
O nome de Sofia Aparício sempre foi uma 'instituição' no mundo da moda. Foi um dos rostos mais consagrados das passerelles nos anos 90 e, mais tarde, daria também cartas como atriz. Mas esse quase que parece um passado distante quando nos confrontamos com a notícia de que a antiga manequim foi uma das portuguesas detidas por Israel na chamada Flotilha Humanitária, quando já se encontravam a poucas horas do destino final: Gaza.
Para muitos a questão foi quase imediata e gerou estranheza: o que fazia, afinal, Sofia Aparício, de 55 anos, na embarcação e qual a sua ligação a causas humanitárias? No entanto, para quem tem seguido atentamente o seu percurso, foi com naturalidade que assistiram a esta decisão do antigo rosto da moda, que nos últimos tempos deixou cada vez mais o brilho do estrelato em prol de uma vida mais conectada com o próximo.
Nas redes sociais, essa transição foi clara e passou a ser uma realidade quando Sofia Aparício começou a fazer viagens pelo mundo para locais onde a sua presença poderia ser, de alguma forma, útil à população. Numa entrevista recente à 'Visão', a antiga modelo diz que isso é praticamente inato em si, mas que essa consciência se desenvolveu com o passar dos anos. "Em miúda, a minha mãe ralhava comigo: “Lá estás tu a querer ajudar os pobrezinhos.” Mas não era isso. O meu instinto foi sempre proteger os mais frágeis", começou por explicar, demonstrando as suas preocupações concretas. "Agora, especificamente, indigna-me o que se está a passar na Palestina. As pessoas têm medo de usar a palavra, mas a definição de genocídio é exatamente o que está a acontecer ali por interesses económicos. Como é que uma pessoa consegue ser acionista de uma fábrica de armas e tem os seus filhos e os seus netos a dormir? Gosta deles, quer que tenham um sono tranquilo e vende armas? Esta distopia… Não consigo viver numa bolha."
Ligada a várias causas humanitários -apadrinha várias crianças - sem filhos por opção e com forte consciência dos problemas que a rodeiam, no início de setembro decidiu embarcar nesta viagem ao lado Mariana Mortágua, com a esperança de fazer a diferença em Gaza, levando medicamentos e alimentos a quem está cercado. "Ficar sentada no sofá a fazer partilhar, muito revoltada, não serve de nada. Surgiu esta oportunidade, ponderei e decidi ir. Eu tenho esperança que consigamos furar o cerco, chegar a gaza e deixar um corredor humanitário aberto. Tenho esperança que consigamos chegar com os alimentos e medicamentos a Gaza. Estas pessoas estão a morrer à fome", disse, pouco antes de embarcar. Ao longo do último mês, nas redes sociais, foi atualizando detalhes da viagem, as peripécias, sempre com uma forte esperança de fazer a diferença, antes de o vídeo previamente gravado ter confirmado aquilo que mais temiam: foi detida pelas forças israelitas antes de chegar ao destino final.
O APOGEU, O CONSUMO DE DROGAS E A LIBERDADE
Na década de 90, quando se falava em moda, o nome de Sofia Aparício era um dos primeiros a vir à baila. Considerada uma manequim com medidas perfeitas, acabaria por apresentar um dos programas relacionados com novas tendência mais conceituados dessa década: '86-60-86'. Entre as passerelles e a representação, pelo meio mostrou-se sempre muito frontal, falando abertamente sobre as suas experiências, nomeadamente o consumo de drogas.
Experimentei drogas porque sou muito curiosa. Para o bem e para o mal", revelou Sofia Aparício numa entrevista conduzida por Iva Domingues. "Nunca injetei nada nas veias. Calma. Experimentei o que havia para experimentar. E o que me apeteceu experimentar. Mesmo essas coisas fizeram de mim uma melhor pessoa, porque não sinto que me tenha corrompido. Nunca me traí. Essas coisas nunca foram mais importantes do que a minha integridade", disse.
Falaria também de forma desprendida sobre a sua sexualidade para revelar que sentia atração tanto por homens como por mulheres.
"Fui assediada por homens e mulheres e correspondi a homens e a mulheres. Digo abertamente porque não me arrependo de nada do que fiz", assumiu a agora atriz. "Acho que todos os seres são bissexuais. Não acho que a sexualidade defina ninguém. É como gostar mais de feijoada do que de peixe grelhado. Isso não define o caráter ou a inteligência de ninguém", afirma, assegurando, contudo, que só se apaixonou por homens. "A relação com mulheres é no sentido carnal".
Uma vida que Sofia sempre quis que fosse livre, o que a levou a maior desprendimento em relação a situações de perigo.
"Adoro o abismo. É irresistível estar lá perto. É muito bom ter lá ido e ter voltado... intacta", assume Aparício, que afirma não guardar arrependimento em relação às suas atitudes mais arriscadas. "Mesmo nas más experiências ou nas fases em que fiz asneira, quer seja droga ou outra coisa qualquer, essas fases fizeram de mim a pessoa que eu sou hoje."