
Pinto da Costa sempre foi um homem dado às paixões. Ao longo dos seus 84 anos, os romances sucederam-se [muitas das vezes coexistiram até] e a lista de mulheres é interminável. No entanto, falar de Pinto da Costa é, necessariamente, falar de Carolina Salgado, que é talvez a sua maior pedra no sapato. Depois da separação, não se 'deu por vencida', escreveu um livro em que o acusava de aliciar árbitros com "fruta" [ou seja, prositutas], disse que andava envolvido com a jornalista Maria Elisa e contou um sem fim de episódios domésticos que hoje até parecem uma piada, mas aos quais na altura Pinto da Costa não deve ter achado graça nenhuma. "Eu cortava-lhe as unhas dos pés, aparava-lhe os pelos das orelhas e dava-me imenso prazer fazer-lhe esfoliações, que ele achava serem coisas 'próprias de mulheres e de maricas'", escreveu no livro Carolina Salgado. Ora, a nós parece-nos o mote perfeito para abrir o baú desta história de amor e ódio que começou algures quando o Mundo entrava no novo milénio.
ROMANCE NASCE NUM BAR DE ALTERNE
Aos 22 anos, Carolina Salgado era uma mãe solteira com dois filhos e demasiadas contas para pagar para o seu parco ordenado como promotora. Através de uma amiga, acabou por saber da existência do bar de alterne 'Calor da Noite', onde começou a trabalhar e no qual viria a conhecer Pinto da Costa.
O espaço era quase paredes meias com o Estádio das Antas e frequentado por algumas das pessoas ligadas ao clube, como Reinaldo Teles, então braço direito do presidente dos Dragões. Ora, foi ele que acabou por trazer à casa de alterne Pinto da Costa, que apresentou a Carolina.
"Estava eu a dançar na pista uma música do meu Sting quando me apercebo que tinha acabado de entrar o senhor Reinaldo Teles acompanhado pelo presidente do FC Porto, Pinto da Costa. As minhas pernas começaram a tremer, senti um frio no estômago e tive que sair da pista de dança. Fiquei feliz, mas ao mesmo tempo chocada por tão ilustre figura frequentar uma casa daquela natureza", relata Carolina, acrescentando que o primeiro contacto aconteceu nessa mesma noite. "Perguntou-me o que estava ali a fazer e apressou-se a dizer que aquele era um trabalho como outro qualquer e que eu era uma grande mulher. Com o passar do tempo, começou a vir todas as noites ao bar. E eu dei por mim todas as noites à espera que ele chegasse", relata no livro.
Os primeiros encontros aconteceram no bar de alterne sob o olhar atento das colegas do espaço, que não se mostraram surpreendidas por, uma dada noite, se terem deparado com os dois a dançar juntos na pista. "Uma noite convidou-me para dançar. As nossas mãos transpiravam, as nossas pernas tremiam. Previ que estava a nascer um grande amor e não me enganei. Dançámos três músicas seguidas e a sensação que tinha era que apenas existíamos nós, não havia ninguém em volta. Fez-me sentir uma verdadeira princesa".Estávamos no ano 2000, mas a relação não foi logo oficializada até porque Pinto da Costa era casado com Filomena Morais, mãe da sua filha Joana. "A doutora Manuela tinha sido a primeira esposa de Pinto da Costa e a única de que ele me tinha falado. Posteriormente, confessou-me que a tinha deixado, e ao filho Alexandre, pela secretária, com quem mantinha uma relação extraconjugal. Filomena, a secretária, apresentara-se-lhe grávida e por essa razão abandonou a família".
Estávamos no ano 2000, mas a relação não foi logo oficializada até porque Pinto da Costa era casado com Filomena Morais, mãe da sua filha Joana. "A doutora Manuela tinha sido a primeira esposa de Pinto da Costa e a única de que ele me tinha falado. Posteriormente, confessou-me que a tinha deixado, e ao filho Alexandre, pela secretária, com quem mantinha uma relação extraconjugal. Filomena, a secretária, apresentara-se-lhe grávida e por essa razão abandonou a família".
