A história de Noori marcou o País. O desaparecimento da jovem de apenas 18 anos comoveu os portugueses. Os quase dois meses em que Carolina Torres – assim se chamava Noori – esteve desaparecida trouxe muita angústia e desespero para os pais, Cristiana Gaspar e Sérgio Torres, que, apesar de viverem separados, uniram esforços e acalentaram esperança em encontrar a filha, a sua "menina".
A esperança acabaria por morrer quando o corpo de Noori foi encontrado sem vida, quando deu à costa na Praia da Leirosa, Figueira da Foz, a 16 de novembro. Só a 28 Cristiana Gaspar teve a terrível certeza que nunca quis ter, depois de "exames laboratoriais complexos" confirmarem que aquela era mesmo a sua "menina".
Durante este período, o País ficou a conhecer um pouco de Noori, da sua terrível luta interior, silenciosa, causadora de angústia e incerteza com a qual era obrigada a viver, diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline. De acordo com o relato da mãe no programa de Júlia Pinheiro, na SIC, o consumo de álcool e drogas agravavam ainda mais os sintomas desta terrível doença. Noori decidiu trocar a casa pela rua, em divergência com os progenitores.
“Falhei. Falhei com a minha filha, não vi o que devia ter visto, não fiz o que devia ter feito. Acreditei em quem tinha obrigação de a proteger — e perdi-a. Ela estava a sofrer e eu não percebi. Estava a desmoronar e eu não a segurei. Desapareceu… e eu fiquei com a culpa de não a ter salvo. Não procuro desculpas, não procuro consolo, esta é a verdade nua: a minha filha precisou de mim, e eu falhei. Só isso. E é isso que me destrói”, partilhou Cristiana Gaspar após a morte da filha. Ficou o vazio e a dor.
Cristiana voltou às redes sociais esta segunda-feira, 1 de dezembro. Traz tristeza nas palavras, mas também mágoa por perceber que não há quem consiga perceber a dor que está a viver com a partida da sua Carolina: "A empatia ganhou outro peso na minha vida desde que o mundo me arrancou aquilo que eu mais amava. Antes achava que empatia era “tentar entender”. Hoje sei que ninguém consegue entender verdadeiramente o que se vive quando se perde uma filha – quando se perde a Carolina – mesmo que o nome não seja dito em voz alta todos os dias", começa por desabafar.
"O que dói não é só a ausência. É ver como a falta de empatia transforma essa ausência numa ferida ainda mais funda. É ouvir opiniões soltas, certezas inventadas, julgamentos feitos por quem nunca sentiu o chão desaparecer debaixo dos pés. A empatia, para mim, seria alguém perceber que o meu silêncio tem peso. Que o meu olhar carrega histórias que não conto. Que cada movimento meu ainda procura a minha filha, mesmo quando o corpo tenta seguir em frente", descreve Cristiana.
"Ser empático comigo é simples: é não acrescentar mais dor ao que já está quebrado, é não reescrever a minha história como se eu não tivesse amado o suficiente, é perceber que uma mãe nunca desiste – nem quando o mundo acha que já devia ter desistido. Se soubessem o que é viver com a Carolina no peito, todos os dias, mesmo sem poder tê-la nos braços… falariam menos. Julgariam menos. E talvez entendessem que empatia, para mim, é isto: não me empurrarem ainda mais para o abismo onde já aprendi a sobreviver", pede ainda a mãe da menina, cuja história emocionou tanta gente.