De Marcelo a Durão Barroso, onde estão os influentes que privavam com Ricardo Salgado: "A maior dor é ter sido abandonado pelos amigos"
Em entrevista à FLASH!, o padre Avelino Alves admite que uma das grandes mágoas de Ricardo Salgado é o facto de os amigos lhe terem virado costas. De entre aqueles que conhece, aponta uma única exceção.
Enquanto presidente do BES, Ricardo Salgado era um homem sem tempo na agenda, mas quando finalmente conseguia uma brecha nos afazeres do banco, escolhia os mesmos amigos, todos-poderosos, para os seus convívios, num triângulo essencialmente feito entre Cascais, a famosa casa na Comporta, construída em cima da linha do mar, e o condomínio de luxo que tinha em Salvador da Baía.
A passagem de ano, era quase sempre lá. Numa espécie de tradição repetida ano após ano, Ricardo Salgado e a mulher faziam as malas para no aeroporto se encontrarem com Marcelo Rabelo de Sousa, então professor universitário e comentador na TVI, e a namorada de então, Rita Amaral Cabral.
"Eu tenho recebido tantas pedradas por dizer que sou amigo dele. Sou, admiro o homem, admiro, porque realmente o conheço. Se ele cometeu um erro? Acho que sim, não tenho dúvida nenhuma. Agora por errar o homem eu não posso abandoná-lo."
Eram os melhores amigos, assim como Durão Barroso, com quem a sua agenda pessoal - entretanto tornada pública - denuncia vários jantares de cariz pessoal, entre casais. E como estes havia muito mais. Mas, segundo o padre Avelino Alves, aos primeiros problemas, desapareceram todos. "Eu aí é que acho um bocadinho doloroso para ele sentir-se abandonado, pela família e pelos amigos, mas mais esses amigos. Eu acho que é das coisas mais dolorosas que ele sente é esses amigos na hora da verdade não darem a cara. Eu houve uma vez que eu o vi assim mesmo não digo com as lágrimas, mas triste porque aqueles que estiveram ao lado dele sempre, fugiram. Por medo, preconceito, não sei", diz, acrescentando que ele próprio já sentiu na pele o preconceito e os olhares de lado por afirmar, sem receios, que continua a ser amigo e a privar com Ricardo Salgado.
"Eu tenho recebido tantas pedradas por dizer que sou amigo dele. Sou, admiro o homem, admiro, porque realmente o conheço. Se ele cometeu um erro? Acho que sim, não tenho dúvida nenhuma. Agora por errar o homem eu não posso abandoná-lo. Eu acho que a família e os amigos nunca se abandonam e eu acho que ele foi um amigo verdadeiro. A mim o que me revolta é que muitos políticos e gente importante continuavam a ligar-me a dizer: como é que ele está? Está bom? Ou então encontram-me e dizem: leve um abraço ao dr. Ricardo, então porque é que o senhor não vai lá, se é amigo, porque é que o senhor não telefona? É o politicamente correto. Têm medo de dar a cara. Mas neste país há muita gente que lhe deve obrigações..."
As exceções, garante, são tão poucas que provavelmente uma mão bastaria para as enumerar. Entre os que não viraram a cara ao banqueiro, Avelino Alves destaca apenas um, que já faleceu: Mário Soares.
"Há um exemplo extraordinário que me estou a lembrar que é o dr. Mário Soares. Eu estou lá em casa e telefona o dr. Mário Soares, pouco tempo antes de partir. Diz: 'estou, dr. Ricardo, amanhã vou aí busca-lo e vamos almoçar'. E diz assim o dr. Ricardo: 'oh doutor, não consigo, estou nesta prisão domiciliária', até usou outro nome qualquer. E ele respondeu:'eles não mandam nada, vou aí buscá-lo'. Ele disse que não podia, mas que a Maria João ia fazer o jantar e ele passava lá. Mas é uma exceção. Os outros, é às escondidas, e muito poucos."