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EXCLUSIVO: António Pedro Vasconcelos sobreviveu oito meses à tragédia do filho que morreu atropelado por um trator

A morte trágica do filho mais novo aos 48 anos tirou o ânimo de viver ao conceituado cineasta. Envelheceu precocemente e não quis lutar contra a pneumonia que o afetou na última semana. Parte, quando tinha na calha vários projetos cinematográficos, um dos quais sobre um amigo - o ator Artur Semedo - que negligenciou, facto pelo qual sentia "angústia".
Por João Bénard Garcia | 07 de março de 2024 às 23:13
António Pedro Vasconcelos Foto: Bruno Colaço / Medialivre

O cineasta António Pedro Vasconcelos, de 84 anos, morreu oito meses depois de o filho mais novo, Diogo Schmidt de Barros Vasconcelos, ter falecido, aos 48 anos, atropelado num acidente com um trator. O engenheiro agrónomo, que trabalhava numa quinta herdada pela mãe, a jornalista Teresa Schmidt, perdeu a vida a 7 de julho de 2023 num violento acidente com um trator, deixando os pais de rastos, em especial o pai, que terá perdido toda a alegria e vontade de viver

Segundo um colaborador próximo do cineasta, "o António Pedro morreu agora de pneumonia, mas, desde que o filho morreu, esforçava-se imenso por ter alguma serenidade e envelheceu drasticamente. O António Pedro estava de uma maneira tão sufocante de desgosto que era natural que a pneumonia que ele apanhou não fosse reversível porque o organismo já não reagia. Uma semana antes de morrer estava envelhecidíssimo, um trapo", acrescenta.

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O FILHO PREDILETO

O conceituado realizador tinha-se casado em segundas núpcias com Teresa Schmidt, a mãe de Diogo, após o 25 de Abril de 1974. Foi com quem eles que o filho viveu nos últimos anos, em especial depois de ter voltado para casa dos pais após um relacionamento do qual nasceu uma filha, mas que não resultou.

"O Diogo foi o único filho que viveu quase a vida toda com eles. Era o filho predileto do António pois tanto a Patrícia quanto o Pedro (os filhos mais velhos do primeiro casamento, viveram muitos anos fora de Portugal com o mãe e o padrasto que era diplomata) tinham estado mais afastados do pai.

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Apesar do enterro do filho ter ocorrido em Cascais no verão passado, o cineasta não mudou de ideias quanto a local onde gostaria que fosse a sua morada eterna. "O António Pedro sempre disse que gostava, quando morresse, de ir para o talhão dos realizadores de cinema no Cemitério dos Prazeres", conta-nos a mesma pessoa próxima. Hoje, dia 8 de março, será cumprido o seu último desejo e o corpo será sepultado neste local. Na despedida, além da viúva, estiveram os seus dois filhos e os seus seis netos, além de amigos e admiradores da obra do mestre.

A OBRA QUE FICA INCOMPLETA

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Quem também privou com António Pedro Vasconcelos nos dois últimos anos foi Hélida Carvalho Santos, que relata emocionada à The Mag qual foi um dos últimos projetos para cinema em que o cineasta estava envolvido e que a envolvia diretamente, um filme de homenagem a um dos vultos da cultura e do desporto nacional, falecido há 23 anos - Artur Semedo.

"O António Pedro desabafou comigo que tinha um 'desgosto imenso' de ter deixado partir o amigo sem ter arranjado tempo para estar com ele e que parava muitas vezes a pensar: 'Como é que eu tinha uma amizade tão forte com o Artur Semedo e não consegui tirar o tempo suficiente para termos convivência os dois. Depois ele partiu, e um dia que eu morra, levo comigo este desgosto", relata Hélida Carvalho Santos.

Segundo a mesma, "a ideia mais fundamental que retive das conversas que tive com ele é que era um homem de cinema, de sentimentos, de emoção e de uma cultura brutal. Ele estava a preparar um filme de homenagem ao Artur Semedo", revela.

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E tudo aconteceu porque Artur Semedo, quase às portas da morte, disse a Hélida Carvalho Santos: "Temos uma história tão bonita de amizade pura e inocente que isto dava um filme lindo. Como eu já não tenho capacidade, como já não estou em condições, vai ter com o António Pedro Vasconcelos e pede-lhe que faça um filme sobre a nossa amizade, que é uma coisa tão bonita. Seria um filme sobre uma relação tão rara. E eu estive 20 anos sem dizer nada", conta.

MARAVILHADO COM HISTÓRIA

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Em 2021, a protagonista da história de amizade com Artur Semedo consegue contactar com o realizador, conta-lhe a sua história com todos os pormenores e António Pedro Vasconcelos disponibiliza-se para fazer o filme. "'Vou fazer um filme com essa história, que é maravilhosa', disse-me ele num encontro que tivemos em Lisboa. Ele quis avançar com o filme, tivemos uma nova reunião. Esteve na minha casa o André Guerra, o realizador que era o braço direito dele e que o ia ajudar, só que entretanto ele estava a terminar o KM 224 (com atores como José Fidalgo, Ana Varela, Pedro Hossi ou Lia Gama) e estava à espera de fundos do Estado para fazer este filme sobre o Artur. Só que, enquanto estávamos nisto, morre-lhe o filho e ele fica sem qualquer ânimo para avançar", relata Hélida Carvalho Santos.

O malogrado cineasta terá revelado à sua interlocutora, num dos encontros preparatórios do filme que tiveram em Lisboa, a mágoa por não ter dedicado tempo ao amigo, o ator que era um benfiquista dos quatro costados: "Que pena, que desgosto, que mágoa que eu tenho de ter tido uma amizade tão forte com o Artur e não ter tido a disponibilidade, quando andamos obcecados pela nossa profissão, a gente esquece que temos amigos e que um dia partimos todos. Esquecemo-nos do finito e só vivemos o presente. E vivemos a pensar no futuro esquecendo-nos de que no final está o finito. Quase que me sinto envergonhado de não ter dado ao Artur a disponibilidade que a nossa amizade merecia", recorda, rematando.

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