
Podias ter feito tudo menos mentir.
A mentira não existe: quando se mente não se está a mentir; está-se a trair.
Quando se ama não se mente.
Quando se ama cada verdade é uma necessidade: uma prova de amor.
Nada certifica mais o amor do que a verdade: a verdade absoluta, a verdade em absoluto.
Quando se ama não se mente.
Não faço ideia do que fizeste, não quero sequer fazer ideia de porque o fizeste. Fizeste o que bem entendeste, és livre para o fazer. Só te pedi, desde sempre, para mo dizeres. Seja o que for, seja com quem for, seja por que razão for. Diz-me. Diz-me sempre. Diz-me tudo.
Dizer tudo é a única maneira de estarmos sempre prontos a ultrapassar tudo.
Amar é cavar. Amar é ir até ao final do que somos, ao começo do que vamos ser.
Amar tanto pode ser o final do que somos como o começo do que vamos ser.
Porque quando amamos somos sempre, e seremos sempre, aquilo que vamos ser: amor.
Quando se ama é-se amor.
Quando se ama não se mente.
Podias ter dado cabo de tudo menos da confiança.
Mentir é faltar ao respeito.
Nada é mais desrespeitoso do que a mentira.
Quem mente ofende aquele a quem mente. Quem mente fere sem misericórdia aquele a quem mente, e quando se mente a quem se ama está-se a ofender tudo o que foi construído sobre aquela relação: todas as fundações de uma relação se sustentam na verdade.
Pode bastar uma mentira para que todas as verdades deixem de fazer sentido.
Agora pedes perdão. Humilhas-te. Dizes que foi um erro. Dizes ainda que me queres proteger.
Que parvoíce.
Nada é mais idiota do que querer mentir para proteger aquele a quem mentes. Que sentido faz querer cobrir um erro com outro erro ainda maior?
Quando se ama não se mente.
Proteger quem amas é entregares-te todo a quem amas. Todo. Ires inteiro, ires sem que nada fique por dizer, sem que nada fique por dar.
Amar é dar. E quando se ama tudo o que se dá é também tudo o que se está a receber.
Dei-me toda a ti. Não ficou nada para trás. Levei a minha bagagem completa e fui. E fomos.
E tu.
Tu vieste mas deixaste um "mas".
Nenhuma relação resiste a um "mas" perdido. Nenhuma relação resiste a um "mas" parado no passado, escondido, sempre à espera de vir para magoar.
A mentira vem sempre para magoar, nunca para salvar.
Quando se ama não se mente.
*
Menti-te porque te amo.
Perdoas-me amar-te?
Sei que não vais acreditar, sei que nunca vais entender. Mas menti-te porque te amo.
Mentir também pode ser amar.
Menti para que não te doa.
Sabes que nada me dói mais do que a tua dor, sabes?
Só quis deixar-te em paz, deixar-te descansada. Só quis que vivesses em nós sem pensares no que não foi mais do que uma preparação até ti.
Tudo o que vivi até ti foi uma preparação para ti, nada mais.
Perdoas-me amar-te?
Peço-te que me deixes explicar-te que sim: que me arrependo. Arrependo-me de não ter chegado e contado. Logo. Tudo. De uma vez. Ia ser difícil. Ia custar. Íamos chorar. Mas íamos acabar mais juntos do que nunca, mais fortes do que nunca.
Amar é superar: a dificuldade surge para separar o amor do resto. Quando se ama a dificuldade martiriza mas não desvincula; só une.
Amar é superar.
Perdoas-me amar-te?