
Emblemática feminista, Maria Antónia Palla sempre foi uma mulher livre, mesmo quando o país vivia debaixo da ditadura salazarista.
No período revolucionário do 25 de Abril defendeu, ainda mais abertamente, a condição feminina. E uma das causas em que se empenhou foi a da despenalização do aborto. Para dar visibilidade ao problema fez uma reportagem, em 1976, para a RTP: "Aborto não é crime". Afinal, ela própria abortou, sem anestesia, por ser mais barato.
ACUSADA DE CRIME
A mãe do primeiro-ministro recorda o sofrimento pelo qual passou. "Não desejo a ninguém", revela, em entrevista ao semanário "Expresso".
Devido à reportagem "Aborto não é crime" a Maternidade Alfredo da Costa moveu-lhe uma queixa. "Fui acusada e julgada do crime de ofensa ao pudor e incitamento ao crime e exercício ilegal da medicina". Na mesma entrevista, conta ainda: "Pediam uma pena entre três a oito anos de prisão".
Maria Antónia Palla nunca desistiu de lutar pelos seus ideiais. Afinal, o aborto clandestino era uma realidade que a tinha marcado. Não só por ver outras mulheres sofrerem com as intervenções, feitas em parteiras, como por ela própria ter abortado nessas condições. "Toda a gente sabia que as mulheres faziam abortos clandestinos, de todas as classes".
Confessa ter tido "imenso" medo de o fazer mas o facto é que era comum. "Ainda me lembro de não haver pílula. Muita gente engravidava sem ter vontade".
Aconteceu-lhe. Já era mãe de António Costa e não queria ter mais filhos. "Era uma coisa horrorosa. Havia dois preços: com ou sem anestesia. Fiz o mais barato. É horrível, é pior do que ter uma criança".
À revista "FLASH!", em dezembro de 2015, já tinha falado da dificuldade de criar o filho sozinha, dado que se separou do pai de António, Orlando Costa. "Não era fácil porque os ordenados eram muito baixos".
Na mesma entrevista, confidenciou ainda por que não quis ter mais filhos. "Sou mãe de filho único. Por exemplo, não sou nada dada às fraldas. Essa parte passei, muitas vezes, ao lado".
A FILHA QUE MORREU
Aliás, António Costa nasceu na sequência da morte da irmã, Isabel, num acidente de viação. À "FLASH!" Maria Antónia Palla confessou: "É uma dor que nunca acaba. É um assunto no qual não tocamos, é muito doloroso e nunca foi ultrapassado".
Agora, ao "Expresso", Maria Antónia Palla volta a recordar a primeira filha. "Penso nela todos os dias. Quando se gosta tanto de uma pessoa ninguém, nem nada, a substitui".
Por isso, Maria Antónia Palla e António Costa não falam sobre Isabel. "Podia ser muito pesado para uma criança saber que já houve outra e que ocupou o seu lugar".