
Passo muito tempo a passear sozinha na minha segunda cidade. Preciso de conhecer as praças e as ruas como a palma da minha mão, na qual vejo as linhas desenhadas coda vez com mais nitidez. Preciso de saber onde piso e para onde vou, em que lanchonete bebo o melhor sumo de abacaxi ou como o melhor pão de queijo. Gosto de andar no metro que aqui no Rio se pronuncia metrô, como nômade e boulevard.
Só se agarra uma cidade na mão depois de a percorrer a pé. E é com os meus passos que todos os dias agarro um bocadinho mais o Rio de Janeiro e me sinto mais carioca.
Nas noites em que a lua ilumina a praia, gosto de me sentar no calçadão a beber uma água de côco com uma companhia conversadora. Se houver um piquete se polícia por perto, não é perigoso, é só uma paz estar ali a ouvir o mar a conversar com o céu, como dois namorados improváveis, porém inseparáveis, enquanto o meu coração se deixa embalar em novas ideias. Esta semana, o meu coração deu-lhe para pensar o que se perdoa e o que não se perdoa a um homem.
Uma mulher pode perdoar tudo a um homem menos que ele seja medroso no amor.
Perdoa que seja desorganizado, desarrumado, que se esqueça de uma data, que falhe um almoço de família ou o aniversário de um sobrinho. Que beba uma grade de cervejas enquanto o Benfica joga. Que saia cedo ao fim-de-semana para pedalar pela cidade e se esqueça de avisar que afinal não chega a horas do almoço. Uma mulher perdoa meses de dúvidas e de hesitações, pode até mesmo perdoar uma traição. A única coisa que uma mulher não perdoa a um homem é que ele não ame com coragem. Pode ter os maiores defeitos, pentear-se com franjinha, ter pêlos nas costas e no pescoço, trocar os talheres de um momento para outro. Qualquer coisa é admitida, menos a falta de coragem.
Amar com coragem não é viver com coragem. Não é uma questão de estilo, é uma questão de caráter, porque amar com coragem É caráter. É uma espécie de obstinação que supera a lealdade e que é tão forte que se torna involuntária.
Amar é dar o peito às balas, doa o que doer, sem fugir com desculpas. Não usar atenuantes como "estou confuso" e se escudar nos reinos do Ainda Não e do Talvez.
Para se ser bravo no amor, é preciso amar como se não houvesse tempo de amar. Amar de forma decidida, sem medo de falhar. Amar sem limites nem fronteiras, como quem volta de um longo exílio.
Amar com coragem, só isso.
Não é para todos, é só para os bravos, os sérios, aqueles que já foram soldados e conhecem o sabor da guerra para fazer a paz. Aqueles que mesmo cansados, nunca quebraram. Aqueles que nunca desistiram. Aqueles. Não os outros.