- Lei Transparencia - Ficha técnica - Estatuto editorial - Código de Conduta - Contactos - Publicidade
Notícia
THE MAG - THE WEEKLY MAGAZINE BY FLASH!

Acabou a festa para Paddy Cosgrave. Como foi a última jogada do senhor Web Summit e o que sabemos dos milhões em jogo

Num tweet tudo muda. O rosto da Web Summit deixa a conferência em Lisboa no momento de maior sucesso, e maior lucro, com a pressão das gigantes da tecnologia. Na política, a ordem é para manter tudo a andar. Mas será que isso ainda é possível? Fomos aos bastidores perceber o que se está a passar...
Por Amarílis Borges | 26 de outubro de 2023 às 22:39
Patrick Cosgrave, Fernando Medina, António Costa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e António Costa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e Marcelo Rebelo de Sousa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e Marcelo Rebelo de Sousa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e António Costa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e Fernando Medina Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave e Marcelo Rebelo de Sousa Foto: Cofina Media
Patrick Cosgrave Foto: Cofina Media

"Adeus por agora. Preciso de algum tempo fora desta plataforma". Foi assim que o fundador e principal acionista da Web Summit, Patrick (Paddy) Cosgrave, remeteu-se ao silêncio no X, ex-Twitter, três dias antes de anunciar que estava de saída da liderança da maior conferência de tecnologia e no meio de uma onda de críticas após as declarações sobre o conflito Israel-Hamas.

"Crimes de guerra são crimes de guerra, mesmo quando cometidos por aliados, e devem ser denunciados pelo que são", escreveu o empresário no X, comparando também o número de mortes israelitas com as mortes palestinianas. Não demorou para Israel anunciar o boicote à Web Summit, o que se seguiu ao anúncio das gigantes da tecnologia, que também abandonavam a conferência, como a Alphabet, dona da Google, a Meta, dona de Facebook, Instagram e WhatsApp, e a Amazon. Paddy Cosgrave não teve alternativa a não ser pedir desculpas e sair da Web Summit para garantir a saúde do evento.

pub

Depois disso, nada se sabe sobre o organizador do evento mas não é difícil imaginar que estará isolado de toda a polémica na mansão que comprou em dezembro com a mulher, a ex-modelo Faye Dinsmore, por 1,8 milhões de euros, em Donegal, a cerca de 220 quilómetros de Dublin, na Irlanda, e a menos de 30 quilómetros da fronteira com a Irlanda do Norte.

A casa com vista para a praia de Rossnowlagh tem 330 metros quadrados, três quartos com casa de banho, um escritório, e um jardim de inverno. O terreno de 110 mil metros quadrados abriga ainda um estábulo, um jardim e uma sauna com capacidade para oito pessoas, o suficiente para o casal continuar a encher a casa de convidados, num estilo de vida de comunidade que a mulher de Paddy contou em detalhes em 2018 ao 'The Irish Times'. O casal dividia uma casa arrendada em Dublin com outros cinco adultos e o primeiro filho, Cloud Valentine. Este ano, Faye e Paddy voltaram a ser pais, de Pat, e não se sabe se continuam a viver com amigos. 

pub

Com uma nova mansão e um recém-nascido em casa, Paddy tem vários motivos para esperar as críticas passarem, e a Web Summit acontecer em Lisboa, entre 13 e 16 de novembro, até lá também deverá ser anunciado quem será o novo CEO da conferência.

pub

Para trás ficam os anos em que ele foi o principal rosto da Web Summit, tendo-a criado em 2009 em Dublin ao lado de David Kelly e Daire Hickey – os co-fundadores com quem hoje o ex-CEO tem disputas legais com mútuas acusações de alegados benefícios pessoais usando o nome da conferência.

Na primeira Web Summit apenas 150 pessoas inscreveram-se para participar. Este número saltou para 1570, em 2011, 22.123 em 2014, e em 2015 a capital irlandesa recebeu a última Web Summit já sem capacidade para a quantidade de participantes e de público. E no ano passado foram mais de 70 mil participantes na conferência em Lisboa.

pub

Foi também em setembro de 2015 que Paddy apareceu pela primeira vez publicamente em Portugal, ao lado do então vice-primeiro-ministro Paulo Portas, para anunciar que Lisboa seria a nova sede da conferência, depois de seis meses de negociações

Para justificar a decisão, o organizador do evento afirmou à imprensa irlandesa que Lisboa tinha a infraestrutura que a conferência estava a precisar, no que diz respeito à oferta hoteleira, aos espaços para as palestras, vida noturna e rede de transportes, que entrou nas negociações para garantir o lugar a Lisboa.

pub

Dois meses depois, Paddy deixou de aparecer com Paulo Portas para estreitar a relação com António Costa, que deixava de ser presidente da Câmara de Lisboa para se tornar primeiro-ministro. "O secretário de Estado [João Vasconcelos] é maravilhoso. Encontrei-me há 14 dias com o primeiro-ministro. Ele é brilhante. Conheço primeiros-ministros que dizem: as start-ups são boas. Mas ele foi presidente da Câmara de Lisboa e esteve muito envolvido. E isso é pouco habitual", elogiou Paddy em entrevista ao 'Negócios'.

