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THE MAG - Entrevista

Plateau, Alcântara Mar, Indochina... As memórias de Pedro Luz, o rei da noite que continua a modernizar Lisboa

Ser empreendedor está-lhe no ADN. Pedro Luz começou pela roupa, passou pelos restaurantes, discotecas e agora constrói hotéis de charme no centro de Lisboa. Mas a fama vem-lhe sobretudo por ser o homem por detrás do famoso Alcântara-Mar, que revolucionou a noite de Lisboa e abriu espaço a uma nova movida na capital. Está ligado ainda ao Plateau, Indochina, Docks, Alcântara Café e muitos outros icónicos espaços por onde passaram centenas de milhares de pessoas ao longo das últimas décadas. Uma vida revisitada agora em livro – 'Um Homem, Quatro Vidas' – escrito por Rita Delgado, neta do general Humberto Delgado e sua ex-namorada, memórias de um tempo que o próprio, com 73 anos, diz em entrevista à The Mag não deixar saudades. “Tenho saudades é do futuro” atira, orgulhoso da obra que ainda tem planeada para cidade que ajudou a modernizar com magia e bom gosto.
Rui Teixeira
Rui Teixeira
06 de outubro de 2022 às 22:33
Pedro Luz
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Pedro Luz chega ao seu novo hotel Brown's Avenue, na baixa de Lisboa, 10 minutos antes da hora. "Nunca me atraso para um compromisso", diz enquanto olha para o Rolex que traz no pulso, marca distintiva do bom gosto que coloca em tudo o que faz e fez ao longo dos últimos quase 40 anos na cidade de Lisboa. Já foi chamado de Mourinho da noite, capaz de, como se fosse um passe de magia, transformar prédios esquecidos em espaços tão marcantes como o Alcântara-Mar, Alcântara Café, Plateau ou Indochina, entre muitos outros. Viajou pelo mundo e dele trouxe ideias de modernidade para a cidade, onde agora, aos 73 anos, está a criar um novo império, com a mesma coragem e liberdade que teve quando, aos 17 anos, se meteu num comboio para Paris sem dizer nada aos pais.

Um Homem, Quatro Vidas é o nome do livro sobre si que acaba de ser lançado, mas que quem o lê percebe que o homem Pedro Luz teve muito mais do que quatro vidas.

Como todas as vidas. De todos nós. Bem definidas são quatro, no sentido em que houve a fase da roupa, dos restaurantes, das discotecas e agora dos hotéis. É daí que sai o nome que a Rita Delgado deu ao livro.

Mas a sua vida tem muitas particularidades que lhe dão essa dimensão maior.

Algumas, algumas.

Que espera que este livro consiga alcançar?

Eu adorei assim que o li, porque a Rita faz um bom retrato da minha vida e todos os comentários dos convidados são muito simpáticos.

Foi lendo a obra à medida que foi sendo escrita no sentido de dar algumas indicações?

Não, sempre que havia alguma dúvida a Rita perguntava-me mas não passou disso. Ou seja, não influenciei nada na escrita do livro.

E dos comentários dos seus amigos e colaboradores que lá estão, ficou sensibilizado com eles? Alguma história que já não se lembrava?

Muitas coisas já não me lembrava mas fiquei muito agradado. Tive relações que ainda hoje duram, ao longo de muitos anos e isso é muito bom.

Chamam-lhe o Mourinho da noite, o rei da noite, como convive com esses epítetos?

As pessoas com algum protagonismo, e eu tive algum especialmente na fase das discotecas, acabam por ganhar alcunhas às vezes.

"A Lisboa de hoje não tem nada a ver com a dos anos 60. Era outra cidade".

A sua infância é passada na Estrela, que memórias tem desse tempo?

Do Clube Nacional de Natação, porque ia para lá nadar.

É verdade que fazia 50 piscinas seguidas?

Sim, todos os dias, de manhã.

Isso já lhe dava uma grande condição física.

Sim, e acho que foi o que me preparou para os anos todos das discotecas.

Havia muitos miúdos da sua idade?

