
Benedita Pereira, João Catarré, Pedro Teixeira, Cláudia Vieira, Diana Chaves, Mariana Monteiro, Joana Duarte, Jessica Athayde, Rita Pereira, Mafalda Pinto, Sara Prata, Ana Guiomar, Lourenço Ortigão, Sara Matos, Ricardo de Sá... são hoje estrelas da ficção nacional. Mas todos eles tem uma origem comum que se chama 'Morangos com Açúcar'.
A série juvenil que prendeu a atenção dos portugueses durante dez anos, entre 2003 e 2013, cfez surgir muitos protagonistas. Tantos que a TVI, durante anos, não precisou procurar mais, pois tinha um manancial de atores como poucas estações criaram. Era uma verdadeira máquina de fazer estrelas. E a isso podia agradecer ao público que todos os dias, entre as 18h45 e as 19h55 ficava "colado" ao pequeno ecrã, para ver as aventuras dos jovens no famoso colégio da Barra ou numa qualquer praia do país - embora a mais famosa tivesse sido a praia Azul, em Tróia.
Quando, em 2013, os 'Morangos com Açúcar' se despediram ninguém acreditou que seria para sempre. E em 2018 quase que estiveram para regressar, embora tal nunca se tenha concretizado. Contudo, o tempo foi passando, os atores que foram estrelas dos 'Morangos' cresceram e tornaram-se famosos noutros papeis. E a TVI, depois de ter anunciado o regresso da série, punha-a em banho maria. Nem mesmo, à altura, a presença no elenco de Sara Carreira, Bárbara Bandeira e João Maria a fizeram avançar.
A TVI parecia ter esquecido talvez marca mais forte que alguma vez tinha criado.
E com o tempo as linguagens também mudaram. E se no tempo dos 'Morangos' se olhava para a hoje velhinha 'Beverlly Hills', numa espécie de inspiração, com os seus casas e descasas, romances escaldantes e loucuras de adolescentes- tratando os temas sempre com alguma leveza e parcimónia - os últimos dez anos mudaram tudo.
Longe vão os tempos em que o tema principal era simples: um rapaz conhecia uma rapariga, apaixonava-se, surgiam uns vilões pelo meio, muitas vezes ligeiramente tontos, uma traição, um arrufo, um novo amor... até que no final dos perto de duzentos e picos episódios percebiam que estavam fadados um para o outro e ficavam juntos. Tudo isto no 12º ano!
Era assim que eram quase todas as histórias, mais coisa menos coisa. Mas os últimos dez anos transformaram a forma de se contar as aventuras dos adolescentes.
Primeiro juntaram-se vampiros, lobisomens e bruxas - 'Diário de um Vampiro', 'Legacies', 'Buffy a Caçadora de Vampiros', 'Smallville', 'Inadaptados' são alguns exemplos - mas depois voltou-se à realidade.
E foi a doer:
'OC- Na terra dos Ricos'- em que um jovem pobre vem para casa de uma família rica e deparara-se com as loucuras de quem tem dinheiro. Apaixona-se por uma jovem com vários problemas de saúde mental, que acaba por o trocar por uma mulher;
'Riverdale', inspirado nos comics dos anos 50, reinventou no século XXI a forma de abordar problemas juvenis, misturando ficção, sobrenatural e fantástico com momentos verdadeiramente assustadores;
'Euphoria', em que o tópico são os dramas de adolescentes que convivem no mundo das drogas, em que o sexo muitas vezes é a moeda de troca, com as protagonistas sendo duas lésbicas, uma delas na realidade transexual;
'13 Reasons Why' em que valeu tudo: falou-se de suicídio, bullying, homossexualidade, tiroteios em escolas, onde nem sequer faltaram cenas de violação e avisos parentais no início de cada episódio, não fosse a série chocante...
