Gravatas, camisolas de marca e malas roubadas a passear pelo Parlamento! O esquema do deputado do Chega que foi apanhado pelas câmaras do aeroporto
Deputado açoriano Miguel Arruda terá sido filmado pelas câmaras dos aeroportos de Lisboa e Ponta Delgada com malas roubadas a turistas, que depois colocava no interior da sua, na casa de banho. Os bens furtados seriam depois vendidos numa plataforma de roupa em segunda mão. Perante a polémica, André Ventura encostou-o à parede.
"Amanhã como sabem há uma manifestação que o nosso presidente convocou no qual não há lados cinzentos. Ou estás com a polícia ou estás com os ladrões. No meu caso, e penso que vocês também, estou do lado da lei, do lado dos polícias, do lado da Justiça".
Quem visse este vídeo do deputado do Chega, Miguel Arruda, a apelar a que o povo se unisse em torno da manifestação a favor dos polícias não o levava preso. Com ar convicto, o homem que agora deixou o cargo na Assembleia da República depois de câmaras de vigilância no aeroporto o apanharem num alegado esquema de roubo de malas, o homem exigia a união contra os criminosos.
Com viagens constantes entre Ponta Delgada, de onde é natural, e Lisboa, para marcar presença no Parlamento, Arruda está a ser investigado desde novembro, altura em que começaram as denúncias de que estaria a roubar a mala de outros passageiros. Bem vestido e com naturalidade, aproximava-se do tapete rolante das bagagens e, num gesto mecânico, pegava na sua mala, grande, por sinal, e na que estava ao lado. Dirigia-se, depois, à casa de banho mais próxima, onde a sua bagagem como que 'engolia' a furtada. Quando deixava o WC, já só tinha uma mala e encaminhava-se sorridente para a saída do aeroporto.
Depois das muitas denúncias, foi como que apanhado em flagrante delito. Os investigadores que acompanham o caso estarão já na posse de várias imagens que mostram o deputado do Chega no seu modus operandi de roubo. No Parlamento, há quem se recorde, de facto, de ver Miguel Arruda sempre para trás e para a frente com uma mala de viagem grande.
Mas há mais. As malas furtadas seriam, claro, uma espécie de 'ovo kinder', que tanto podia conter objetos de valor, como algumas roupas de marca branca, que o deputado apenas poderia reencaminhar para a caridade. Mas nos dias de 'sorte', Miguel Arruda poderia ter à sua disposição um sem número de artigos de marca, que depois venderia na plataforma Vinted - um site de compra e venda de artigos em segunda mão. A revista 'Sábado' descobriu a conta de Miguel Arruda - entretanto eliminada - onde este já contava com mais de 180 vendas, e tenha mais 50 items prontos para serem comprados, entre gravatas, camisolas e vestidos. Lá havia peças de roupa de várias marcas, diferentes estilos, de homem de mulher, o que sugere que fosse um ponto em que o deputado venderia o material roubado.
O caso é agora investigado pelas autoridades, sendo que André Ventura como que encostou o deputado à parede, terminando com a desfiliação deste do Chega.
A reportagem da Sábado sugere ainda alguns dados relevantes sobre Miguel Arruda. Segundo a publicação, o passivo declarado à Entidade para a Transparência na Declaração Única de Rendimentos, Património, Interesses, Incompatibilidades e Impedimentos mostra que o deputado deve 3.632 euros à Cofidis, 14 mil euros e 1.921 euros ao BNP Paribas, 581 euros de Cartão Universo, 28 mil à Caixa Geral de Depósitos, entre outros.
A VASTA 'CADERNETA DE CROMOS' DO CHEGA
Com o resultado obtido nas últimas Legislativas, o Chega quadruplicou a presença no hemiciclo, contando com 48 deputados, face aos anteriores 12. Entre o grupo de caras do partido na Assembleia da República, há alguns nomes bem controversos, e associados a váias polémicas. Conheça algumas das histórias mais flagrantes.
