Filhos, mulheres e uma fortuna verdadeiramente obscena: a tumultuosa vida do emir do Qatar
O Campeonato do Mundo de Futebol arranca já no próximo dia 20 sob uma chuva de críticas sem precedentes. A falta de condições de saúde e segurança dos trabalhadores dos estádios, que já terá provocado mais de 6.500 mortes, e a ausência dos direitos das mulheres, têm merecido uma feroz censura do mundo ocidental. No centro da polémica está o Sheikh Tamim bin Hamad al-Thani, um nome que é sinónimo de poder, dinheiro e ambição.
O mundo ocidental não tem dúvidas: o Qatar é uma autocracia. E sentado na cadeira do poder está o jovem emir, Tamim bin Hamad Al Thani, de 42 anos. Ascendeu ao trono em 2013. Quando o pai, Hamad bin Jalifa Al Thani, tomou a surpreendente decisão de abdicar do trono, o sheik tinha apenas 33 anos tornando-se, assim, no mais jovem líder de todo o Médio Oriente. Hoje, é o homem mais rico [estima-se que a sua fortuna é cinco vezes maior do que a da rainha Isabel II] de um dos países mais ricos do planeta, mas o seu reinado tem sido marcado pela controvérsia, especialmente por não respeitar os Direitos Humanos, sobretudo pela forma como as mulheres e os elementos da comunidade LGBTQ são tratados. Também a situação dos migrantes [as mais de 6500 mortes durante a construção dos estádios são um forte alerta] e a inexistente liberdade de expressão têm merecido uma forte censura ocidental. O emir realizou o sonho de ver o Campeonato do Mundo de Futebol realizar-se no Qatar, um território que é pouco maior do que o distrito de Beja, mas chamou as atenções do mundo para algo que não é nada favorável à imagem de um líder moderno e da modernidade.
A subida de Tamim ao trono do Qatar - país que é descrito como "o filho problemático" dos países do golfo Pérsico - não deixa de estar marcada pela polémica. Sendo o quarto filho de Hamad bin Jalifa, era expectável que o antigo emir escolhesse um dos seus filhos mais velhos para o suceder. Mas não! Isso talvez tivesse acontecido pela primorosa preparação do atual sheik do Qatar. Mas já lá vamos. Nasceu na capital do país, a cidade de Doha, no dia 3 de junho de 1980, filho de Musa bint Nasser al-Missned, a segunda das três mulheres do então emir. Fez quase toda a sua formação académica no Reino Unido. Iniciou os estudos internacionais na Sherborne High School, em Dorset, passou depois para a Harrow School em Londres, tem terminado na academia militar de Sandhurst studiert. Os anos que passou em Inglaterra permite um domínio perfeito do inglês, mas também fala bem o francês, o que lhe permite assumir - sem recorrer a tradutores - as reuniões internacionais.
VIDA FAMILIAR O controverso sheik do Qatar é casado com três mulheres:
FORTUNA COLOSSAL Mas é a fortuna quase imoral que suscita grande curiosidade no mundo inteiro. Se já é o homem mais rico do seu país, o sheik Tamim bin Hamad Al Thani passou a reunir todas as condições para se tornar ainda mais rico. Com a Rússia a "fechar a torneira" do gás à Europa, os líderes europeus nunca mostraram tanta vontade em se reunir com o emir do Qatar, já que o país se pode tornar num fornecedor privilegiado de gás natural. Do presidente francês Emmanuel Macron ao chanceler alemão Olaf Scholz, todos querem cair nas boas graças do sheik que é proprietário do clube de futebol Paris Saint-Germain e da estação de televisão Al Jazeera. A fortuna
QUE PAÍS É O QATAR?
Por trás do dinheiro, gás e uma família real que faz pactos com os islâmicos e o Ocidente, que mais se pode dizer deste estado árabe que agora acolhe o Campeonato do Mundo de Futebol? No passado foi um país pobre, mas graças às grandes reservas de petróleo e gás, o Qatar é hoje uma potência mundial com apenas 2,8 milhões de habitantes a quem o estado providencia assistência médica e escolas gratuitas. Benesses que, no entanto, só se aplicam aos nacionais.
Diga-se que 90 por cento da população é estrangeira. Os trabalhadores migrantes, na sua maioria provenientes da Índia, Bangladesh ou Nepal, vivem em contextos condenáveis: salários baixos e condições de trabalho e de vida quase desumanas. Outra controvérsia é o facto da homossexualidade ser proibida no país. Manifestações de carinho em público, como beijos e abraços e independentemente de ser entre um homem e uma mulher, são iguamente proibidas e sujeitas a penas. As mulheres, essas, quase não têm direitos. Mas as mulheres da família real são poderosas e detém cargos importantes. A mãe do atual emir, a bonita Mozah bint Nasser, é uma das figuras de maior prestígio e com uma fortuna pessoal considerável. Caso para se dizer que há um peso e duas medidas, em função do berço em que se nasceu.