
Uma crise política tem vantagens. A mais evidente chama-se Ricardo Araújo Pereira no seu ‘Isto É Gozar com Quem Trabalha’ que, nos momentos mais azedos, apura o humor mordaz, cáustico, seco, para falar sobre os contrassensos e demais disparates que só um brilhante humorista é capaz de captar no turbilhão de informação, desinformação e faits-divers sem qualquer relevância que nos inundam nestas ocasiões.
Quem tiver dúvidas basta rever os dois últimos programas para perceber que a queda de um governo – seja ele de esquerda ou de direita – não é “só mais uma terça-feira”, como lhe chama RAP, mas um momento que proporciona alto humor em televisão.
Por que é que Ricardo Araújo Pereira é francamente bom – e, felizmente, as audiências fazem-lhe jus, com duas vitórias consecutivas – no tipo de humor que faz? Porque não é óbvio, não força, não procura a gargalhadazinha com uma parvoíce qualquer. O humor que faz é sério, é de cara ‘fechada’, é até de silêncios e é, sobretudo e antes de qualquer outra coisa, inteligente. No passado domingo, a primeira parte do programa – a começar em simultâneo com a final de ‘Desafio Final’ – correu francamente melhor do que a segunda, a entrevista. Não chegou para fazer a SIC ganhar o dia, dirá a estação, mas deu para provocar muitas comichões.