
É mais ou menos como a pandemia: ninguém sai do apagão sem, de forma mais ou menos séria, repensar o modelo de vida tal e qual como a vivemos, aos dias que correm. Da dependência energética, à correria desenfreada, passando pela forma como centramos a nossa existência, muitas vezes, em torno de ecrãs, esta paragem forçada levou-nos a, ainda que por um dia, viver sem pressas, passar mais tempo com as crianças nos parques que, por sinal, se encheram de vida.
Nos relvados, havia toalhas estendidas e pessoas a quererem, simplesmente, aproveitar o calor, conversas partilhadas ou livros abertos porque, na verdade, eles nunca ficam sem bateria, nunca nos deixam ficar mal.
Para muitos, o hábito já está enraizado, para outros simbolizou uma redescoberta deste prazer esquecido em prol de séries da Netflix. Num caso ou noutro, o livro é um dos grandes vencedores deste apagão ibérico que, para muitos simbolizou uma reconexão com prazeres perdidos.
Deixamos-lhe cinco romances recentes para quem ficou com vontade de descobrir algumas novidades literárias.
A QUALQUER MOMENTO, de Liane Moriarty
Imaginem que apanham um voo e, a dada altura, uma passageira começa a distribuir profecias por todos aqueles que embarcaram no avião, vaticinando o dia e causa da morte. Esta é a premissa do mais recente livro de Liane Moriarty, que cria um enredo absolutamente viciante em torno de uma série de personagens e da forma como vão lidar com as previsões da Senhora da Morte, principalmente a partir do momento em que, meses mais tarde, um dos passageiros perde a vida exatamente nas circunstâncias em que a vidente previu. Como vão lidar os restantes com as previsões? É possível mudar o destino ou este está nas nossas mãos? Conceitos que são abordados com a mestria da escrita de Liane, autora de sucessos como Pequenas Grandes Mentiras.
DESCANSOS, de Susana Amaro Velho
Não é só ler que é maravilhoso. Ler autores portugueses dá-nos o prazer especial de conhecer a fundo em realidades que nos são tão próximas e que podemos redescobrir de uma nova perspetiva. O livro 'Descansos', de Susana Amaro Velho, é um dos romances portugueses mais bem conseguidos dos últimos tempos. Nele seguimos a história de Laura, que regressa à terra natal para o funeral da mãe, depois de uma ausência de 13 anos, em circunstâncias não completamente esclarecidas. Esse regresso vai fazê-la, de alguma forma, confrontar-se com as razões do súbito abandono, ao mesmo tempo que nos faz mergulhar nas histórias da família e amigos que deixou para trás. Um livro que nos leva a refletir sobre as imprevisibilidades da vida, que tudo mudam, e embarcar numa viagem por um Portugal profundo, com as personagens de Susana a representarem fielmente a realidade daqueles que vivem nos recantos por vezes esquecidos no mapa.
AS CRIANÇAS ADORMECIDAS, de Anthony Passeron
Se quem viveu a pandemia certamente não esquecerá as quarentenas, reclusão e incertezas daqueles tempos, quem cresceu na década de 80 também dificilmente não ficou marcado, de uma forma mais ou menos próxima, pelo drama que se abateu sobre muitas famílias destruídas pelo vício da heroína ou o surgimento de uma epidemia que parecia incontrolável do vírus da sida. Esses tempos são magistralmente relatados por Anthony Passeron que, entre a narrativa das personagens e dados relevantes à época, nos faz entender melhor o estigma que os infetados com HIV viviam, como a fatalidade do diagnóstico se revelava em tão pouco tempo e como destruiria tantas vidas.
AS HISTÓRIAS QUE NOS MATAM, de Maria Isaac
É mais um daqueles livros que nos fazem pensar que tudo muda num ápice. Miguel Godói tinha tudo aquilo que é suposto para a vida funcionar: saúde, um casamento feliz e uma carreira bem sucedida, mas com nada controlamos, um acidente improvável remete-o a uma condição de doente crónico grave, ao ponto de nem sempre conseguir controlar o próprio corpo. Os dias tornam-se, então, pesados e sem brilho, até que, pela mão de uma criança, Godói dá para si numa casa da Madragoa, onde se depara com uma possibilidade inesperada: um novo amor, que o leva de volta a um lugar de esperança e renovação. "São as histórias que nos matam, quando não conseguimos abandoná-las, nem mudar quem somos nela", é o mote deste livro que nos envolve e prende do início ao fim.
A Inquilina, de Freida McFadden
Há quem adore, há quem odeie, há quem não consiga descolar das páginas, há quem ache as tramas demasiado previsíveis ou então com plot twists rebuscados. Ainda assim, é inegável que Freida McFadden conseguiu trazer muitos para o mundo dos livros. E são muitos aqueles que pode ler desta médica norte-americana que se tornou num fenómeno de sucesso. Dos clássicos, da saga da 'Criada', ao último 'A Inquilina', esta pode ser uma boa leitura para quem quer recomeçar, gosta de thrillers e quer iniciar com algo que se leia de forma fácil e descomplicado.