'Gossip Girl' onde sem tabus se falou das aventuras de jovens extremamente ricos onde a sexualidade é vista sem tabus e que se tornou uma rampa para marcas de roupa e não só;
'Elite' que começa com a história de três adolescentes de origem humilde que ganham uma bolsa de estudo num colégio de milionários onde se deparam com um crime violento; uma relação gay torna-se o centro de de um grupo de protagonistas;
'Um dos Nós Mente' em que um jovem aparece morto numa sala de castigo onde estavam fechadas apenas 4 pessoas que nada tinham a ver uma com a outra... sendo que uma delas vive uma relação abusiva, um mente sobre a sua sexualidade, outro falsificou exames, e outro trafica drogas... tudo quando são todos chantageados...
E isto é apenas uma amosta...
E daí perguntarmos: estarão os 'Morangos' maduros o suficiente para voltarem e abordarem estas e outras questões permentes?
Pois tudo aponta que sim. Ou pelo menos essa é a vontade da TVI em parceria com a Amazon Prime. Uma parceria que decidiu fazer algo que há muito não de fazia nestes produtos: abriu castings para jovens desconhecidos entre os 18 e os 22 anos de todo o pais. O acontecimento deu-se no dia 11 de Fevereiro... e há muito não se via nada igual!
O CASTING
Eram 10 da manhã quando a FLASH! The Mag chegou à FIL onde decorriam os castings. Estava previsto serem vistos "perto de dois mil jovens", dizia-nos à chegada Piet-Hein Bakker, director geral da Plural, a produtora que faz as novelas da TVI. Mas na fila o número era consideravelmente maior. Havia quem tivesse ido para a porta no dia anterior. Queria ser o primeiro a passar a porta e ganhar o "bilhete dourado" (havia, de facto, bilhetes dourados para quem passava no casting) e assim conquistar um lugar nos novos 'Morangos'. Nem o frio impediu que ali ficassem horas a frio à espera. Houve até quem encomendasse para ali comida à Uber Eats.
Se uns chegaram no dia anterior, um grupo enorme mudara-se durante a madrugada, e por isso vinha apetrechado com cobertores, mantas e roupa muito quente para o que desse e viesse.
Às dez da manhã (as portas tinham aberto às 8h30) já estavam dentro da FIL perto de 500 pessoas. E se muitos estavam espantados com o que viam, o "pai" dos 'Morangos', José Eduardo Moniz, diretor-geral da estação de Queluz de Baixo confirmava apenas o que há muito desconfiava. "Já estava à espera que isto acontesse. Esta enchente! O peso da marca 'Morangos' tem uma força enorme e eu... nós sabíamos que havia muita gente das camadas mais jovens que viriam tentar a sorte, porque há muitos que se querem afirmar na representação, no canto, na dança e isso iria fazer com que uma avalanche de pessoas viesse para cá", dizia, com um sorriso no rosto.
Lá dentro os jovens passavam por duas fases. A pares, com um pequeno diálogo igual para todos, enfrentando já a câmara. "Em cada sala há um equipa de gravação, um coordenador artístico e é feita uma avaliação. Depois, se passarem seguem para uma segunda sala onde está parte do coração criativo dos 'Morangos', que verá novamente esse jovens", explicava Piet Hein Bakker, diretor da Plural. E assim era. Lá entravam dois a dois, a medo...e se tudo corria bem, chegavam com um bilhete dourado para a fase seguinte. Uma coisa era certa, garantia Carla Chambel - atriz que estava com Diogo Mesquita e Ana Rita Tristão (entre outros) a escolher os candidatos na fase inicial - ninguém esperasse facilidades. "Procura-se excelencia. A bitola é alta", garantia. "Porque esta é uma oportunidade real das pessoas entrarem para o elenco fixo de uma série, o que abre uma porta para uma experiência única", dizia.
Contudo nem todos recebiam o tal bilhete dourado. Carla Chambel ia vendo pares uns atrás dos outros, com os devidos intervalos, sempre "com um nervoso miudinho, porque isto tem muita responsabilidade. Porque esta escolha é mesmo importante. Para uns pode ditar o futuro. Para outros apenas uma experiência gira. E mesmo aos que não passam eu digo sempre que foi mais um medo que superaram, que hoje não conseguiram mas podem conseguir para a próxima", garantia. "Porque na realidade ser ator é, acima de tudo, levar 'nãos'!"