Sim, havia. Tinha muitos amigos. E depois fui para Tomar estudar.

Um colégio interno, vontade do seu pai?

Sim.

Como era a relação com o seu pai, comissário da polícia?

Era ótima. Adorava o meu pai. Ele acompanhou-me até muito tarde e ainda conseguiu ver o que construí. Sabe, ele ia ao Alcântara-Mar de vez em quando.

Quando ele lhe diz que tem de ir para um colégio interno, como reagiu?

Adorei, adorei. Fiz grandes amigos e estar fora de casa deu-me uma certa independência. Em Portugal não é muito usual hoje, mas naqueles idos anos 60 era mais frequente as crianças irem para colégios internos. Em Inglaterra isso continua a ser normalíssimo. Cá não. Acho que toda a gente devia passar por isso. Para aprender a ter disciplina.

Isso não o impedia de querer ser rebelde e fugir do colégio.

Pois, mas isso faz parte do meu caráter, já era à procura das viagens. Naquela altura era só para Lisboa.

É isso que o faz meter-se num comboio sozinho para França? Que aventura foi essa?

Tinha 17 anos, foi extraordinário chegar a Paris naquela altura.

A sua mãe não ficou contente consigo.

Não, nem ela nem o meu pai. Não lhes disse que ia. Parti e acabou.

 

Isso foi um grande ato de insurreição.

Foi, ainda hoje seria. Foi a minha abertura para o mundo, diferente daquilo que havia em Lisboa. A Lisboa de hoje não tem nada a ver com a dos anos 60, era uma outra cidade. Não fui influenciado por ninguém, senti apenas que tinha de conhecer outros países, e ainda hoje preciso. Portugal é dos melhores países da Europa e mesmo do mundo, mas ficou super feliz quando vou embora. Mas fico igualmente feliz quando volto.

Essas viagens também lhe deram ideias para os seus negócios.

Absolutamente. Eu sou fruto dessas viagens todas ao longo dos anos.

SERVIÇO MILITAR MAS LONGE DA GUERRA

Quando regressa de França vai cumprir o serviço militar mas escapa à mobilização para guerra.

Não fui para o Ultramar. Fiquei muito feliz com isso. Porque iam e não sabiam se voltavam. E muitos não voltaram. Essa guerra não fazia sentido nenhum.

E depois sim os negócios. Primeiro as roupas, porquê essa área?

Porque não havia nada em Portugal. Não é como hoje. E eu achei que era fácil fazer e meti-me no negócio. Foram 20 anos da minha vida dedicados a isso. Mas depois começaram a chegar as grandes marcas e Portugal entrou numa crise económica e vendi tudo.

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Madonna janta num dos mais emblemáticos restaurantes de Lisboa

Sentia-se orgulhoso quando via as pessoas na rua com a sua roupa?

Absolutamente. Conseguia perceber se eram peças minhas. É sempre bom quando qualquer coisa que nós fazemos resulta. E resultou, veja, tinha perto de 400 clientes de lojas em todo o País. Ou seja tinha as minhas lojas em Lisboa e depois clientes em todas as outras cidades, por todo o lado.

Depois cria a marca Companhia das Sandes, tem 60 restaurantes em todo o País e volta a vender tudo para começar de novo. A terceira vida, como diz o livro.

Eu viajava muito e ia às feiras de moda de Paris, Londres, Milão, e em todo o lado havia agitação, as pessoas divertiam-se. Aqui não havia nada, havia o Whispers, Em cascais o Van Gogo e o 2001 pouco mais.

Era uma sociedade muito fechada.

Era sim. Hoje felizmente melhorou bastante.

Faltava uma grande discoteca. Mas começa pelo Plateau, que já existia.

Aparece-me essa oportunidade, o Raul Rodrigues tinha um sócio que era o Paco e comprei a quota dele. É o meu início na noite. O Plateau era um espaço muito bom e teve muito sucesso e hoje, passados 30 anos, ainda funciona, sempre cheio. É raríssimo isso acontecer, seja onde for.

Ainda tem alguma participação na discoteca?

Não, o espaço é meu mas está arrendado.