A ideia inicial era fazer três edições em Lisboa, o que em 2018 saltou para um contrato de dez anos assinado por três partes, a Web Summit, a Câmara de Lisboa e Governo português, envolvendo 11 milhões de euros anuais pagos à empresa que organiza o evento. Razão pela qual o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, e Carlos Moedas vieram a público esta semana garantir que estão todos empenhados na realização da Web Summit, apesar do boicote de gigantes da tecnologia.

pub

O executivo "tudo fará para que a iniciativa decorra como o previsto, em particular na mobilização das startups", disse António Costa Silva num comunicado. Do lado da câmara municipal, Carlos Moedas anunciou a atribuição de sete milhões de euros para a realização da Web Summit, sublinhando: "Há um contrato que é assinado antes de eu ser presidente da câmara, um contrato de 10 anos com a Web Summit, e, portanto, o presidente da câmara atual, fosse eu ou outro, teria essa obrigação de cumprir esse contrato. Mas há uma novidade neste contrato e nesta assinatura: é que o dinheiro que não for gasto, se houver menos gente, ele será devolvido ou não será pago", afirmou, citado pela ‘Lusa’.

Há muitos mais milhões em jogo para a Web Summit desde que a residência passou a ser em Lisboa há seis anos. A conferência ganhou edições no Rio de Janeiro e Doha. As irmãs do evento, a Colision e a Rise, são realizadas em Toronto e Hong Kong, e mesmo sem o principal rosto na organização do evento não há razões, para já, para acreditar que Paddy vai afastar-se da direção da empresa dona da Web Summit, a Manders Terrace Ltd.

pub

Em 2015, quando a Web Summit fez a última edição na Irlanda, os lucros líquidos da Manders Terrace foram 128 mil de euros, segundo as contas divulgadas pela empresa, que não revelou quais foram as receitas.

QUANTO GANHA PADDY COSGRAVE

Os valores mais atuais da empresa, de acordo com o 'Irish Independent' e ainda com o 'Business Plus', mostram que o volume de negócios aumentou 83% de 2020 para 2021, de 17,4 milhões de euros para 31,8 milhões de euros, depois de fortes prejuízos por causa da pandemia.

pub

Este aumento das receitas mais recente também se vê nos rendimentos dos cinco diretores da empresa, incluindo Paddy, que subiram quase quatro vezes, de 551.212 euros para 2,15 milhões de euros em 2021.

A DISPUTA COM OS ANTIGOS SÓCIOS

Paddy Cosgrave está desde 2021 envolvido numa série de processos judiciais contra os co-fundadores da Web Summit, que deixaram os cargos de direção entre 2019 e 2021. O principal acionista da conferência, que através da empresa Proto Roto Limited detém 80% da Manders Terrace Ltd, empresa por trás do evento, acusa David Kelly (dono de 12% da Web Summit) de ter desviado o equivalente a 8,6 milhões de euros da conferência para um fundo de investimento.

pub

Na batalha com Daire Hickey (dono de 7% da Web Summit), Paddy acusa o antigo parceiro de negócio de receber 328 mil euros por trabalho de consultoria "secreto", que teve "custos diretos" na Web Summit, uma vez que supostamente envolveu a divulgação de informações confidenciais, tais como listas de oradores e dados confidenciais de clientes, noticiou este mês o site irlandês 'BreakingNews.ie'. 

O ex-CEO também não sai ileso da troca de acusações. David acusa Paddy de utilizar os recursos da Web Summit "para o benefício do seu agregado familiar", nomeadamente a utilização do site do evento para vender em 2019 camisolas de lã da marca da mulher, Faye Dinsmore. Uma das peças feita à mão custava 850 euros. Mas não fica por aí. O segundo acionista da Web Summit diz que Paddy usou dinheiro da conferência para fazer alterações na sua casa e acusa ainda o antigo parceiro de ser "tóxico", "manipulador" e "ameaçador".

pub

DE MENINO ESTRELA AO CANCELAMENTO

Quando chegou em Lisboa há oito anos, aos 33 anos, Paddy Cosgrave, formado em Negócios, Economia e Estudos Sociais, era um dos nomes de maior destaque no mundo das startups. Recebeu prémios de empreendedorismo e era frequentemente chamado pela imprensa internacional de uma das pessoas mais influentes dos últimos anos. Das mãos de Fernando Medina recebeu a chave da cidade.

pub

Oito anos depois, Paddy está isolado como nunca esteve por causa da declaração sobre o conflito Israel-Hamas. Dos famosos que o rodeavam não chega um comentário de apoio, os políticos que ele abraçou e chamou ao palco da Web Summit tentam separar as declarações pessoais do responsável pelo evento da própria conferência. Só internautas palestinianos enchem o Instagram de Paddy de agradecimentos.

pub
pub
pub
pub

C-Studio

pub