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EM BUSCA DO NOVO ROSTO DOS 'MORANGOS'
Uma coisa era garantida: a produção estava à procura de protagonistas. "Abrimos o casting para todo o tipo de papéis. Queremos ver jovens para todas as camadas da trama", dizia José Eduardo Moniz. "Isto não é para ser giro. Isto é um 'casting' para descobrir atores. O espírito dos 'Morangos' sempre foi a descoberta. E é isso que estamos aqui a fazer", garantia depois Piet Hein, que andou com o director da TVI a ver muitas das salas onde estiveram a ser feitos os 'castings'. Observaram, deram opiniões e depois seguiram para o meio da multidão onde rapidamente foram engolidos por jovens ansiosos por, quem sabe, conseguir assim convencer os patrões dos 'Morangos' que deviam ter um lugar na produção. Piet Hein ria-se. "Isto aqui não há lugar para cunhas. Só para pessoas que querem mesmo trabalhar e que são mesmo boas".
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O desafio foi grande para quem ia vendo jovens entre os 18 e os 22 anos. Às 13h00 estava a entrar o número 961. Só às 19h00 surgia dentro da FIL o 1881. Cá fora houve quem ficasse aborrecido e apontasse o dedo à produção, acusando-os de desorganização, mostrando vídeos de momentos menos felizes, mas lá dentro fazia-se de tudo para ver dois mil rostos. "A ideia é ver o máximo de pessoas possível. E temos tudo organizado", garantia Piet-Hein Bakker.
MAS AFINAL O QUE É QUE MUDA?
A aventura da TVI com a Amazon garante, acima de tudo, uma coisa: um orçamento maior. Sérgio Bastista, produtor da série assim o assegura. "Temos mais meios para produzir porque e fasquia está elevada", contou à FLASH! The Mag. E há uma razão para tal, como nos explicou José Eduardo Moniz: "A série será exibida na TVI, mas também na Amazon não só em Portugal mas em Espanha e no Brasil. Os 'Morangos' são a marca mais internacional que temos e não vejo porque não poderia vingar nesses mercados".
A verdade é que no passado, pelo menos no Brasil, não teve muita sorte, mas desta vez há... dinheiro! Muito mais do que é habitual. "E isso acarreta outras responsabilidades. Esta expansão faz com que o nossos cuidados sejam redobrados. Há mais dinheiro de facto, mas há também mais investimento em toda a linha. Nada fica ao acaso. Não que no passado ficasse, mas a verdade é que tudo era alavancado por uma só estação de televisão e isso trás as devidas limitações. Agora há outros parceiros", completava Sérgio Baptista que nos explicou ainda que por isso a história "vai ter que ser mais abrangente.... Universal, e isso é que nos fazer ter ainda mais responsabilidade".
"A série será exibida na TVI, mas também na Amazon não só em Portugal mas em Espanha e no Brasil"
José Eduardo Moniz
Mas o que quer isso dizer nos dias hoje? "Que muda tudo!", explica José Eduardo Moniz quando o abordamos sobre como vão ser estes novos 'Morangos'. "Muitos anos decorreram desde que a série termimou, e claro que vão ser feitos ajustamentos na histórias, na forma de contar as coisas...mas acima de tudo não temos medo de ir para o mercado competir com todas as séries para jovens", garantiu sem medo o director da TVI.
Mas será que podemos dizer adeus à inocência dos Morangos?
Se fomos a ver, séries como 'Gossip Girl', 'Euphoria' ou 'Elite', só para mencionar três, a linguagem e a forma de abordar os assuntos mudou muito. Sexo, violência, homossexualidade, drogas, bissexualidade, armas... são alguns dos temas (antes tabu) mais frequentes, em histórias cada vez mais "escuras", num tom mais sério e menos inocente. Com os 'Morangos' não se sabe como será construído o guião, porque para Moniz "o segredo é a alma do negócio", brinca. "O que posso assegurar é que é um produto para a família, mas que não vai deixar de falar de nada. A inocência está cá, porque em todas as gerações ela existe. Mas a forma de contar a história essa vai ser diferente", diz sem se alongar...
