Ainda Pedro Mafama era uma criança nos primeiros anos de escola, quando a professora lhe pediu para fazer um desenho da mãe. "E eu desenhei-a nua, porque era assim que a via. Não era obviamente um retrato renascentista, mas era um boneco. Acho que aquele foi o meu primeiro gesto artístico porque foi feito sem qualquer filtro". O músico, que ainda hoje se assume como "um artista sem regras" e não como um cantor, sobe esta sexta-feira sobe ao palco do Campo Pequeno, em Lisboa, para o que diz ser um espetáculo de celebração do último ano, durante o qual deu mais de 60 concertos de norte a sul do país. "O Campo Pequeno vai ser o culminar disto tudo". Prometido está o seu concerto mais intenso de sempre, no qual coloca em prática o conceito de 'baile core' que envolve "toda a estética e modo de vida de baile". Para entoar, a uma só voz, estará obviamente esse refrão que tomou Portugal de assalto em 2023: "Olarilolé, Olarilolé, bailar assim sabe tão bem!".
Se é verdade que o nome de Pedro Mafama já não é hoje estranho para ninguém, o facto é que até há pouco mais de um ano, ele ainda era apenas conhecido por um nicho de mercado. Uns já tinham ouvido falar dele por ter recebido a distinção de artista revelação nos Prémios Play em 2021 a propósito do álbum de estreia (ainda assim sem grande expressão de massas), outros já tinham ouvido dizer que era ele um dos responsáveis pela reinvenção artística de Ana Moura. A verdade é que tudo mudou na vida de Pedro Mafama quando, em abril do ano passado, lançou o single 'O Preço Certo', a canção que tinha o tal refrão: "Olarilolé, Olarilolé!".
"O que eu quis fazer foi uma coisa que chegasse a toda a gente. Queria entrar na casa de todos os portugueses e dizer: 'Eu estou aqui. Olhem para a nossa cultura'. E surpreendeu-me, a forma como as pessoas conseguiram ver, que eu vinha com boas intenções, que só queria chegar a toda a gente e dar a mão a todo o país" explica Mafama. Graças ao ‘Preço Certo’, o cantor correu, no ano passado, quase todas as feiras e romarias do país, numa visita ao Portugal real e profundo, que lhe valeram muitas histórias para contar. "Lembro-me de um concerto em que houve uma invasão de palco, porque os bombeiros que estavam a fazer a segurança, tiveram que abandonar o recinto para responder a um incêndio. As pessoas perceberam que estavam por conta delas e invadiram o palco. Acho que, naquele momento, me senti como o Ronaldo se deve sentir".
Mas afinal por onde andava e o que fazia Pedro Mafama antes do sucesso?
Pedro Simões, de seu verdadeiro nome, cresceu no bairro da Graça. Começou por estudar multimédia na Voz do Operário e depois Artes Plásticas, na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha. No fim da faculdade, trabalhou num hostel e fez de guia turístico onde se desviava muito daquilo que era a tour habitual. "Uma das coisas que eu fazia era levar os turistas a ver a Lisboa multicultural, começando por sitios que denunciavam desde a presença árabe em Lisboa até à presença africana. Falava-lhes muito de fado também. E lá está: desviar-me da rota e do caminho sempre é uma coisa que vai fazer parte de mim". Trabalhou depois numa editora discográfica e vendeu merchandising para os Buraka Som Sistema. "De repente estava no backstage e na mesa de almoço com as pessoas que mais admirava artisticamente. As minhas pernas tremiam quando estava com eles".
Em 2021, Pedro Mafama lançou o seu primeiro disco, ‘Por esse Rio Abaixo’, e nesse mesmo ano assumia o namoro com Ana Moura, a mulher que lhe mudou o lado artístico e lhe moldou o coração… para melhor. "Acho que os dois nos mudámos um ao outro, de formas muito diversas. Sem esta pessoa e sem tudo o que me aconteceu nestes últimos anos, não havia esta alegria em mim", começa por dizer. "A minha vida não era uma celebração e agora é. Aqueles que se recordam do meu primeiro disco, sabem que eu era outra pessoa, porque o meu estado de espírito era muito diferente. Eu tinha maus hábitos no coração. Gostava sempre de quem me fazia mal. A Ana trouxe-me e traz-me muita coisa boa todos os dias, como acontece com qualquer pessoa que amamos". O novo single 'Sem ti', é, de resto, dedicado à fadista. Nele há um verso que não engana: "Já não esperava encontrar alguém como tu, mas encontrei". O amor entre os dois, recorde-se, deu frutos há dois anos com o nascimento da filha Emília.
