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O crime compensa? Shein, o gigante chinês da moda passa de bestial a besta em 6 meses, mas ainda faz tremer velhos negócios

Põe 6 mil novos produtos diariamente online, está avaliada em 65 mil milhões de dólares, gaba-se de ser o maior pesadelo da dona da Zara e, no entanto, acaba de sofrer um "ataque cardíaco". E tudo por causa de questões ambientais. Bem-vindos ao impressionante mundo Shein, a marca fast fashion que está a mudar a cara do comércio online mas que permanece um mistério.
Por Amarílis Borges | 20 de outubro de 2022 às 22:33
Shein Foto: Cofina Media

A gigante chinesa Shein (lê-se "she in") terminou o primeiro trimestre deste ano a fazer títulos como "a loja que ameaça a Inditex", "valorização ultrapassa Zara e H&M juntas", "a empresa chinesa a criar uma tempestade", entre outros que demonstravam o fenómeno que a marca se tornou em 14 anos graças à geração Z. Nem tudo deixou de ser verdade, mas em seis meses a gigante sofreu um choque que não esperava.

De acordo com o 'Finantial Times', a empresária de fast fashion perdeu um terço do seu valor depois de ter atingido uma avaliação de 100 mil milhões de dólares, cerca de 103 mil milhões de euros no câmbio atual. Embora os números da Shein sejam mantidos em segredos, três especialistas disseram àquele jornal que a empresa está agora avaliada em qualquer coisa entre 65 mil milhões de dólares e 85 mil milhões de dólares.

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Em abril, a empresa chinesa foi considerada a terceira mais valiosa do Mundo, atrás da dona do Tik Tok, ByteDance, e da SpaceX, de Elon Musk. Isso dois anos depois de ser avaliada em (apenas) 15 mil milhões de dólares. Dados que devem ter chamado a atenção da dona Zara, a Inditex.

Mas o que colocou um travão no crescimento da Shein? De acordo a 'Bloomberg', que também avaliou o tropeção da gigante, a culpa é da história de impacto ambiental e social da empresa. Para o espanhol 'Economia Digital', o recuo no valor da Shein reduziu a distância que a Inditex e a Fast Retailing, dona da Uniqlo, tiveram por alguns meses. A competição entre as três está cada vez mais acirrada.

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O QUE É QUE A SHEIN TEM?

A empresa de Chris Xu conseguiu chamar atenção no comércio online com o seu público alvo, a geração Z, nascidos entre 1990 e 2010 que é tão consumidor como qualquer geração mas procura as tendências nas redes sociais, e, nos últimos anos, principalmente, no Tik Tok. Enquanto a Zara e a H&M, por exemplo, se destacaram como fast fashion por renovarem os seus catálogos em cerca de um mês, a Shein aproveita as informações que consegue recolher das redes sociais para oferecer cerca de 6 mil produtos diariamente no site, com preços muito abaixo da média. Quando um cliente está à espera de uma encomenda em casa, outros catálogos já entraram e saíram da loja online.

Foi por causa da soma destas características que no início da pandemia da covid-19 a Shein faturou cerca de 10 mil milhões de dólares.

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A marca conta com mais de 250 milhões de seguidores nas redes sociais. Mas a relação daqueles utilizadores não passa só por "seguir". A Shein disponibiliza inscrições para qualquer influencer que queira promover os seus produtos, em troca de descontos, algo semelhante ao que a Amazon e outros gigantes também fazem.

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Com um catálogo incontável de roupas, têxteis de casa, produtos de beleza e maquilhagem, a marca também tem coleções de alguns designers convidados. Mas o que chama mesmo atenção são as imitações, principalmente das peças da Zara e da marca de coração de Kim Kardashian, a Skims. Outros nomes já denunciaram a marca por plágio, e os exemplos podem ser encontrados através da #sheinstolemydesign (shein roubou a minha criação).