MARCUS SANTOS
A eleição de Marcus Santos como deputado do Chega foi até notícia no Brasil, onde os principais meios de comunicação deram destaque ao facto de este cidadão brasileiro, apoiante de Jair Bolsonaro, ter chegado ao Parlamento. Nas redes sociais, os seus discursos extremistas e incendiários são uma constante. "Dia da visibilidade trans. Até uma criança consegue enxergar a diferença entre uma bela mulher para um homem com peruca e batom", escreveu numa ocasião, enquanto noutra afirmava que "A Europa é dos europeus e África dos africanos". Marcus terá chegado ao nosso País em 2009, sendo que a mulher e a filha são portuguesas. A sua chegada ao hemiciclo foi até felicitada por um dos filhos de Bolsonaro, Eduardo.
PEDRO PESSANHA
Licenciado em Gestão, Pedro Pessanha aparece como um dos nomes controversos entre os deputados do Chega. A polémica começou a fazer-se sentir nas redes sociais, quando em 2019 assinalou o 25 de Abril colocando no Facebook a foto de perfil de António Oliveira Salazar. Eleito pelo círculo de Lisboa, tem visto o seu nome associado a algumas controvérsias e até há uma queixa de violação a uma menor a ser investigada pelo Ministério Público. Há cerca de um ano, e depois de um casal ter acusado Pedro Pessanha de abuso sexual da suposta filha menor, a revista 'Sábado' confirmou a abertura de um inquérito ao caso por parte do Ministério Público. Apesar de toda a polémica, Pessanha garante estar inocente e avançou com uma queixa por difamação contra o casal, garantindo que as acusações são "hediondas".
"A informação que anda a circular não só é uma informação falsa e ridícula, mas é sobretudo nojenta e hedionda. Já apresentei queixa na PJ e segue agora para o Ministério Público. Serei implacável para com quem esteve na origem desta difamação sem sentido", explicou na altura Pessanha, que viu o caso despontar nas redes sociais, assumindo proporções gigantescas, com várias incongruências à mistura. O processo permanece nas mãos da Justiça.
JOÃO TILLY
Durante a pandemia, o seu nome andou nas bocas do mundo devido a algumas incongruências. Durante o pico da Covid-19, João Tilly foi um dos rostos mais visíveis do negacionismo, tendo publicado alguns textos no seu blogue em que justificava as suas convições. "Nunca na minha vida, mas nunca mesmo, eu me vacinaria ou vacinaria algum filho meu, se voltasse a ter mais algum. E por apenas um motivo: todos", escreveu, mas as convicções inabaláveis não durariam muito tempo para o deputado do Chega, cabeça de lista por Viseu. No dia 27 de julho de 2021, o professor de Matemática anunciou que tinha acabado de ser vacinado contra a Covid-19, com a vacina produzida pela Janssen. No Facebook, tem perto de 100 mil seguidores com os seus vídeos polémicos a serem muito partilhados.
RICARDO DIAS PINTO
O Chega afirma-se como um partido que promete revolucionar Portugal em vários assuntos-chave como a corrupção ou escândalos financeiros, mas alguns dos seus deputados, como Ricardo Dias Pinto, são conhecidos por terem visto o seu nome inscrito na lista Pública de Execuções por causa de uma dívida de 14.835,51 euros.
FILIPE MELO
Também Filipe Melo, deputado por Braga, viu o seu nome ir parar à Lista Pública de Execuções devido a três dívidas que não conseguiram ser cobradas, num total de 80 mil euros. No ano passado viu o salário pago pela Assembleia da República penhorado, por uma dívida de 15 mil euros a um colégio católico de Braga.
Além disso, o deputado eleito pelo círculo de Braga esteve ainda envolvido numa polémica ao escrever uma publicação no Facebook sobre Cibelli Pinheiro de Almeida, a então presidente da Mesa da Assembleia Distrital, de cariz xenófobo: "Não vai ser uma brasileira que vai mandar nos destinos de um partido nacionalista, patriótico. Nunca, não permitirei." Alertado, acabaria por substituir a palavra 'brasileira' por 'senhora'.