
Mais um relato de agressões e vingança veio a público esta semana sobre o poderoso emir do Dubai, Mohammed bin Rashid al Maktoum, que está debaixo de fogo depois que a sua terceira mulher, a princesa da Jordânia, fugiu para Londres há oito meses. Agora quem faz a denúncia é a primeira mulher do emir, Randa al-Banna, que foi expulsa do país quando pediu o divórcio nos anos 1970 e nunca mais pôde ver a filha, na altura com quatro anos. Depois de décadas em silêncio, esperando ser recompensada com uma relação com a filha, a mulher de 64 anos de idade decidiu dar uma entrevista ao 'The Times'.
"Ele não é um homem fácil. É muito teimoso. Fui embora, tomei a decisão mas não posso vê-la [a Manal] e não sei como ela é. Não estou autorizada a vê-la porque fui embora, então o meu castigo é não ver a minha filha", disse Randa. "Isto é muito injusto e tudo porque tomei a decisão de ir e ser livre".
O relato de Randa chega numa altura em que a princesa Haya avança com um dos divórcios mais polémicos dos últimos anos, lutando pela custódia dos dois filhos, no Reino Unido - no Dubai o emir teria privado a princesa da Jordânia de estar com os filhos.
Randa é filha de um político libanês e tinha 16 anos quando conheceu o xeque Mohammed, em 1972, numa festa em Beirute. Conversaram um pouco e o príncipe foi à sua casa no dia seguinte para fazer uma proposta à sua família. Meses depois estavam casados e a viver em Londres.
"Ele era bom e bonito naquela altura, mas eu era estúpida. Mostrou-me uma vida que pensava existir". Randa era uma jovem francófona de Beirute, enquanto Mohammed escrevia poemas em árabe clássico. Randa mudou o nome para Haifa, que pareceu menos europeu. Tinham uma vida de festas e diversão com amigos até que a jovem foi mãe aos 18 anos.
Os problemas começaram com o nascimento de uma menina numa monarquia islâmica. A nova família fez uma curta visita a Beirute quando Manal tinha 5 meses, foi quando Randa pediu o divórcio pela primeira vez, mas já ali viu a corte do Dubai impedir que ela ficasse com a filha. "Foi muito difícil. Perdi a minha família, não queria falar com nenhum deles. Perdi tudo, perdi a minha casa, a minha filha, a minha dignidade, o meu orgulho. Paguei o preço do amor".
A separação chegou quase quatro anos depois, mas Randa foi expulsa do Dubai. Chegaram a lhe enviar uma fotografia da pequena Manal, mas anos depois Randa soube que se tratava de outra das filhas do emir.
Em 2000, Randa foi autorizada a ver a filha na noite de um grande evento do emir, com milhares de pessoas. "Disse-lhe: 'Onde ela está?' Ele respondeu: 'Ali. Tenta reconhecê-la. Quero ver o teu instinto de mãe".
Randa não reconheceu a filha que não via há mais de 20 anos e voltou a ser expulsa do Dubai. Cinco anos depois, por ocasião do casamento de Manal, a mulher regressou ao Dubai planeando um encontro secreto com a filha, mas sofreu um ataque. Um homem com taco de beisebol abriu uma ferida na sua cabeça que precisou de 27 pontos, também teve quatro vértebras quebradas. Quando acordou o emir estava ao seu lado oferecendo-se para pagar o tratamento.
As circunstâncias deste ataque nunca foram esclarecidas. Não há provas de que tenha sido algo pensado pelo poderoso emir do Dubai.
Sabe-se contudo que Mohammed manteve duas filhas em cativeiro, Shamsa e Latifa, que tentaram escapar mas acabaram por ser apanhadas pelas autoridades do Dubai.
Randa revelou ainda que passou os últimos 10 anos a escrever as suas memórias e pretende publicar.
Conheça também a história da princesa Haya, da Jordânia, que fugiu do emir do Dubai.