Ainda frequenta o Plateau?

Sim, sim, esporadicamente. E gosto muito. Para matar saudades e rever amigos. Mas nos anos 80 achava que o Plateau era pequeno… e surge o Alcântara-Mar.

"O Plateau era um espaço muito bom e teve muito sucesso e hoje, passados 30 anos, ainda funciona, sempre cheio. É raríssimo isso acontecer, seja onde for."

Provavelmente a discoteca mais mítica de Lisboa.

Sim, de todos os tempos. Ainda hoje encontro pessoas todas as semanas que me falam na discoteca.

O Pedro justificou o fecho do Alcântara-Mar com o esgotar do conceito. Mas pelos vistos as pessoas ainda gostavam de poder lá ir.

Abriram outras discotecas entretanto. Sabe que algumas coisas quando fecham tendem a criar muita saudade. É o caso do Alcântara.

Era um admirável mundo novo.

As pessoas estavam à espera que acontecesse algo daquele género. Por isso foi imediatamente aceite. Desde o primeiro dia, durante 14 anos.

SEM NERVOSISMO NA NOITE DE ABERTURA

O que recorda desse dia 11 fevereiro de 1988, noite de abertura?

Lembro-me de tudo como se fosse hoje. Havia automóveis estacionados em cima dos passeios desde Alcântara até à antiga FIL. Um mar de gente.

As pessoas sabiam ao que iam? Penso que não.

Talvez não, mas ficaram agradavelmente surpreendidas. 

Estava nervoso nessa noite? O investimento não deve ter sido pequeno.

Foi grande, muito grande. Não podia falhar. Mas normalmente sou muito calmo e nessa noite também estava.

Ainda a discoteca cheirava a fresco e quatro meses depois abre o Alcântara Café. Porquê?

Lisboa tinha muitos restaurantes e bons mas não tinha um com aquela escala. Ainda hoje é um ponto de referência. A decoração mantém-se igual.

Credito seu, porque os interiores das suas casas foram sempre desenhados por si.

Sempre ideias minhas, mas no Alcântara café trabalhei com o António Pinto, um chef de renome e decorador.

"O Alcântara-Mar não ficou a dever rigorosamente nada ao Studio 54, em Nova Iorque. Pode parecer pretensioso, mas não é".

O Pedro teve a oportunidade, rara para um português, de ter estado em locais icónicos com o  Studio 54, em Nova Iorque.

Ia lá duas vezes por ano, pelo menos.

Fascinava-o? Era isso que queria trazer para Lisboa?

O Alcântara-Mar não ficou a dever nada, rigorosamente nada ao Studio 54. Pode parecer pretensioso mas não é. Porque o impacto para a cidade de Lisboa foi igual ao do Studio 54 para Nova Iorque. É evidente que lá há mais gente, todos aqueles artistas que não existem cá. Passei lá uma noite de Réveillon e estava lá o Andy Warhol, o DeNiro, uma infinidade de celebridades. Nova Iorque é a capital do mundo, talvez.

Era difícil entrar?

Muito, era dos sítios mais difíceis. Mas nunca me barraram à porta.

Tem saudades desses tempos?

Não, tenho saudades é do futuro. São tempos que vou sempre lembrar com carinho. Tenho especialmente saudades dos amigos, dos que já não estão cá.

Era-lhe difícil viver à noite?

Não, eu estava programado para isso. O nosso corpo entra em função das horas que lhe impomos e estava habituado a deitar-me tarde.

Disse que o seu pai costumava ir ao Alcântara, como é que ele reagia quando entrava e via aqueles bailarinos, as drag queens, todo aquele ambiente de música eletrónica?

Ela adorava, era um choque cultural, claro, mas as drag queens não mordiam a ninguém (risos).

As suas casas, depois segue-se o Docks e Indochina, serviram de faculdade também para muitos DJ’s que se tornaram depois famosos.

Os principais DJ’s de hoje passaram por lá, era mesmo uma escola.

"Tinha de haver uma preparação para ir ao Alcântara-Mar senão podiam não entrar".

