
Não há, certamente, palavras que consigam reproduzir a dor que as famílias Ribeiro Telles e Caldeira sentem num momento em que se despedem do bebé Vicente, de apenas dois meses, ao mesmo tempo que rezam pelas quatro irmãs que permanecem internadas no Hospital de Santa Maria, na sequência do brutal acidente que sofreram em Coruche.
Mas, ainda assim, na missa de despedida do menino, o pai, João Caldeira, conseguiu tomar a palavra para, em frases tolhidas pela emoção, agradecer o apoio que a família tem recebido desde que, na passada quarta-feira, dia 13 de novembro, o seu mundo desmoronou. Numa comunidade pequena, em que todos se conhecem, a dor desta família enlutada é vivida com lágrimas por aqueles que a rodeiam.
Depois de terem decidido que as cerimónias fúnebres do bebé Vicente seriam abertas a todos que dele se quisessem despedir, centenas de pessoas acorreram à Igreja Matriz de Coruche para dar uma palavra de conforto aos pais e avós. "Os Ribeiro Telles são uma família muito querida aqui, toda a gente está a sentir muito esta dor", diz uma fonte à nossa publicação, acrescentando que, apesar de assoberbada pelo sentimento de perda, a família passou largos momentos a responder, de forma respeitosa, às condolências, a receber abraços de amigos e populares.
Ao longo dos últimos dias, havia a expectativa se Graça Ribeiro Telles – a mãe, que conduzia a carrinha de sete lugares com os cinco filhos aquando do acidente – teria ou não alta para marcar presença no último adeus ao pequeno Vicente. A filha do cavaleiro João Palha Ribeiro Telles esteve na missa, mas a sua condição física ainda frágil, após ter sofrido fraturas num pé, na clavícula e num braço e o duro calvário que enfrenta, levaram a que acabasse por se ausentar mais cedo, saindo por uma das portas laterais da igreja. O marido diria depois que Graça ainda está em recuperação das sequelas físicas.
Depois de ter estado internada no Hospital de Santarém, segundo apurou a 'FLASH!', Xinha – como é tratada pelos mais próximos – continuará agora a recuperação no Santa Maria, onde pode acompanhar de perto a evolução do estado de saúde das quatro filhas: duas gémeas de 6 anos, e as duas mais velhas com 7 e 9 anos. Mantêm-se internadas desde o dia do fatídico acidente, sendo que o estado de saúde de uma das gémeas – que sofreu um traumatismo cracraniano com hemorragia, e que tem também uma lesão no baço – é o que inspira mais cuidados. Desde o acidente que dia e noite a família não arreda pé do hospital, sendo que o avô, João Palha Ribeiro Telles é o rosto da dor.
O pai, que se encontrava na Alemanha aquando do acidente, só conseguiu voo para regressar um dia depois da tragédia. Num momento de luto e dor profundas, tenta amparar a mulher e, no momento mais emotivo das cerimónias fúnebres, tomou a palavra em plena igreja para agradecer o carinho que a família tem recebido, não deixando que recordar o pequeno Vicente que, com uma vida tão fugaz, conseguiu deixar tantos ensinamentos. João Caldeira referiu-se às desavenças familiares saradas no momento de dor, em que descobririam da pior maneira o quanto todas as guerras são, no fundo, irrelevantes quando somos confrontados com algo desta dimensão.
A DUREZA AS IMAGENS DO ACIDENTE
Para já, continua a ser investigado o acidente que vitimou o pequeno Vicente, de dois meses, e que ocorreu pelas 15h30 do dia 13 de novembro, na Estrada Nacional 119. Ainda não se sabe ao certo o que terá levado Graça Ribeiro Telles a perder o controlo da carrinha de sete lugares que conduzia e a entrar na outra faixa de rodagem. Fontes afirmam que terá sido uma ultrapassagem mal conseguida, outras apontam para um pequeno momento de distração, normal a uma mãe que seguia num veículo com quatro crianças e um bebé.
Ao entrar na faixa de rodagem contrária, a carrinha em que Graça conduzia embate na lateral de uma outra carrinha, antes de ser atingida por uma segunda viatura. As imagens mostram a brutalidade do acidente, que chocou todos os envolvidos e gerou uma onda de comoção por todo o país. Segundo a 'The Mag By Flash' apurou, a equipa de bombeiros que prestou os primeiros socorros à família teve mesmo de receber apoio psicológico, tal era a brutalidade do acidente. "Claro que há acidentes graves na estrada todos os dias, mas o que se viu ali foi um cenário de horror, principalmente por envolver tantas crianças e este bebé", lamenta a fonte.
O bebé Vicente, cuja pequena urna foi transportada pelo pai até à carrinha funerária, numa imagem absolutamente dolorosa e impressionante, acabaria por falecer ainda no local do acidente, sendo que uma das gémeas foi helitransportada em estado crítico para o Hospital de Santa Maria. A menina, que tem o mesmo nome da mãe, é a que inspira mais cuidados desde o início e após o despiste teve mesmo de ser reanimada.
Depois das cerimónias fúnebres do bebé, é nestas quatro meninas que estão no Hospital de Santa Maria que se concentram agora todas as esperanças, com uma comunidade inteira a rezar pelas netas do antigo cavaleiro João Palha Ribeiro Telles. Além dos populares, na missa de despedida do bebé Vicente esteve também Pedro Santana Lopes e, sobretudo, muitos nomes ligados à tauromaquia como João Moura, Luís Rouxinol, Rui Fernandes ou Paulo Caetano, num espírito de união à prova de tudo como há muito não se via. O Grupo de Forcados de Montemor, do qual João Caldeira fez parte, também esteve em peso na homenagem em que o sentimento geral era de consternação.
As lágrimas tomaram conta da igreja numa missa celebrada num tom especialmente emotivo e que culminou com a mensagem de dor e esperança deixada pelo pai enlutado.