Relembra, contudo, que desde a primeira série os 'Morangos' não foram tão inocentes assim. De facto, se recuarmos no tempo, na primeira série falou-se de drogas, de relações entre estudantes e pais, de violência no namoro, bullying. "Nunca nos escondemos de falar fosse no que fosse. Retratámos a juventude daquele tempo", garante Moniz que quer que aconteça o mesmo "nesta nova fase".
Até porque o guião já está escrito... ou não arrancassem as gravações "dentro de algumas semanas", assegura o director da TVI. E a história, garante Piet Hein Bakker, vai ter espaço para tudo... especialmente para o tema da inclusão, hoje tão falado em Portugal e no mundo inteiro. "Tudo tem que começar pela escrita. E nós estamos a ter muita atenção nesta série, para que seja inclusiva", começa por dizer o diretor da Plural. "Vamos ter pessoas de todas as raças, credos, sexualidades, embora, sejamos práticos, para estes jovens, para os miudos, muitos destes temas já não significarem o tabu de há 20 anos. Por isso decidimos tratar a inclusividade, seja em que tema for, com a maior normalidade possivel, porque a melhor forma de abordar temas é mostrar a normalidade das situações", esclarece.
Talvez por isso Carla Chambel, durante o casting, assim como todos os colegas, tenham tido "alguma preocupação com a representatividade. Não viemos aqui preencher cotas nem arranjámos papéis para nichos. As pessoas tinham era que ser boas, fossem de que raça fossem, credo, sexualidade. Obviamente que estamos atentos a um tema que é muito forte, mas também quisemos escolher pessoas que fossem, acima de tudo, boas. Quem leu o guião que demos a quem veio aos castings repara de imediato que o diálogo é para qualquer pessoa", garantiu.
José Eduardo Moniz garante que é um "projecto minucioso que merece toda a atenção, de todos os departamentos, estamos atentos a tudo", veiculou.
QUEM ENTRA E QUANDO ESTREIA
Mas afinal quem é que vai fazer parte do elenco?
José Eduardo Moniz garante que desde que anunciaram o regresso dos 'Morangos com Açúcar' o seu telefone não parou. O mesmo garantiu Piet-Hein Bakker. Mas até agora garantidos no elenco... estão poucos. Para já, o que a FLASH! The Mag sabe é que Rita Pereira estará no papel de Soraia, o mesmo a que deu vida em 2004, na segunda temporada da série. Mas não estará sozinha. O amigo Pedro Teixeira também volta no papel de Simão, mas desta vez em vez de andar a correr de motas será o dono da escola onde decorre a acção. A ele junta-se, para já, Patrícia Tavares, que volta a ser professora de educação física e o ator brasileiro Thiago Rodrigues que será um dos pais que não fará a vida fácil ao filho.
Mas não estarão sozinhos. José Eduardo Moniz garante que haverá "uma visita dos D'ZRT (Edmundo Vieira, Paulo Vintém e Victor Fonseca)", assim como de outros convidados musicais. "Vamos ter música original, mais uma vez, que foi sempre um dos trunfos da série".
Pelo meio, ao que tudo indica, também já há baixas. Embora quer Cláudia Vieira quer Lourenço Ortigão já se tenham manifestado felizes com o regresso da série, deram um 'não' a José Eduardo Moniz, tal como Diana Chaves, que agora é estrela de 'Casa Feliz', na SIC. Jessica Athayde também está de fora.
Na produção, porém, ninguém tem medo que faltem atores "pois há muita gente disponível e nós vamos fazer voltar quem tiver mesmo que vir", explicou-nos o diretor da Plural.
A estreia... "será no último trimestre do ano", avança Moniz, sem dar um dia específico, sendo que os 20 episódios da primeira temporada (são duas as negociadas, para já) serão para já semanais. "Estamos a estudar como vai ser a exibição. Há ideias a nascer. Sendo que dará em simultâneo na TVI e na Amazon", garante Moniz.
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Resta saber se o sucesso será o mesmo...