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Margarida Rebelo Pinto
Margarida Rebelo Pinto Pessoas Como Nós

Notícia

Pessoal e intransmissível

A vertigem do amor proibido é parte integrante da condição humana, assim como o desejo, a vontade, o erotismo que envolve uma grande paixão. A grande questão é conseguir que a loucura de um amor impossível não domine a nossa vida e que a fantasia não destrua a realidade.
24 de novembro de 2017 às 07:00
margarida rebelo pinto, livro, antes que seja tarde, romance
margarida rebelo pinto, livro, antes que seja tarde, romance

Vocês sabem lá o que é ser escritor! Quando entrei na adolescência já era louca por livros, mergulhar nas aventuras de 'Os Cinco' ou dos heróis de Jack London era como viajar para outra galáxia da qual nunca queria voltar. Na minha cabeça sonhadora, já tinha interiorizado a coragem da 'Menina do Mar' e o coração distraído da 'Fada Oriana'. Somos muito daquilo que lemos, acreditem, se não fossem estas duas heroínas da literatura infantil portuguesa, não seria a mulher que sou hoje.

Eu lia e imaginava tudo o que as palavras me mostrava, e depois sentia o medo, a alegria, os ciúmes, as paixões e os desgostos das personagens. E queria fazer daquilo a minha vida. Sempre quis ser escritora. Não imaginava que isso me obrigaria a passar tantos anos fechada, isolada, umas vezes em silêncio e outras a ouvir música para me sentir menos só. Todas as profissões têm uma fatura a pagar, ser escritor é aguentar a solidão diária no trabalho.

Mas no fundo não estamos sós, estamos com a nossa história, com as nossas personagens, perdidos e encontrados no nosso mundo que existe apenas e ainda na nossa imaginação, até chegar ao papel e depois à rotativa e depois às mesas das livrarias, para ser apanhado como uma flor e agarrado como um abraço.

O tempo entre o início de um sonho e a concretização desse mesmo sonho é longo e representa uma luta contra o tempo e contra tudo. É o lugar mágico onde dizemos tudo o que sentimos a quem nem sempre nos ouve, onde despimos a alma na esperança de que os leitores guardem com pudor os nossos segredos. É um jogo de verdade e de consequência no qual misturamos a vida com a fantasia, o passado com o presente, a realidade com a ficção, o medo com a paixão, o desejo com o juízo, num tempo e num modo inventado por nós.

'Antes que Seja Tarde' conta a história de três mulheres que desafiaram o seu próprio destino, apanhadas na ratoeira de um amor proibido, mas que não impossível. O que fazer quando nos apaixonamos pela pessoa errada, quando a paixão manda mais do que a razão, quando o tempo não vale nada porque sempre que a campainha toca, param todos os ponteiros de todos os relógios do mundo por aquela pessoa que ninguém consegue substituir?

A vertigem do amor proibido é parte integrante da condição humana, assim como o desejo, a vontade, o erotismo que envolve uma grande paixão. A grande questão é conseguir que a loucura de um amor impossível não domine a nossa vida e que a fantasia não destrua a realidade. Neste romance os homens também falam. E falam com o coração, sem pudor e sem medo, porque os homens também se apaixonam, também sofrem, também se sentem vulneráveis perante um grande amor.

Maria do Amparo e Gonçalo, Luís e Lurdinhas, Luisinha e Jorge vivem em segredo, até ao dia. O dia em que desistem, ou são apanhados pela verdade ou pelas circunstâncias. Nada é linear, nada é fácil, e nem sempre as personagens agem da melhor maneira. Tal como na vida, sabemos quase sempre o que é melhor para nós e para os outros, mas nem sempre conseguimos agir da melhor forma. E não é isso que faz das pessoas seres humanos melhores ou piores. É a vida como ela é, como sempre foi e será nos meus romances.

Se os meus leitores sonharem com estas mulheres e homens, se sentirem que as historias que conto podiam ser as histórias que já viveram, se sentirem paixão e emoção ao ler as paginas, então ganhei outra vez. Ganhei o desafio de escrever um livro sobre um tempo difícil, ganhei ao medo, ganhei à própria vida, porque escrever é isto, é conseguir inventar uma realidade verosímil, um universo que afinal não é assim tão paralelo, que se cruza com o quotidiano dos dias, que tanto queremos enfeitar com pinceladas de momentos únicos e extraordinários.

Quando o sonho se cumpre e o livro é abraçado por quem o escolhe, já não é meu, é de que o apanhar. É essa a grande magia da literatura, cada livro é de quem o lê e por isso será sempre íntimo, pessoal e intransmissível, tendo no coração de cada um o papel e o lugar que cada um quiser.

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