As imitações têm feito muito das vendas da Shein. Uma equipa especializada em análise de dados varre as redes sociais à procura de tendências (e de inspirações para as imitações) e os modelos são enviados aos milhares de fabricantes que trabalham em colaboração com a marca. Os produtos chegam aos armazéns primeiro em pequenos lotes e depois em encomendas maiores, se assim os consumidores quiserem. A distribuição é feita por cerca de 10 mil trabalhadores e não é propriamente rápida em comparação com outros nomes do comércio online, mas a Shein já está a pensar mudar isso.

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De acordo com o 'Washington Post', o próximo passo da chinesa na sua expansão será criar três grandes centros de distribuição nos Estados Unidos, para tornar as entregas mais rápidas no seu maior mercado. Em vez de demorar cerca de 10 dias, vão passar a demorar três ou quatro.

O PROBLEMA AMBIENTAL E HUMANO

Alguém tem de pagar a conta da rapidez da oferta e dos preços abaixo dos valores de outras marcas. Em declarações ao 'UOL', a marca disse que "o código de conduta exige que os fabricantes atendam a regulações ambientais locais e a padrões laborais internacionais".

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Mas não é isso que diz um relatório da Public Eye. Investigadores desta ONG visitaram 17 fábricas que forneciam produtos à Shein e revelaram que os seus entrevistados estavam a fazer três turnos por dia, muitas vezes tendo apenas um dia de folga por mês. Uma violação da lei laboral chinesa, que estipula uma semana de 40 horas de trabalho.

E esta semana, outro escândalo está a assombrar a empresa. Um documentário do Canal 4 britânico, 'Untold: Inside the Shein Machine', assinado pela jornalista Iman Amrani, acusou a Shein de pagar aos funcionários das fábricas menos de um cêntimo por cada peça produzida. Uma jornalista conseguiu infiltrar-se numa das fornecedoras da empresa, na cidade de Guangzhou, e mostrou o ritmo acelerado do trabalho. Em outra fábrica, os funcionários recebem 4 mil yuans por mês (cerca de 560 euros, no câmbio atual) se atingirem a meta de 500 peças de roupas por dia - mas se houver erro de fabricação têm um corte de dois terços do valor diário.

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Em resposta à 'Business Insider', a empresa disse estar "extremamente preocupada" com as denúncias apresentadas pelo Canal 4, "que violariam o Código de Conduta acordado por todos os fornecedores da Shein". "Qualquer não-conformidade com este código é tratada rapidamente e encerraremos parcerias que não atendam aos nossos padrões. Solicitamos informações específicas do Canal 4 para que possamos investigar."

Se está a pensar nos cerca de seis mil modelos de roupas colocados à venda diariamente, já deve estar a imaginar o destino destas peças. Sim, com a transição da moda, a maior parte da roupa vai parar a um aterro sanitário. A má qualidade das peças de 'fast fashion' também acelera este fim. Segundo a 'The Week', devemos descartar mais de 134 milhões de toneladas de têxteis anualmente até 2030.

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A indústria da moda é a segunda maior nos níveis de consumo de água, ficando atrás apenas da agricultura, e representa cerca de 8% a 10% das emissões globais de carbono, notou ainda aquela revista. Apesar disso, a produção tende a aumentar em média 5% ao ano.

O público-alvo da Shein sabe disto e esta é uma das maiores críticas ao modelo de negócios da empresa. Na última segunda-feira, 17, a gigante chinesa lançou nos EUA uma plataforma de compra e venda de produtos em segunda mão, a Shein Exchange, já a pensar em aproveitar os terrenos da Vinted e do Marketplace (do Facebook). 

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A ativista Venetia La Manna defendeu no novo documentário sobre a Shein que "sem o compromisso de produzir menos, temos uma quantidade cada vez maior de roupas feitas a partir de combustíveis fósseis, feitas por pessoas que não estão a receber um ordenado justo, a deixar mais pessoas a sentirem-se vazias depois que o impacto da dopamina de uma nova compra esgota-se, e com as roupas a despejar microfibras nos nossos oceanos e hidrovias, a seguir para aterros sanitários e a poluir comunidades do sul, tudo para que os gananciosos CEO e altos executivos possam ganhar dinheiro rápido."

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