um fato de treino – à música que ouvia até àquilo que se comia dentro da própria casa ou ao facto de não querer que esta fizesse a depilação, controlando ainda pequenas coisas do dia a dia como os banhos. Quando o fazia, supervisionaria esses momentos e chegou a filmá-la nua sem consentimento na banheira, assim como em momentos em que mantinham relações sexuais, usando, posteriormente, essas imagens como forma de chantagem.
Também nos momentos em que estava fora de casa, sempre em trabalho, Frederica diz ter sido sujeita a um controlo constante, sendo obrigada a almoçar sempre sozinha e no mesmo restaurante, onde o ator podia aparecer sem aviso. "Ai de ti que te apanhe com algum gajo", pode ler-se no processo, onde é acrescentado que Frederica tinha de atender o telemóvel à primeira, sob consequência de que o ator a questionasse sobre o assunto de forma intimidatória.
Hoje já distante, mais ainda marcada por um pesadelo que só terminou em definitivo no final do ano de 2023, Frederica Lima diz que foi ficando porque estava "muito apaixonada" pelo ator "e não pela besta" que este, por suas palavras, se viria a revelar, fazendo-a viver os piores momentos da sua vida.
"Ele deu-me pontapés e a seguir atirou-me contra a parede com uma força que eu nem sequer conseguia respirar. Lembro-me de estar encostada à parede, ele a agarrar-me nos braços, e do olhar que ele tinha na cara dele, de prazer. Aquilo para mim foi o maior 'abre olhos' de todos. A partir daí nunca mais o vi da mesma forma", descreveu numa entrevista à SIC em que abriu o coração para regressar ao calvário que afirma ter vivido e que em breve chegará aos tribunais.
Até ao momento, Nuno Homem de Sá mantém-se em silêncio sobre as queixas da ex-companheira, prometendo reagir às mesmas em sede própria.