As trapalhadas de Fábio Coentrão, o puto rebelde das Caxinas, que volta a estar a braços com a justiça. Da carta de condução comprada aos puxões de orelhas de Mourinho
Enquanto jogador, foi tão acarinhado quanto polémico, protagonizando várias vezes momentos insólitos, aos quais respondia sempre com humildade. Um dos mais hilariantes aconteceu quando o craque estava no Real Madrid e acabou por assumir ter pago quatro mil euros para conseguir passar no código, enquanto o examinador lhe dava as respostas com sinais.
Enquanto futebolista, Fábio Coentrão sempre suscitou uma onda de simpatia que lhe garantia perdão para quase tudo. Ele, um humilde craque oriundo das Caxinas, sempre se mostrou tão próximo dos adeptos com o seu discurso sincero, que quando chegava a altura das polémicas, o sentimento era o de uma amnistia generalizada. E houve de tudo um pouco, para desespero de José Mourinho que o treinou no auge da sua carreira, quando estava no Real Madrid.
De facto, a polémica que o leva agora a ter de se justificar sobre a tonelada de marisco vivo que tinha num viveiro ilegal no porto da Póvoa do Varzim está longe de ser caso único, porque enquanto era futebolista, Coentrão fazia tantas manchetes pelo seu talento como por questões extra futebol. Em todas elas havia uma coisa em comum: o inusitado e uma sinceridade na forma como Coentrão se vinha justificar que desarmavam toda a gente.
Uma das mais marcantes aconteceu quando estava no Real Madrid e hoje quase que dá vontade de rir. Apanhado a conduzir sem carta na cidade espanhola, veio a perceber-se que o buraco era mais fundo do que isso, tendo vindo a público que o jogador tinha pagado quatro mil euros para obter facilidades no exame de código.
Chamado a juíz para explicar o que tinha acontecido, Coentrão pôs as cartas na mesa: se não tivesse pagado dificilmente conseguiria responder a quatro perguntas certas, admitiu, justificando que a profissão não lhe deixava muito tempo livre para estudar o código. Revelou também que, na altura, e como estava num grande clube como o Real Madrid, estava a ser pressionado para ter carta de condução, o que acabou por culminar com o exame comprado.
Explicaria também que, enquanto estava na sala de testes, o examinador lhe ia dando as respostas com sinaléticas de dedos, tendo passado com distinção. Acabou com uma pena suspensa tendo sido condenado a pagar três mil euros ao banco alimentar.
Na altura, era considerada uma promessa do futebol português, com as portas do Real Madrid a abrirem-lhe todo um mundo de possibilidades, mas há quem diga que Fábio Coentrão nunca saiu verdadeiramente das Caxinas: não cultivou hábitos de vedeta, não passou a ostentar um estilo de vida milionário, mas, por outro lado, por vezes preservava um lado quase infantil que tirava José Mourinho do sério. E quando, no dia do seu 24º aniversário, foi fotografado a fumar na festa, em Madrid, o treinador português castigou-o a valer, deixando-o no banco.
Um delito menor quando comparado com o ano em que Coentrão teve de justificar a fuga ao fisco espanhol no valor de 1,29 milhões de euros, sendo acusado de utilizar sociedades no Panamá e na Irlanda para omitir os proventos.
O MOMENTO EM QUE FÁBIO COENTRÃO CHORA NOS APANHADOS
Querido por adeptos e colegas, talvez um dos episódios que mostre melhor este lado humilde e genuíno de Fábio Coentrão foi o momento em que se desfez em lágrimas nos apanhados da SIC. Estávamos em 2010 e, depois de uma época de ouro ao serviço do Benfica, o esquerdino acabaria por ir parar, sem que soubesse, ao programa 'Tás aqui, tás apanhado'.
Com a conivência da mulher, Andreia, e de um primo de Coentrão, dois agentes simularam a detenção do atleta, que foi algemado e forçar a entrar no suposto carro da polícia. Pelo meio, Coentrão já chorava.
"Você é um malandro das Caxinas, quanto mais tem, mais quer…", dizia um dos falsos polícias, ao que Fábio Coentrão rogava a Deus. "Não sei do que é que está a falar, senhor guarda, por amor de Deus. Eu não faço mal a ninguém".
Depois do susto, o jogador admitiu que nunca sequer desconfiou do que lhe pudesse estar a acontecer. "Nunca tinha sentido isto, estava maluco, mesmo… Estava de consciência tranquila mas estava assustado, porque não desconfiei de nada".
A NOVA VIDA FORA DO FUTEBOL
Foi em janeiro de 2020 que Fábio Coentrão anunciou a retirada da sua carreira, aso 31 anos. Na altura, começou a preparar a sua vida fora do futebol e nos últimos meses mostrou com orgulho o negócio de pesca que tinha construído, honrando as raízes da família, uma vez que o pai também tinha trilhado o mesmo caminho.
"A vida no mar não é vergonha nenhuma. Quando falamos no mar, há muita gente que pensa que o mar é um bicho de sete cabeças, mas não. É uma vida muito gira para se seguir", disse, recentemente, mostrando orgulho naquilo que tinha construído, num percurso preparado com tempo, uma vez que o primeiro barco de pesca foi comprado que ainda estava no Real Madrid.
"A minha felicidade passa por esta terra (Caxinas), por este mar", disse em entrevista a Fátima Lopes.
Agora, o ex-jogador volta a estar no centro da polémica, tendo de justificar a ASAE a tonelada de marisco vivo que tinha num armazém ilegal, entre lavagante, camarão e santola. 760 quilos do pescado não tinham documentação legal para captura e o estabelecimento não tinha licenças de funcionamento, comercialização e venda ao público.