
Cresço no peso do teu colo
como Novembro faz crescer as folhas
que se acabam no chão como coluna
Acordo sufocado debaixo de um sonho
contra a noite negra, contra o suor grandioso.
Nunca te lembras das lágrimas, que parecem chuva
que parece morte.
De todos os males prefiro o teu corpo
que me lembra do abismo que é ter o meu
ou do frio que é medo, ou do medo que é espanto
de um prego que espeta, e ainda assim liberta.
Vou para perto de ti, para dentro do espanto,
desentranhar o momento, procurar a primavera:
há um inferno lento, um sorriso envelhecido
porque até o pavor tem um lado belo.
Era inteiramente poesia o crime obscuro que não admite pergunta:
nunca te lembres das lágrimas, do caos maternal.
Sê o adolescente sem nome, o momento convulso,
o soneto indecifrável de uma serpente pecadora.
Esqueça-se a ortografia, até a sintaxe,
exalte-se a catástrofe da geografia, o mapa perdido:
a morte não faz cerimónia, porque fazes tu?
Que se ame a vida irregular, os pulmões inocentes: a culpa só morre solteira.
Pantanal: s.m. Espaço perigoso, apenas acessível aos que estão sozinhos; quando se ama até um pantanal é um bom local para viver — e para amar.