
Tinha Michael Bublé (ainda um ilustre desconhecido) acabado de angariar 50 mil euros para gravar cinco canções numa demo [disco de demonstração], quando o produtor David Foster (que já tinha trabalhado com nomes como Whitney Houston, Mariah Carey, Andrea Bocelli, Madonna ou Michael Jackson) o levou até ao presidente da editora Warner (uma das maiores do mundo) para uma entrevista. Música para cá, música para lá, conversa puxa conversa e a determinada altura Bublé foi confrontado com a pergunta que lhe mudou a vida: "Porque razão hei-de eu contratá-lo se tenho o Frank Sinatra no meu catálogo?", ao que o cantor respondeu: "Ao contrário de Sinatra, eu estou vivo". E assim conseguiu o seu primeiro contrato discográfico. O resto da história resume-se em números: 4 Grammys, 10 Junos (prémios da música canadiana), mais de 60 milhões de discos vendidos e 80 milhões de fortuna pessoal.
De regresso a Portugal, Michael Bublé atua esta sexta-feira e sábado na Altice Arena, em Lisboa, sendo esta a sexta vez que esgota a maior sala de Portugal. Mais do que ele, só mesmo Tony Carreira e André Rieu terão inscrito mais vezes o seu nome naquele espaço. Bublé traz na bagagem a mais recente digressão 'Higher Tour'. Para ouvir estão os originais e os clássicos, ou não fosse ele apontado como o artista que soube dar uma nova vida aos grandes standards da música norte-americana, tudo isto pincelado pelo humor e pela boa disposição do artista. Ele próprio já se considerou um comediante de stand up que faz concertos ao vivo.
Nascido na cidade de Burnaby, no Canadá, a 9 de setembro de 1975 (tem 47 anos), Michael Bublé cresceu num ambiente familiar relativamente humilde, a mãe (de descendência italiana) era dona de casa e o pai (de descendência croata) um pescador de salmão. Começou a sonhar com a música muito cedo, mas nunca pensou que fosse possível alcançar uma carreira. O primeiro grande desejo, que lhe pareceu concretizável, foi ser jogador profissional de hóquei no gelo e alinhar pelo seu clube do coração, os Vancouver Canuks, de quem não perdia um único jogo na juventude. "Era muito fixe chamar-me Bublé porque quase tinha o mesmo nome de um dos meus ídolos, o Jiri Bubla", viria a contar em entrevista.
Como praticante de hóquei, o cantor rapidamente percebeu, no entanto, que não tinha condições para vir a ser um "fora de série" e a representar condignamente o seu clube e por isso desistiu do sonho. "Se tivesse conseguido, claro que hoje não seria cantor", diz. Aos 14 anos, começou a trabalhar com o pai no negócio do peixe e durante os seis anos seguintes, sobretudo no decorrer do verão, ajudava em todas as tarefas. "Foi o trabalho físico mais mortal que tive na vida. Chegávamos a estar fora de casa dois meses, mas o facto de passar tanto tempo como homens que tinham o dobro da minha idade também me ensinou muito sobre responsabilidade", contava em 2007 em entrevista ao jornal The Times.
A primeira vez que demonstrou 'publicamente' algum jeito para a música foi aos 13 anos durante um jantar de Natal em família, isto numa altura em que ainda ninguém sabia que o jovem Bublé "já dormia agarrado à bíblia a rezar para ser cantor", conforme chegou a confidenciar a Oprah Winfrey em 2009. Começou a cantar em clubes noturnos aos 16 anos enquanto ia ouvindo os discos de jazz do avô, um canalizador que oferecia os seus serviços da borla aos clubes que quisessem contratar o neto para atuar.
Aos 18 anos passou a aproveitar todas as oportunidades para mostrar a sua voz, como cruzeiros, bares de hotel ou concursos de talentos e até teve algumas experiências na representação, tendo mesmo surgido, imagine-se, num dos episódios de 'Ficheiros Secretos' como membro da tripulação de um navio. Foi, no entanto, no casamento da filha de Brian Mulroney (primeiro ministro do Canadá entre 1984 e 1993), que conheceu o renomado produtor David Foster que teve um papel impulsionador na sua carreira ao levá-lo a assinar o seu primeiro contrato discográfico.
Com doze discos lançados até ao momento, Michael Bublé construiu nos últimos 22 anos uma das mais profícuas e bem sucedidas carreiras do mundo da música pop. Segundo a revista 'Public With Money' o cantor inicia já este ano de 2023 como o mais bem pago do mundo dos espetáculos, tendo uma fortuna pessoal avaliada em 80 milhões de euros que o levou a construir, nos últimos anos, um verdadeiro império. Segundo aquela fonte, o cantor tem vários investimentos em ações, propriedades imobiliárias e é dono de vários restaurantes. Tem um acordo com a marca de cosméticos CoverGirl, é proprietário de um clube de futebol em Burnaby, tem a sua própria marca de Vodka ('Pure Wonderbublé') e um perfume líder de vendas para homem e mulher ('Sedution').
"Menino da mamã" assumido (as palavras são do próprio), Michael Bublé revelou sempre um fraquinho por atrizes no que toca aos seus relacionamentos pessoais (dizia ele queria ser famoso para despertar o interesse nas mulheres e consegui-o). É casado, desde 2011, com a atriz e cantora argentina Luisana Lopilato, para quem escreveu o tema 'Haven't Met You Yet' enquanto namoravam (é precisamente ela quem aparece no vídeo desse single). Antes de Lopilato, Bublé namorou, no entanto, com a atriz Debbie Timuss para quem escreveu uma música ('Home') e a também atriz Emily Blunt que conhecera num programa de televisão em 2005 (é ela que faz backvocals no tema 'Me and Mr Jones').
Com Luisana Lopilato, Michael Bublé tem quatro filhos, dois rapazes nascidos em 2013 e 2016 e duas meninas nascidas em 2018 e 2022. Numa vida que em tudo se assemelhou a um conto de fadas, o cantor viveu, no entanto, em 2016 um drama familiar que quase o levou a terminar a carreira, quando o filho Noah foi diagnosticado com um cancro (hoje com oito anos, já está curado). "Desmoronei. Fiquei despedaçado. Pensava que não ia mais voltar à música. Não queria mais cantar", revelaria em entrevista à revista 'Hello! Canadá'. "Foi a minha mulher que pegou em mim e me trouxe de volta", explicou. Já mais recente, em setembro do ano passado, no decorrer de uma entrevista ao podcast Gaby Roslyn, Bublé afirmou que está a pensar em afastar-se em definitivo para ser pai a tempo inteiro. "Quem pensa que o sucesso, a fama e o dinheiro melhoram tudo na vida, está bem enganado".