
A relação entre o atual Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e Francisco Pinto Balsemão remonta a várias décadas, há mais de 50 anos. Uma relação que foi sempre complexa. Ambos vêm da mesma família política – o chairman do Grupo Impresa foi igualmente fundador e militante número um do PSD – e os dois partilharam o nascimento do 'Expresso', mas Marcelo acabou acusado de falta de lealdade por Balsemão.
A relação, outrora próxima, degradou-se significativamente ao longo dos anos, com Balsemão a considerar que a sua confiança foi traída em vários momentos. Ainda assim, o atual chefe de Estado continuou a ser convidado para os Encontros de Cascais, promovidos pelo empresário falecido esta terça-feira, 21 de outubro, aos 88 anos de idade. Marcelo reconheceu as "flutuações de conjuntura" na sua relação com Balsemão, mas destacou que o convite para estes encontros nunca foi retirado.
Francisco Pinto Balsemão lançou o 'Expresso' em janeiro de 1973, com o objetivo de criar um jornal que questionasse o regime do Estado Novo. Juntamente com Balsemão e o jornalista Augusto Carvalho, Marcelo Rebelo de Sousa integrou a equipa fundadora do jornal. O atual Presidente teve um papel importante no estilo de jornalismo político do jornal, que viria a ter uma grande influência na sociedade portuguesa. No entanto, esta colaboração no lançamento do semanário tornou a relação entre Balsemão e Marcelo ainda mais complexa.
Nas suas memórias, publicadas em 2021, Francisco Pinto Balsemão revelou uma relação de amizade e inimizade com Marcelo Rebelo de Sousa, acusando-o de "facadas imperdoáveis" e traição. Descreveu a sua relação com o atual Presidente da República como a maior "balde de água fria" que teve na vida. A revista 'Visão' noticiou, com base na autobiografia 'Memórias' de Balsemão, que este o apelidava de "escorpião" traidor, referindo-se a várias "facadas imperdoáveis, traições, imbecilidades e exibições".
Balsemão relembrou uma ocasião, em 1978, em que Marcelo Rebelo de Sousa escreveu "O Balsemão é lelé da cuca" na secção 'Gente' do jornal 'Expresso', de que ambos foram fundadores. Em homenagem, o atual Presidente da República referiu-se ao igualmente fundador da SIC como "visionário, pioneiro e criativo", num tributo público após a sua morte.
"Visionário, pioneiro, criativo, determinado, batalhador, democrata, social-democrata, europeísta e atlantista, esteve em quase todos os combates de meados dos anos sessenta até hoje. Portugal não o esquece. Portugal nunca o esquecerá", lê-se numa nota de Marcelo Rebelo de Sousa publicada no sítio oficial da Presidência da República na Internet.