
Na passada segunda-feira, a RTP1 transmitiu mais um episódio de 'Primeira Pessoa', o programa de conversas conduzido por Fátima Campos Ferreira. Desta vez, foi especial. Para comemorar o segundo aniversário, a jornalista decidiu marcar encontro em Estremoz com cinco individualidades distintas, porém complementares: José Roquette, Herman José, Maria Emília Berderode, Joana Carneiro e Luís Portela. Vindos de áreas tão distintas como o mundo empresarial, a educação, a cultura e, se quisermos, até o humor, a conversa fluiu clara, inteligente e interessante, abordando temas de atualidade e (podemos dizer) metafísicos, brincando de quando em vez, mostrando a riqueza antropológica de um Portugal que tantas vezes é esquecido ou simplesmente engolido na espuma dos dias e das banalidades de urgência maior.
É aqui que Fátima Campos Ferreira ganha: na constância e na resiliência. Este episódio especial comemorativo de segundo aniversário de um programa que só é possível ser feito no serviço público de televisão – que sirva para estes projetos, pois é essa a sua essência – é muito mais do que "um dia de festa" bem pensado e bem editado para ir para o ar sem aborrecer ninguém, sem se tornar enfadonho ou desinteressante. É um exemplo do que tem sido esta série. Com o fim das discussões em auditório de 'Prós e Contras', a conversadora nata propôs-se dar continuidade a este gosto, com personagens escolhidas com cuidado, protagonistas tantas vezes de bastidores, gente que faz acontecer e tem uma história para contar que pode mudar (ou se preferirmos melhorar) algo na nossa forma de olhar o mundo. 'Primeira Pessoa' dá ainda seguimento a esta necessidade de descentralizar, de mostrar Portugal como um todo nas suas partes distintas, de dar voz a quem normalmente não tem. E isso é digno de aplauso. Porque isso é democracia.
A Fátima um obrigada, como espectadora, por fazer a diferença, não desistir, não facilitar, não encolher os ombros e continuar na luta por um País e um jornalismo melhores. É mais fácil ser "estrela". Fátima preferiu ser ativista. E é isso que faz dela uma figura maior na sua atividade. Que possamos continuar a tê-la como "parceira" por muitos anos.