
Com a jornalista e apresentadora Júlia Pinheiro de férias do seu programa Júlia, a SIC está a apostar em colocar famosos a fazerem entrevistas familiares em casa ou em locais que lhe digam muito. Foi o caso, esta semana, do ator José Raposo, de 60 anos, que entrevistou os filhos, os atores Miguel, de 37 anos, e Ricardo Raposo, de 30, bem como a mãe, Elizabete, de 88 anos.
Nesta entrevista intimista em família, os filhos do ator acabaram por revelar factos que foram tema público, e polémica, nomeadamente o de, em 2021, Ricardo ter aparecido na 'Gala dos Globos de Ouro', na SIC, com um vestido da mãe e em homenagem a um dos filhos pequenos, que gosta de se vestir de Xana Tic Toc.
"Na nossa banda de rock João Maria eu era uma persona, era Luísa Lisboa. Tinha várias personas porque é um escape performativo que eu tenho para não ser o Ricardo em várias bandas. Vou criando personas, lá está, que é o meu lado de revisteiro", conta Ricardo, cm rápida intervenção do pai, José, a pedir que o rapaz esclareça: "É bom pegar nisso, até para esclarecer, que há aí pessoas que fazem muita confusão, aquela história dos Globos de Ouro, em que foste com o vestido de mulher, é giro falar nisso".
O HOMEM MODERNO VESTE-SE... TAMBÉM DE MULHER
Ricardo reage ao desafio do pai e explica: "Claro que é giro, eu, simplesmente, na posição social em que me insiro acho que posso passar essas mensagens ao povo. E nós, enquanto artistas, somos o povo, o espelho do povo, como diz o Zeca Afonso, e ajudar o povo nesse sentido, do progresso, de sociedade. Há minorias que têm que ser ajudadas e nós, na posição social em que nos inserimos, é que podemos ajudar essas pessoas. O real homem moderno, da sociedade moderna, que não existe ainda, vindoura, devia poder vestir-se como se quer. E se gosta de usar vestido, pode".
O pai Raposo considerou que tinha que manter o tema e o filho reconhece que "há muitos preconceitos ainda". "Ainda há muita incompreensão. Nós como artistas, como mensageiros devemos, no fundo, fazer as pessoas pensarem nas coisas. E entregar umas mensagens, nem que sejam subliminares, que dê para as pessoas pensarem nestas coisas e evoluírem", salienta.
A seu lado, Miguel, o irmão mais velho, vai a fundo no tema da normalização da homossexualidade. "Não se falava muito neste tipo de coisas nos anos 80 e 90. Nós crescemos com dois pais livres, com um pensamento livre. Sem tabus. A maior parte dos amigos que estavam lá em casa eram homens a mulheres gays. Homossexuais, tivemos trans lá em casa. Isso para, nós, de repente, torna-se uma normalidade. É um privilégio termos crescido nesse contexto. Não questionamos sequer a existência de uma pessoa gay ou trans. Ou de uma mulher que gosta de outra mulher", rematou.