Vários meses depois, insultos públicos por parte de Filomena e até agressões denunciadas na polícia, Pinto da Costa acabaria por deixar a mãe da segunda filha e começar a ser visto com Carolina Salgado no Estádio das Antas. Com isto, os dois passaram a viver juntos. Era o oficializar de uma história de amor que então conhecia os melhores anos. No livro que escreveu após o fim do romance, Carolina partilha uma série de bilhetes apaixonados que Pinto da Costa lhe deixava pela casa. Coisas tão infantis como "Giorgio love Carolina" ou "Bom dia! AMO-TE. O Dragão comeu muito agora de manhã". No entanto, a sombra de Filomena continuava a pairar no ar com ameaças constantes por parte da ex-mulher. "Tinha de mudar de planeta se contasse tudo o que sei acerca dele", chegou a dizer publicamente.
O INÍCIO DO APITO DOURADO
Entre os anos de 2000 e 2005, Pinto da Costa e Carolina Salgado eram a imagem de um casal apaixonado e a companheira do presidente dos dragões acompanhava-o para todo o lado. Era como uma sombra: jogos de futebol, viagens ao estrangeiro, jantares importantes. Do bom ao mau, ela sabia de tudo, até que a dada altura Pinto da Costa terá percebido que sabia demais.
A 2 de dezembro de 2004, como que um mau agoiro, o casal recebeu uma convocatória de emergência para ir jantar com o advogado Lourenço Pinto. Avisou-os, então, que na madrugada seguinte, a PJ entraria pela casa de Pinto da Costa adentro, tendo um mandato de captura e detenção no âmbito do Processo Apito Dourado, que despontava. "O que o Jorge Nuno ouviu do doutor deu-lhe positivamente volta à barriga", recorda Carolina no livro, acrescentando que, ali mesmo, no restaurante, definiram em surdina uma estratégia. O presidente e a companheira partiriam de imediato para Espanha e, no dia seguinte, seria a mãe de Carolina a abrir a porta aos agentes e a explicar que o casal se encontrava fora do país. "Pedi a colaboração à minha funcionária, Alice, disse-lhe como devia responder à polícia e autorizei-a a mostrar a casa toda às autoridades, incluindo o cofre do Jorge, que numa atitude de provocação, até deixámos aberto".
Quando, no dia seguinte, já em Espanha, Pinto da Costa tentava controlar os nervos para saber o que se passava na sua casa no Porto, o telefone de Carolina tocou. "Vi que era o número da minha mãe e atendi, mas era uma agente da PJ. Quis falar com o Jorge Nuno a quem passei o telefone. Explicou o que se passava e solicitou a comparência dele no Porto o mais rapidamente possível. Ele perguntou se o assunto se prendia com o FCP ou com a vida pessoal. 'Com a sua vida pessoal', respondeu-lhe a polícia. 'Então não vou. Se fosse para tratar de assuntos do clube ia de certeza', disse, Jorge Nuno, branco como a cal, e desligou".Pinto da Costa acabaria por se apresentar voluntariamente perante as autoridades dias mais tarde, mas a relação com Carolina começava a entrar numa fase descendente.
Pinto da Costa acabaria por se apresentar voluntariamente perante as autoridades dias mais tarde, mas a relação com Carolina começava a entrar numa fase descendente.
No livro, e mais tarde em tribunal, Carolina relatou que Pinto da Costa tinha nomes de código como "fruta ou café com leite" para as regalias com que "compravam" os árbitros, a saber dinheiro ou prostitutas e que vários árbitros eram visita de casa do dirigente dos dragões. "Os árbitros Martins dos Santos e Augusto Duarte, entre outros, eram visita de nossa casa. Bebiam café e comiam chocolatinhos. Por ser muito cuidadoso, o Jorge Nuno nunca falou com um árbitro ao telefone, nem precisou, uma vez que eles iam lá a casa confraternizar", descrevia.
Ao longo dos anos em que o namoro durou, Carolina afirmava estar cada vez mais envolvida na vida do clube e também nos problemas do marido. Já perto do final da relação, e num dos casos mais polémicos contado em tribunal, garante ter encomendado, a pedido de Pinto da Costa, uma sova ao então vereador da Câmara Municipal de Gondomar Ricardo Bexiga, que estaria a fazer sombra a Valentim Loureiro. O "serviço", garante, foi"pago em notas que tirou de uma gaveta do nosso quarto". "Quando os sujeitos terminaram ligaram-me e disseram-me as palavras de código: 'as camisolas estão prontas'".Foi precisamente nessa altura que o amor de Pinto da Costa por Carolina esmoreceu. O presidente dos dragões perdia então a confiança na companheira. Deixou de falar de assuntos importantes na sua presença, "de ter pressa para regressar a casa" e estava sempre fora, entre viagens. Numa dessas, e segundo Carolina, ter-se-á encontrado às escondidas com a jornalista Maria Elisa.