Acha que ajudou a mudar mentalidades e abrir a cabeça dos jovens daquela altura?

Não sei. Pelo menos ajudei-os a divertirem-se. A vida não pode ser só problemas. O que se criou foi toda uma cultura das pessoas se arranjarem para sair à noite, eu não vejo muito isso hoje em dia. Tinha de haver uma preparação para ir ao Alcântara-Mar senão podiam não entrar.

O Pedro na altura era muito famoso, saía semanalmente nas revistas. Como lidava com essa exposição?

Não havia Instagram, só mesmo as revistas portanto era lá que eu aparecia. Era uma consequência. Ser conhecido também ajudava ao negócio.

O seu amigo Zé Gouveia, gerente do Indochina durante muitos anos, disse isto numa entrevista recente à FLASH!: "Não saio à noite porque não há nenhum sítio onde ache que faço parte. Sinto-me deslocado em todo o lado." E o Pedro se tiver de sair, de mostrar algo aos seu amigos, vai onde?

Prefiro jantar e beber um copo depois no mesmo sítio. Os restaurantes são as novas discotecas. Jantar e ficar pela noite dentro a dançar.

Já fez o exercício de olhar para trás e nesse percurso encontrar espaço para algo que gostasse de ter feito e que não fez?

(pausa) Gostava de ter vivido em Los Angeles. É uma cidade que eu adoro. Gosto da morfologia da cidade, da arquitetura, do vibe, das palmeiras, da proximidade do mar.

"Os restaurantes são as novas discotecas. Jantar e ficar pela noite dentro a dançar."

E agora está a criar um império no centro da cidade com uma cadeia de hotéis.

Mais uma vez: tudo o que fiz na vida é fruto das viagens que realizei. Comecei a ver ao longo dos anos que havia uma tendência para o boutique-hotel, hotéis de charme, e quando comecei na baixa não havia muitos em Lisboa. Gosto de fazer espaços. Os hotéis são uma coisa natural para mim.

E o que vem a seguir? 

Acabei de abrir este, já estou a fazer outro ao lado, portanto primeiro tenho de acabar.

A VERDADEIRA HISTÓRIA SOBRE A NOITE COM MICK JAGGER

A sua vida dá e deu um livro, mas haverá outras histórias para contar que ainda não foram contadas.

Sairão num segundo volume (risos).

Esclareça então pelo menos a famosa história de ter barrado o Mick Jagger.

Isso não foi assim. É simples: ele queria apenas jantar mas a cozinha estava fechada. Eu não tenho talento para cozinhar, portanto não o podia servir. Foi só isso.

Tem ideia do legado que quer deixar?

Não me preocupo muito com isso. Eu acho que estamos cá e temos a obrigação nos anos que estamos de passagem fazer aquilo que gostamos. O melhor que sabemos na área que gostávamos e é o que tenho feito ao longo da vida. Sem me preocupar em deixar nada para o futuro.

"Sou um homem de longas relações. Era e continuo a ser romântico. Vou morrer romântico."

De todas as discotecas que teve, qual a que lhe deixa mais carinho?

Gosto do Plateau. Fico super feliz quando lá vou e está cheio. E vai continuar a estar. É um fenómeno.

Está com 73 anos...

Passou a correr mas foi intensa. É das poucas coisas que uma pessoa que chega aos 73 anos compreende é que passa mesmo depressa.

Os seus três filhos não estão ligados profissionalmente a si. Isso deixa-o triste?

Não, absolutamente. São opções deles. Cada um deve fazer o que gosta. Eles fazem outras coisas.

Foi casado duas vezes e teve muitas namoradas. Como é sua relação com o amor?

Sou um homem de longas relações. Era e continuo a ser romântico. Vou morrer romântico.

Tem companheira agora?

Agora não.

E faz-lhe falta?

Estou a gostar desta liberdade, o que não quer dizer que um dia não possa vir a ter outra vez uma companheira.

Qual o seu maior sonho ainda por cumprir?

Continua a ser viajar e aprender nessas viagens. A mim não me dá gozo estar parado numa praia.

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