Foi precisamente nessa altura que o amor de Pinto da Costa por Carolina esmoreceu. O presidente dos dragões perdia então a confiança na companheira. Deixou de falar de assuntos importantes na sua presença, "de ter pressa para regressar a casa" e estava sempre fora, entre viagens. Numa dessas, e segundo Carolina, ter-se-á encontrado às escondidas com a jornalista Maria Elisa.
A separação aconteceu no início de 2006, inicialmente de forma tranquila. Foi Pinto da Costa quem terminou a relação, mas ainda assim terá proposto um acordo a Carolina. "Já pensaste no que queres? Ficas com uma casa e sempre que eu puder vou lá ter contigo", sugeriu, ao que Carolina negou. Segundo a própria, recusou ser a "amante número um do presidente". E foi aí que a guerra entre os dois estalou.Carolina deu o primeiro passo ao ir a um balcão do BES para levantar 30 mil euros de uma conta conjunta com Pinto da Costa. Sobre o que aconteceu a seguir há várias versões. Ela diz que ele lhe esvaziou a casa e que nessa mesma tarde a agrediu.
Carolina deu o primeiro passo ao ir a um balcão do BES para levantar 30 mil euros de uma conta conjunta com Pinto da Costa. Sobre o que aconteceu a seguir há várias versões. Ela diz que ele lhe esvaziou a casa e que nessa mesma tarde a agrediu.
"O dia 6 de abril de 2006 foi o mais triste da minha vida. Estava eu a regressar a casa quando vejo parada à porta da minha casa uma enorme carrinha que reconheci como sendo da SAD do FCP. Estacionei o carro e vejo o Afonso, o motorista do Jorge Nuno, com um rolo gigante de papel de embrulho aos ombros. Pedi explicações, não deu e com brutalidade empurrou-me. Estava a saquear a minha casa a mando do Jorge Nuno, que se encontrava no local como se de um turista se tratasse e nada tivesse a ver com o assunto. Vendo-me manietada pelo seu capanga, deu-me dois estalos. Levaram o que quiseram e deixaram-me a mim e à minha irmã num estado deplorável", conta no seu livro, enquanto Pinto da Costa a acusa precisamente do contrário.Segundo o presidente dos dragões, a história é bem diferente e foi Carolina quem esvaziou a casa em nada mais nada menos do que 300 mil euros. A saber: terá levado 12 garrafas de vinho de 1937, especialmente engarrafado para Pinto da Costa, no valor de 7500 euros; um armário com 50 peças de louça chinesa (70 mil euros), armários, arcas, uma coleção de livros, um quadro de Noronha da Costa, além de eletrodomésticos e estatuetas (105 mil euros), vários relógios, alguns de coleção, no valor de 30.500 euros, 50 canetas de tinta permanente em ouro, avaliadas em 50 mil euros, serviços de louça, fatos, gravatas e sobretudos de marca, num total de 10 mil euros, um quadro de Cargaleiro (10 mil euros), além de um prato, um fato, uma gravata e um capacete do FCP que a arguida terá oferecido a um antigo namorado, Paulo Lemos.
A queixa acabou por ser arquivada e só os dois sabem quem tem razão, assim como tudo o que se passou na relação. Até porque o que Carolina contou no seu livro, e que deu origem ao filme 'Corrupção', acabou por ser matéria em tribunal e não convenceu o juiz responsável. A antiga acompanhante de luxo acabaria mais tarde por ser acusada de mentir no caso "da fruta", tendo sido condenada por difamação, numa pena de prisão de quatro meses substituída por multa.
Foi o fim de uma história que durante anos e anos fez correr muita tinta. Entretanto, ambos refizeram a sua vida sentimental [Pinto da Costa várias vezes], foram capas de revista por outros assuntos, mas vão ficar para sempre ligados à história um do outro. Carolina porque provavelmente foi a primeira mulher "traída" que enfrentou o presidente dos dragões, que ameaçou o seu reinado e que o terá feito repensar as relações. Ainda que não durante muito tempo. É que Pinto da Costa é um bom vivant, o verdadeiro Dom Juan e quem o conhece diz que as mulheres são a sua perdição e que quando ama não vê mais nada à frente. Com Carolina foram seis anos de uma intensa paixão, anos loucos de um amor selvagem, ainda que não provavelmente a história que mais gostará de contar aos netos.